Influência de Bolsonaro despenca no Rio de Janeiro, seu berço político
Aliados do presidente ainda acreditam na sua capacidade de inventar um candidato a seu feitio para a eleição carioca, mas os números mostram que a tarefa será dificílima
Publicado 16/12/2019 12:21 | Editado 16/12/2019 13:27
A vigorosa perda de influência do presidente Jair Bolsonaro no município do Rio de Janeiro é um dos destaques da pesquisa Datafolha divulgada no final de semana. Uma conclusão simples a que se chega é de que o trator Bolsonaro que ajudou a eleger Wilson Witzel (PSC) ao governo do Estado do Rio de Janeiro – à época eram aliados – tem chances reduzidas de se repetir em 2020.
Muitos dos aliados do presidente ainda acreditam na sua capacidade de inventar um candidato a seu feitio para a eleição carioca, mas os números mostram que a tarefa será dificílima. A reprovação a Bolsonaro no Rio chega a 41% – cinco pontos acima da média brasileira. E a aprovação está em 29% – um ponto abaixo da taxa nacional. Os eleitores que disseram que rejeitariam um candidato a prefeito apoiado por Bolsonaro atingem 60% – contra 38% que afirmaram que votariam com certeza ou talvez votassem num nome apoiado pelo presidente.
Na eleição presidencial do ano passado, Bolsonaro recebeu 58% dos votos do eleitorado carioca no primeiro turno e 66% no segundo turno. Em pouco mais de um ano, o capital de Bolsonaro entre os cariocas foi reduzido em mais de um terço.
Sim, é preciso relativizar porque a pesquisa apenas mediu a capacidade de transferência de votos de Bolsonaro. Não se trata da sua própria candidatura no município. A leitura dos números, entretanto, permite a conclusão feita por um dos oposicionistas: o fenômeno Bolsonaro começou no Rio de Janeiro e esse termômetro mostra uma resiliência menor do que a esperada.
É fato que a pesquisa também informa que cabos eleitorais fortes como Lula, Witzel e até Edir Macedo não se saem numericamente melhores do que o presidente. O apoio do petista tiraria votos de um candidato para 61%, o do governador tiraria votos para 63% e o do bispo da Universal mais atrapalha do que ajuda para 82% dos eleitores.
No caso de Lula, especificamente, os números mostram uma recuperação de parte do prestígio. Dos entrevistados, 38% disseram que votariam ou poderiam votar em um nome apoiado pelo petista. A taxa é idêntica à de Bolsonaro. Ao se cotejar com a eleição presidencial de 2018, no entanto, percebe-se uma mudança de patamar. Fernando Haddad, o candidato de Lula no Rio, obteve apenas 13% dos votos no município, um quinto dos votos de Bolsonaro, ficando distante de Ciro Gomes, que conseguiu o segundo lugar com 19,5% dos votos.
Na disputa municipal em si, o número mais importante é o que mostra que, com os atuais pré-candidatos, um terço dos eleitores prefere votar em branco ou anular seu voto.
O empate técnico entre Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Freixo (PSOL) – 22% a 18% – e o fracasso do prefeito Marcelo Crivella (PRB) – com 8% – estabelecem um cenário confuso para o futuro. Ex-aliado de Lula, Paes buscará ser o candidato de Bolsonaro e Witzel? Atacará Freixo por sua provável aliança com o PT? O candidato do PSOL conseguirá romper o isolamento da esquerda?
Crivella, outro ex-aliado lulista, já se converteu ao bolsonarismo, mas, somando a rejeição do presidente com a de Edir Macedo, terá uma estrada curta pela frente? De qualquer modo, tem mais chances hoje de levar a prefeitura do Rio quem trouxer para si mais votos do centro – e há um espaço gigante de crescimento para um nome que contorne o descrédito do eleitorado com os atuais pré-candidatos.
Publicado originalmente no UOL