Trump ameaça atacar 52 alvos no Irã; Teerã e Bagdá respondem

Escalada retórica esquenta o clima político internacional, após ação dos Estados Unidos no Iraque considerado por Teerã como terrorismo.

Durante a madrugada, o presidente dos Estados Unidos ameaçou atacar 52 locais no Irã, “de forma muito rápida e dura”, incluindo locais de “muito alto nível e muito importantes para o Irã e para a cultura iraniana”. Os Estados Unidos, afirmou Donald Trump, “não querem mais ameaças.”

Foram escolhidos 52 alvos porque esse foi o número de prisioneiros na embaixada norte-americana em Teerã durante mais de um ano, no final de 1979, após a Revolução Islâmica que depôs o xá Reza Pahlavi, apoiado pelos Estados Unidos.

A reação veio de forma contundente. o primeiro-ministro do Iraque apoiou uma moção aprovada pelo Parlamento, em resposta ao assassínio do comandante iraniano Qassem Soleimani em seu território.

A moção exige a retirada das tropas norte-americanas, que ali estão desde 2003, quando George W. Bush ordenou a invasão do país. É a mais forte reação até agora depois do assassinato do general iraniano.

“Já não é necessária a presença de forças norte-americanas, depois da derrota do Daesh (Estado Islâmico”, afirmou o deputado Ammar al-Shibli, membro da comissão de leis do Parlamento iraquiano. “Temos as nossas próprias Forças Armadas, que são capazes de proteger o país”, afirmou.

Acordo nuclear

Do Irã veio a resposta a Trump, igualmente inflamada: “Como o Daesh, como Hitler, como Genghis [Khan]! Todos odeiam as culturas. Trump é um terrorista de fato e gravata. Todos perceberemos em breve que ninguém pode derrotar a Grande Nação e Cultura Iraniana”, declarou igualmente no Twitter o ministro da Informação e Telecomunicações de Teerã, Mohammad Javad Azari-Jahromi, citado pela Reuters.

Quatro dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas – Rússia, França, Reino Unido e China – alertaram para o inevitável aumento da instabilidade na região e pediram aos Estados Unidos e Irão que reduzam a tensão.

Josep Borrell, o chefe da diplomacia europeia, apelou também a uma redução das tensões no Médio Oriente, e pediu ao ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Javad Zarif, que “qualquer reação fosse cautelosamente ponderada”.

Convidou ainda Zarif a ir a Bruxelas, para discutir a situação no Médio Oriente e a forma de preservar o acordo nuclear – ​do qual Donald Trump retirou os Estados no ano passado, voltando a impor pesadas sanções econômicas ao Irã. Em resposta, Teerã retomou alguns passos na cadeia de produção de energia nuclear, que tinha abandonado após a assinatura do acordo, em 2015.

Próximo passo

Teerã anunciou ainda que este domingo vai decidir qual o próximo passo para se distanciar ainda mais do acordo nuclear. “Esta noite haverá uma reunião importante para tomar decisões sobre qual o passo seguinte em termos nucleares e a aplicação do acordo. Considerando as ameaças recentes(dos Estados Unidos), há que sublinhar que na política, todos os desenvolvimentos e ameaças se ligam entre si”, disse Abbas Mousavi, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, citado pela agência iraniana IRNA e pela Reuters.

O Irã já anteriormente tinha avisado os países europeus que assinaram o acordo nuclear de que diminuiria os seus compromissos, se não conseguissem proteger a economia iraniana das abrangentes sanções norte-americanas – que penalizam até empresas europeias ou de outros continentes que façam negócios com o Irão, impedindo-as de atividades empresariais com os Estados Unidos.

Em novembro, o Irã deu um prazo limite de 60 dias ao Reino Unido, França e Alemanha para tentarem salvar o acordo nuclear. Se não conseguissem, Teerã passaria a cumprir cada vez menos os compromissos assumidos no acordo nuclear de 2015.

As tensões também se elevaram com o ataque de um grupo que se diz hackers iranianos a um site governamental dos Estados Unidos. Trata-se do “Federal Depository Library Program” que disponibiliza publicações e conteúdos do governo federal norte-americano. Na guerra de informações que se estabeleceu em torno dos assassinatos no Iraque, a origem dessa ação fica sob suspeição.

Com agências