De Olho no Mundo, por Ana Prestes

Nesta segunda-feira, 27 de janeiro de 2020, o mundo relembrou os 75 anos da abertura dos portões de Auschwitz.

Entrada de trem de Auschwitz - Getty Images

A data foi marcada com uma cerimônia junto ao “Portão da Morte”, na Polônia, passagem por onde entravam os trens com presos do campo de extermínio de Auschwitz. Na localidade hoje está instalado o Museu Estatal Auschwitz-Birkenau. Participaram do evento mais de 200 sobreviventes de campos de concentração nazistas, assim como familiares de vítimas e dirigentes de associações judaicas ou de preservação da memória. Líderes de 50 países estiveram presentes. A cerimônia teve como pano de fundo o desentendimento entre a Polônia, Israel e a Rússia. Na semana passada, em evento alusivo ao fim do holocausto em Jerusalém, o presidente polaco, Andrezej Duda, se ausentou por não ter sido convidado para discursar, ao contrário do presidente Putin que foi convidado. A polêmica esquentou quando algumas semanas atrás Putin acusou Varsóvia de cumplicidade no início da II Guerra Mundial.

Enquanto isso, no Brasil, o presidente Bolsonaro, via twitter, ofendeu a memória das vítimas do nazismo ao dizer que o governo brasileiro “trabalha para combater o anti-semitismo que, muitas vezes, se esconde por trás do anti-sionismo”. Nunca é demais lembrar que sionismo é um movimento político da direita de Israel que hostiliza, ocupa as terras e oprime o povo palestino.

Por falar em opressão ao povo paletino, o presidente dos EUA, D. Trump está em vias de divulgar seu “Plano de Paz” para o Oriente Médio. O anúncio pode ocorrer nas próximas horas. Ontem (27) ele recebeu o premiê israelense Benjamin Netanyahu. Ele também se reuniu com Benny Gantz. Ao dizer que o plano é histórico, Netanyahu afirmou que Trump é o melhor amigo que Israel já teve. A fala foi feita em plena campanha de Netanyahu visto que Israel passará por novas eleições em 2 de março. O propalado plano, que agride ainda mais o povo palestino por incluir a anexação do Vale do Jordão a Israel e reconhecer Jerusalém como única capital de Israel, foi preparado pelo genro e assessor de Trump Jared Kushner. O anúncio do plano pode levar à saída da Palestina do acordo de Oslo, de 1995, que dividiu a Cisjordânia em três, assim como o relançamento dos partidos e movimentos paletinos em um novo estágio de luta contra a ocupação sionista.

Enquanto anuncia seu plano para Israel, Trump enfrenta novidades no processo de impeachment que corre no Senado. Novas revelações trazidas pelo anterior conselheiro de segurança da Casa Branca, John Bolton, atiçaram os ânimos no Congresso estadunidense. A imprensa americana divulga que pelo menos quatro senadores republicanos votem para convocar Bolton para depor no julgamento, o que daria aos democratas os votos necessários para trazê-lo. A possível convocação pode acabar com a expectativa dos republicanos de fazer um julgamento expresso, sem testemunhas ou novas evidências. As notas de Bolton, que constam de um manuscrito de um livro não publicado, foram reveladas pelo NYT. Nelas, o ex-conselheiro relata que Trump pretendia congelar o auxilio de segurança do EUA à Ucrânia até Kiev ajudar nas investigações contra democratas, incluindo os Biden, pai e filho.

Já estou na quinta nota do dia e ainda não consegui sair dos EUA, ocorre que o cenário no país imperialista passa por definições importantes e que impactam em todo o mundo. Outro tema relevante é o das prévias ou primárias dos partidos que se preparam para a disputa presidencial de novembro. Entre os democratas há pontos interessantes a serem notados. Os últimos números apontam para uma maior polarização entre os pré-candidatos Biden e Sanders, com E. Warren desidratando bastante se consideradas suas possibilidades ao final de 2019. Nas casas de apostas Biden ainda é o favorito, mas quase empatado com Sanders, vindo atrás Warren e Bloomberg. Dentro de uma semana serão computados os votos em Iowa, os primeiros votos na maratona das primárias. Depois de Iowa vem New Hampshire. Nos dois estados Sanders lidera pelas sondagens.

Na Itália, as eleições regionais ocorridas no final de semana trouxeram alívio para a atual coalizão que governa o país (PD e M5Estrelas) e uma derrota parcial para o líder ultraconservador e xenófobo Salvini. Dias antes da eleição, que ocorreu na Emilia Romagna e Calábria, Salvini havia avisado que se seu partido (Liga) ganhasse a primeira medida ser exigir novas eleições legislativas antecipadas. Seu candidato ganhou na Calábria, mas sua candidata perdeu na Emilia Romagna que é a segunda região mais rica da Itália. O movimento “Sardinhas” foi determinante para a derrota de Salvini. Nascido há dois meses, com muita irreverência, o movimento está centrado em mobilizações para conter o avanço da extrema-direita e na demonstração de que o apoio a Salvini é “fake” ou fabricado por falsas impressões dadas nas redes sociais.

Coronavírus, além de devastar a vida de mais de uma centena de pessoas e infectar mais de quatro mil neste momento, está provocando muita tensão na China, na Organização Mundial de Saúde e na economia global. A ameaça de uma epidemia global é real e a OMS reviu seu alerta para risco “muito alto” na China e risco “alto” no resto do mundo. No dia de hoje (28), o governo chinês anunciou o envio de 6000 médicos para Wuhan, epicentro da crise, além de estender o feriado de ano novo e adiar retomada do funcionamento de empresas, escolas e até da bolsa de valores. Wuhan concentra várias montadoras de carros das maiores empresas de automóveis do mundo. Toda a produção está parada.

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