Homenagens a Augusto Buonicore

Em depoimentos, amigos, camaradas e personalidades do campo progressista lembram, alguns pelas redes sociais, da convivência com ele e das suas notórias qualidades.

O falecimento de Augusto Buonicore, membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e da direção da Fundação Maurício Grabois, ocorrido na quarta-feira (11), foi fortemente sentido por seus companheiros, camaradas e amigos. Intelectual respeitado, com grande e profícua produção, passou também pelos movimentos estudantil e sindical.

Sempre transformando fatos da história em luzes para a compreensão de diferentes realidades, Buonicore deixou uma obra vasta. Sua produção abrange livros, artigos, palestras e entrevistas, além de um gigantesco acervo da história do pensamento marxista e progressista que, sob a sua coordenação, foi organizado pelo Centro de Documentação e Memória (CDM) da Fundação Maurício Grabois.

Livros de Augusto Buonicore (o último, uma coletânea de artigos organizada com José Carlos Ruy)

Sua esposa, a professora Sônia Regina de Oliveira, fala que ele estava convicto do valor da batalha de ideias, da importância de se elaborar textos densos e acessíveis a compreensão do público, sobretudo a juventude. E destaca seu vínculo com o PCdoB, para ele indispensável ao processo transformador.

Artigo no Portal Grabois

Em nota, Luciana Santos – presidenta do PCdoB – e Renato Rabelo – presidente da Fundação Maurício Grabois – dizem que Buonicore “era reverenciado pelo rigor com que tratava suas pesquisas e, também, por ter sido um camarada de dedicação a toda prova às causas do povo, sempre modesto e fraterno”. “Criador e difusor de ideias avançadas, foi um incansável batalhador pelo desenvolvimento da nova luta pelo socialismo. Seu legado certamente muito contribuirá para o desdobramento desse processo”, comentam.

Marcio Pochmann, professor, doutor em economia e pesquisador da Unicamp, ex-candidato a prefeito de Campinas pelo Partido dos Trabalhadores (PT), lembra que Buonicore nunca se afastou de suas atribuições, nem nos momentos mais difíceis.  “Toda ciência seria supérflua se houvesse coincidência entre a aparência e a essência das coisas, conforme Karl Marx, em pleno século XIX, que o companheiro Augusto Buonicore resgatou e viveu como poucos em sua trajetória de historiador comprometido com a situação e luta dos oprimidos por uma sociedade melhor”, afirma.

E conclui: “Rendemos sincera homenagem ao intelectual engajado que mesmo nos momentos mais difíceis de sua batalha pela vida, jamais se afastou da essência das atribuições, descomprometidas da superficialidade das aparências humanas. O país simplesmente perdeu um grande brasileiro.”

Renato Rabelo, ao dar adeus a Buonicore no seu sepultamento, disse que ele deixa uma grande lacuna. “Será preciso três ou quatro companheiros, dividindo tarefas, para começar a reparar essa lacuna”, afirmou. Mas é preciso transformar a tristeza em força, em exemplo, complementa.  

Renato Rabelo (esquerda) na despedida de Augusto Buonicore. Foto: Henrique Brazão
Artigo no Portal Grabois

Valéri Arcary, professor acadêmico e membro do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), lembra que ele e Buonicore eram “filhos da tradição da Revolução de Outubro”. “Éramos da mesma geração. Augusto me enviava regularmente seus artigos e ensaios. Mesmo quando estávamos distantes, no terreno da tática política, ele me fazia sentir bem próximo. Era muito gentil no trato pessoal. Uma qualidade maravilhosa”, destaca.

Walter Sorrentino, vice-presidente do PCdoB, afirma que a luta fez de Buonicore um dos maiores intelectuais marxistas da esquerda brasileira, “sem nenhum exagero”. “Ele marcou indelevelmente a literatura, a história política revolucionária”, destaca, complementando que Buonicore sempre foi uma pessoa muito especial, um aguerrido ativista das lutas do povo.  

Ivana Jinkings, da editora Boitempo, afirma que Buonicore “destacava-se no estudo da história e da teoria marxistas”. “A Boitempo tinha a honra de poder contar com ele como integrante do conselho, um dos nossos projetos editoriais mais importantes, a coleção Arsenal Lênin”, registra.

Para Adalberto Monteiro, secretário de Comunicação do PCdoB e ex-presidente da Fundação Maurício Grabois, “Buonicore tinha uma caraterística especial, por ser, além de acadêmico, um militante das ideias”. “Ele produzia e disseminava conhecimento com grande capacidade”, avalia. “Como presidente do CDM, teve sempre em conta a importância do resgate da história para transformá-la em conhecimento sobre o presente”, completa.

Com Armênio Guedes, histórico comunista, e Adalberto Monteiro

Gianni Fresu, acadêmico italiano e professor na Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, diz que Buonicore foi “uma figura humana e intelectual excepcional, que conheci desde quando cheguei aqui no Brasil e com a qual colaborei constantemente nesses anos”. “Uma pessoa linda, um lutador, um comunista de grandes visões e capacidades analíticas”, destaca.

Nereide Saviani, diretora da Escola Nacional João Amazonas e de Formação da Fundação Maurício Grabois, comenta a dedicação ao estudo de Buonicore desde a sua juventude. “Minha convivência com Augusto Buonicore foi muito forte. Desde finais da década de 1980, quando passei a atuar na Frente de Formação no PCdoB, muito aprendi com aquele jovem entusiasmado, que já escrevia e ensinava sobre história do Brasil e história do PCdoB, numa perspectiva marxista”, comenta.

Ela fala também da sua convivência com Buonicore nas instâncias de formação teórica e política do PCdoB. “Foi na Comissão Estadual de Formação, em São Paulo, que o conheci mais de perto, na elaboração e docência de cursos para militantes de base e dirigentes de base. A partir de 2003, tive a ventura de tê-lo, lado a lado, na concepção e direção da Escola Nacional João Amazonas, ele coordenando o Núcleo de Ensino e Pesquisa Estado e Classes Sociais”, relata.

Duarte Pacheco Pereira, um dos principais líderes da Ação Popular (AP) e intelectual marxista, afirma que Buonicore foi um dos quadros intelectuais mais competentes do PCdoB, “operoso e amplo”. “Além do respeito intelectual, tinha uma afeição sincera por ele”, registra.

Haroldo Lima, integrante do Comitê Central do PCdoB, diz que “Buonicore guardava marcas da melhor tradição dos intelectuais marxistas – o esforço pela investigação objetiva dos fatos, pelo reexame crítico pioneiro de fenômenos passados, pela análise da história, rigor nos métodos e defesa  dos princípios”. “Perde o nosso Partido, perde o Brasil”, enfatiza.

João Quartim de Moraes, professor acadêmico e membro do Comitê Central do PCdoB, destaca a produção intelectual de Buonicore até o limite da sua vida. “Augusto lutou bravamente, sem nunca perder a serenidade, a energia intelectual e a visão generosa dos humanos e do mundo”, comenta. “Tivemos todos forte esperança de que conseguiria empurrar a morte para longe. Ele próprio expressava confiança no melhor desfecho”, enfatiza.

Quartim de Moraes complementa que, “enquanto lhe foi possível, prosseguiu sua produção intelectual, notadamente, como bem expressou um amigo e companheiro, a ‘divulgação de alta qualidade de teorias, problemas e experiências do movimento comunista’”. “É um precioso legado que devemos preservar e difundir, pensando sobretudo nos mais jovens”, conclui.

Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB, diz que Buonicore foi “uma pessoa estudiosa, um intelectual orgânico da classe” trabalhadora. “Conheci o Augusto nos anos 1980, quando o movimento sindical retomava seu protagonismo no cenário brasileiro. Ele despontava como liderança dos servidores públicos de Campinas, no interior de São Paulo. Já na época, não era um simples ativista. Era uma pessoa estudiosa, um intelectual orgânico da classe”, afirma.

E lembrou que Buonicore ajudou a construir o Centro de Estudos Sindicais (CES). “Ministrou vários cursos sobre história do sindicalismo, concepções sindicais, mundo do trabalho; deu inúmeras palestras; e escreveu textos memoráveis para a revista Debate Sindical. Ele ganhou respeito de lideranças de várias correntes por seu rigor no estudo e por sua amplitude e generosidade. Tornou-se uma referência intelectual nas esquerdas – que agora, através de vários e emocionantes depoimentos, lamentam sua morte. Perdemos uma grande figura humana, um revolucionário, um intelectual orgânico da classe”, conclui.

Artigo na revista Debate Sindical

Aloisio Sérgio Barroso, doutor em economia pela Unicamp, diretor da Fundação Maurício Grabois e membro do Comitê Central do PCdoB, destaca que Buonicore foi “um comunista convicto como poucos”. “Era um prático em vasculhar a teoria social mais avançada desde a emergência do capitalismo. Pessoalmente, flagrei-o várias vezes driblando o pessimismo contemporâneo com risadas – muitas bem nervosas”, rememora.

Para Barroso, “sua ausência desafiará a elegia de agora, a um belo exemplo de honra à militância comunista”. “Testemunho, nos meus mais de 40 anos de militância no PCdoB, uma tipologia de cacoete entre nós: elogios e deferências são preconcebidos como uma desconfiança invasiva dum futuro descompromissado de uma causa supostamente vitalícia. Desfaz-se, além, a construção da vivência”, comenta.

E complementa: “Augusto César Buonicore, que acaba de nos deixar, talvez tenha conseguido escapar desse tribunal ideológico, digamos. Por sua dedicação incansável, visível (indisfarçável) ao trabalho de intelectual marxista. Seus três alentados estudos, publicados em livros, servem como provas concretas do que ele me escreveu, em dedicatória, no “Linhas vermelhas: marxismo e os dilemas da Revolução”:

“Ao Camarada Barroso: Sem teoria revolucionária não há prática revolucionária! Mas, a prática revolucionária também contribui para o desenvolvimento da teoria! Viva o marxismo-leninismo! Viva a luta dos trabalhadores!”

Texto sobre Lênin, em coletânea de pensadores marxistas

Osvaldo Bertolino, jornalista, escritor e historiador, afirma que a longa convivência com Buonicore criou um laço fraterno. “Estávamos sempre trocando informações, buscando elucidar questões da história, do pensamento marxista e progressista. Eu era editor do Portal Grabois e ele presidente do CDM da Fundação Maurício Grabois. Conseguimos disponibilizar, com a ajuda inestimável de companheiros valorosos como Fernando Garcia e Felipe Spadari, praticamente todo o acervo do CDM digitalmente”, comenta.

Entrevistando dona Maria Prestes (de costas, a filha de Prestes, Mariana; na Câmera, Felipe Spadari. Foto: Fernando Garcia

E complementa: “Também fomos companheiros na publicação de livros, e em entrevistas e palestras. Pela longa convivência com esse querido amigo e camarada, seu falecimento me trouxe imensa tristeza, um sentimento de perda irreparável. Conheci Augusto nos anos 1980, como colaborar da revista Debate Sindical e do CES, dirigidos por Altamiro Borges.”

Artigo na revista Debate Sindical

Madalena Guasco, diretora da faculdade de educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), integrante do Comitê Central do PCdoB e professora de filosofia da Escola Nacional João Amazonas, comenta que Buonicore foi “um historiador que fez da ciência histórica um instrumento de luta pelo resgate científico e criterioso da memória e da luta do movimento progressista e revolucionário no mundo e no Brasil”.

Diorge Konrad, professor do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul (UFSM), doutor em História Social do Trabalho pela Unicamp e membro do Comitê Estadual do PCdoB-RS, afirma que Buonicore foi um “historiador notável sobre os comunistas e do movimento operário no Brasil”, além de ter sido um “marxista e pesquisador incansável”.

Augusto Petta, professor e histórico dirigente sindical, coordenador-técnico do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES), afirma que Buonicore “contribuiu muito para que os(as) trabalhadores (as) possam conhecer a história das lutas rumo a uma sociedade justa e solidária”. “Além de historiador, Augusto foi uma figura humana exemplar: sereno, solidário, sabia dialogar respeitando as opiniões divergentes, inteligente, comunicativo”, destaca.

Gustavo Petta, vereador da cidade Campinas (PCdoB), diz que Buonicore “foi e é uma referência política, moral e ideológica para muitas pessoas”. “Ajudou na formação de muitas gerações de comunistas e progressistas. Cresci admirando seu conhecimento como historiador, sua coerência política e principalmente sua postura de homem culto e simples. Fica seu legado, seu exemplo e sua enorme contribuição no campo político e teórico para todos que sonham e lutam por uma sociedade mais justa”, enfatiza.

Joan Edesson de Oliveira, educador e mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará, diz que Buonicore “estava sempre em busca de conhecer mais, e contagiava a todos que conviviam com ele a fazer as mesmas buscas”. “Fico lhe devendo muito. Fico devendo por tudo que aprendi com ele, e não foi pouco. Fico devendo pela confiança que depositava em mim. A sua generosidade era tanta que punha fé em uma capacidade que eu próprio achava que não tinha, que era por conta dele, que valorizava tanto o outro”, afirma.

Ricardo Antunes Antunes, professor da Unicamp, comenta que Buonicore “sempre foi uma figura tranquila”. “Tinha suas concepções comunistas firmes e sempre as defendeu, respeitando sempre a pluralidade socialista e o bom debate. Sua dissertação, publicada em livro, tornou-se uma contribuição à história da organização da classe trabalhadora no Brasil”, lembra.

Armando Boito, professor de Ciência Política da Unicamp, diz que conhecera Buonicore  na Unicamp no início dos anos 1990. “Quando nos víamos era sempre um encontro afetuoso”, rememora. Marly Vianna, historiadora e pesquisadora acadêmica, também registrou sua tristeza com o falecimento de Buonicore.

Autor