Sem poder trabalhar, camelôs estão sem apoio da prefeitura em SP

Da mesma forma que os trabalhadores ambulantes, os pequenos comerciantes nas periferias também estão enfrentando dificuldades com a falta de medidas de apoio dos governos.

(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Após quatro dias da decretação de quarentena na capital paulista devido à pandemia de coronavírus, trabalhadores ambulantes estão desesperados com a falta de apoio do prefeito Bruno Covas (PSDB). O decreto vale até 7 de abril, mas pode ser prorrogado. Nenhuma medida para auxiliar os camelôs foi anunciada pela prefeitura e eles dizem não saber como vão se manter sem a única fonte de renda. Mesmo com medo da contaminação pelo coronavírus, alguns cogitam voltar às ruas se não houver medidas de apoio à sobrevivência.

“Suspendeu nosso trabalho, mas não suspendeu as nossas contas. Aluguel, água, luz, alimentação, remédios. A gente trabalha de dia para comer a noite. O prefeito baixou o decreto e nos deixou ao Deus-dará”, disse Margarida Veras, de 58 anos. Covas autorizou a apreensão dos produtos e a suspensão dos Termos de Permissão de Uso (TPU) – documento que autoriza o trabalho ambulante – de quem desrespeitar o decreto. A capital paulista tem cerca de 150 mil camelôs, mas apenas 2 mil com TPU. Segundo dona Margarida, a prefeitura também não suspendeu a cobrança trimestral da licença do TPU, atualmente em R$ 840.

“Fizemos uma reunião do Fórum dos Ambulantes e milhares de trabalhadores estão sem poder trabalhar. Estão passando necessidade. Se não houver um apoio emergencial do poder público, as pessoas vão passar fome”, explicou o advogado Benedito Roberto Barbosa. Os camelôs estão gravando vídeos contando sua situação e apelando que o governo Covas efetive algum auxílio aos trabalhadores. Uma esperança surgiu com a aprovação da renda básica, na Câmara, na noite de ontem (26), que pode pagar uma ajuda de até R$ 1.200 a trabalhadores informais e outros grupos vulneráveis durante a pandemia.

Da mesma forma que os trabalhadores ambulantes, os pequenos comerciantes nas periferias também estão enfrentando dificuldades com a falta de medidas de apoio dos governos. “A gente ouve falar que o governo vai ajudar, mas, na verdade, nenhuma ajuda nunca chega aqui”, diz Luiz*, que tem uma pequena loja de utilidades domésticas no Grajaú, extremo sul da capital paulista. Com a decretação de quarentena devido à epidemia de coronavírus, ele fez “alguns malabarismos” para manter o pequeno comércio que mantém a família de seis pessoas, mais oito funcionários.

“Eu tô funcionando assim”, diz Luiz, apontando as portas baixas, mas com cerca de 60 centímetros de abertura. “Se o cliente encosta, um funcionário sai e vai ver o que ele precisa. Aí volta e separa, leva a maquininha até o carro. E pronto, o cliente não precisa nem sair do carro”, explica. Ele também disponibilizou o número pessoal para as pessoas fazerem os pedidos pelo WhatsApp e depois só passarem para pegar. “É tipo um drive thru de coisas para casa”, brinca.

A situação de Luiz é comum em outros bairros da capital. Cartazes com números para contato via WhatsApp e portas entreabertas estão por toda parte. Pequenos comerciantes, sem condições para acessar benefícios governamentais e financiamentos especiais, estão preocupados com os impactos da epidemia de coronavírus no país, em especial na cidade de São Paulo, que concentra o maior número de casos e mortes. O Brasil tem 3.417 casos confirmados de infecção por coronavírus, com 92 mortes.

Fonte: Rede Brasil Atual