Bancos estão atrapalhando país, diz presidente da Abimaq

Segundo José Velloso, spread cobrado por bancos tem encarecido linha de crédito emergencial para pequenas e médias empresas. Instituições também estariam dificultando acesso ao dinheiro.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinou R$ 5 bilhões para uma linha de crédito para micro, pequenas e médias empresas por meio dos bancos parceiros. No entanto, segundo matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, as empresas têm reclamados dos altos custos e das exigências impostas pelos bancos privados para dar acesso a essas linhas.

“O custo desse dinheiro é 6% TLP, a taxa de longo prazo, que é onde o BNDES remunera o FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador], mais 1,25% de spread do BNDES e mais o spread do banco repassador, que pode fazer o spread que quiser”, disse José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Segundo Velloso, é o spread cobrado pelos bancos parceiros que tem encarecido a linha de crédito. “Pegamos casos em que os bancos estão cobrando 8%”. Velloso afirma que esse foi o caso mais caro, mas que a média do custo da linha de crédito está entre 12% a 15% ao ano, somando a TLP e os spreads cobrados pelo BNDES e pelos bancos privados.

Um ex-executivo do BNDES afirmou ao jornal que um spread de 8% é muito violento e que o banco público deveria ter imposto um limite para os bancos privados. Ele afirma que as taxas finais inviabilizam a linha, que não teria interessados.


Segundo ele, os R$ 5 bilhões disponibilizados também seriam um valor irrisório. Ele usa como exemplo o cartão de crédito do BNDES voltado para pequenas empresas no início da década de 2010, que girava um valor de R$ 11 bilhões por ano.

“A gente acha que uma linha com esse custo não é uma linha emergencial. A gente entende que linha emergencial é uma linha para alguém que tá sofrendo, que é o infeliz que tá com a fábrica parada”, diz José Velloso. Ele diz ainda que os bancos privados estão “dificultando tremendamente” a análise de crédito das empresas.

“Os bancos estão atrapalhando o país. O governo e o BNDES tiveram boa vontade, colocando R$ 5 bilhões nessa linha, mas os bancos estão prejudicando de uma forma geral”, afirma ele.

“A gente constata que nos últimos sete anos os bancos tiveram recorde de lucro e a crise só aumentou. Do jeito que está nessa época da pandemia, é provável que os bancos privados apresentem mais uma rodada de recorde de lucro”, acrescentou.

Outros anúncios do BNDES englobam outros R$ 30 bilhões, que serão usados para a suspensão temporária de pagamentos de parcelas de financiamento, que serão jogadas para o final do contrato.
Desse montante, R$ 19 bilhões para empréstimos feitos diretamente com o BNDES e outros R$ 11 bilhões para bancos privados.

“É uma boa medida, estava entre as sugestões que já tínhamos feito ao governo, mas não é dinheiro novo. É dinheiro que eu já peguei no passado e que simplesmente estão me dando uma folga no pagamento”, afirma Velloso.

O benefício só está previsto para empresas que não tenham conseguido os empréstimos com a chamada equalização do Tesouro Nacional, uma espécie de subsídio geralmente usado para financiamentos agrícolas. Segundo Velloso, com essa limitação, o benefício vai deixar de fora empresas que fizeram o financiamento entre 2009 e 2016.

Procurado, o BNDES afirmou que, para promover a competição e a transparência das taxas cobradas do tomador final, criou uma página com tabelas que mostram a taxa média cobrada em cada estado e de cada perfil de empresas. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) diz que os bancos continuarão agindo com foco para que o crédito seja dado nas mãos das pessoas físicas e das empresas. Diz ainda que os bancos receberam e estão processando mais de dois milhões de pedidos de renegociação de dívidas.

Fonte: Folha de S.Paulo