Áudio revela trama de Onyx e Osmar Terra contra Mandetta

Conversa de ambos deixa claro que a saída de Mandetta continua a ser aventada no entorno do presidente

O novo ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, cumprimenta durante o deputado Federal, Osmar Terra, durante a cerimônia de transmissão dos cargos de ministros da Casa Civil e da Cidadania

Sem saber que estavam sendo gravados, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, e o deputado federal bolsonarista Osmar Terra conversaram nesta quinta-feira (9) sobre a substituição do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Os dois tramavam um golpe para derrubar o ministro e relaxar a política do ministério de enfrentamento ao coronavírus. 

A reportagem da CNN ouviu a conversa após ter telefonado às 8h33 para Terra. O ministro atendeu ao telefonema, nada falou e não desligou – o que possibilitou que o diálogo de pouco mais de 14 minutos fosse ouvido. No trecho inicial da conversa, Terra defende uma mudança irresponsável na política do governo.

“Tem que ter uma política que substitua a política de quarentena. Ibaneis (Rocha, governador do Distrito Federal) é emblemático. Se Brasília começa a abrir… (Mas) ele está com um pouco de receio. Qualquer coisa que fala em aumentar…”, disse, fazendo uma analogia de como as pessoas estão, mesmo com a restrição, saindo às ruas: “Supermercado virou shopping”. Para Terra, a política do atual ministério da Saúde “não está protegendo o grupo de risco” e que uma ideia é estabelecer uma política especial para os municípios onde há asilos.

Ambos fazem ainda projeções sobre número de mortos no Brasil pela Covid-19. Onyx estima que deve chegar a 4 mil mortos. Terra diz achar que fica “entre 3 e 4 mil. Vai morrer menos gente de coronavírus do que da gripe sazonal”. Ela cita São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza como os locais onde deve estar concentrada a restrição de circulação de pessoas.

Ambos começam, então, a falar mais especificamente de Mandetta. É nesse trecho da conversa que o ministro e o deputado parecem conspirar para que Bolsonaro acelera a demissão de Mandetta e a nomeação de Terra.

Onyx: “Eu acho que esse contraponto que tu tá fazendo…”

Terra: “É complicado mexer no governo por que ele tá…”

Onyx: “Ele (Mandetta) não tem compromisso com nada que o Bolsonaro está fazendo.”

Terra: “E ele (Mandetta) se acha.”

Onyx: “Eu acho que (Bolsonaro) deveria ter arcado (com as consequências de uma demissão)…”

Terra: “O ideal era o Mandetta se adaptar ao discurso do Bolsonaro.”

Onyx: “Uma coisa como o discurso da quarentena permite tudo. Se eu estivesse na cadeira (de Bolsonaro)… O que aconteceu na reunião eu não teria segurado, eu teria cortado a cabeça dele…”

Terra: “Você viu a fala dele depois?”

Onyx: “Ali para mim foi a pá de cal. Eu já não falo com ele (Mandetta) há dois meses. Aí acho que é xadrez. Se ele sai, vai acabar indo para a secretaria do Doria [João Doria, governador de São Paulo].”

Terra: “Eu ajudo, Onyx. E não precisa ser eu o ministro, tem mais gente que pode ser.”

Onyx é do DEM, mesmo partido de Mandetta. Ele começou o governo como ministro da Casa Civil, mas neste ano acabou sendo deslocado para a Cidadania. É, porém, um dos aliados mais fiéis do presidente. Foi ele que desde o início se entusiasmou com o projeto político de Bolsonaro. Em 2018, promoveu reuniões com parlamentares para coletar apoios ao então candidato.

O ministro é muito próximo aos filhos do presidente – o senador Flávio, o deputado federal Eduardo e Carlos, vereador pelo Rio de Janeiro. Também é próximo ao ministro da Educação, Abraham Weintraub. É próximo, portanto, ao que se convencionou chama “ala ideológica” do governo – um núcleo que nos últimos meses foi perdendo espaço para os militares, mas que manteve grande influência com o presidente e com sua militância nas redes sociais. 

Já Terra é deputado federal pelo MDB e deixou o ministério da Cidadania após algumas queixas do Palácio do Planalto – mas principalmente para que Bolsonaro pudesse abrigar Onyx, a quem tem uma grande dívida por ter sido dos primeiros a acreditar e a se empenhar no seu projeto presidencial. Ambos têm um projeto político conjunto no Rio Grande do Sul. A ideia predominante é que Terra seja o candidato ao governo gaúcho em 2022.

O contexto político ajuda a explicar também porque Terra se aproximou do Planalto nesta crise do coronavírus. Seu discurso é alinhado ao que Bolsonaro tem defendido: flexibilização do isolamento, foco das políticas nos grupos de risco e investimento na hidroxicloroquina. Mas o que a conversa de ambos deixa claro é que a saída de Mandetta continua a ser aventada no entorno do presidente.

Com informações da CNN

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