Egito preparado para intervir na Líbia

A interminável guerra na Líbia, desencadeada há quase uma década pela agressão imperialista de 2011 e continuada ao longo de anos por diversas ingerências estrangeiras, pode agravar-se ainda mais com a intervenção militar do Egito. Por Carlos Lopes Pereira

Membros do parlamento egípcio aprovaram na segunda-feira (20) o possível envio de tropas na Líbia para apoiar Khalifa Haftar, se forças rivais apoiadas pela Turquia recapturarem Sirte / Foto: AFP

Reunidos no Cairo, no início desta semana, os deputados egípcios autorizaram uma possível intervenção militar na Líbia se as forças do governo de Trípoli, apoiadas pela Turquia, prosseguirem o seu avanço para Leste. O parlamento aprovou por unanimidade o envio “de elementos do exército do Egito em missões de combate no exterior das fronteiras do Estado egípcio, para defender a segurança nacional egípcia”.

A votação, à porta fechada, teve lugar uns dias depois do presidente Abdel Fatah al-Sisi ter declarado que o Egito não permaneceria “passivo” no conflito líbio face a uma “ameaça direta” à sua segurança nacional. E especificou que protegeria a “soberania líbia” em caso de um novo ataque do Governo de Acordo Nacional (GAN) e seus aliados turcos contra a cidade portuária de Syrte, considerada a porta de entrada para os principais terminais petrolíferos líbios.

O mais importante jornal egípcio, Ahram, na sua edição on line, informou que os parlamentares reclamaram ações conjuntas “entre as duas pátrias irmãs” (Egito e Líbia) para derrotar o “ocupante” (Turquia).

Na semana passada, num contexto de escalada das ingerências externas na Líbia, o parlamento líbio, com sede em Tobruk, no Leste do país, apelou ao Egito, país vizinho, a intervir em solo líbio para contrariar o auxílio militar da Turquia ao GAN, com base em Trípoli e reconhecido pelas Nações Unidas, auxílio esse que os parlamentares líbios qualificam de “invasão” e “ocupação turca”.

Em outra iniciativa aparentemente visando justificar uma possível intervenção do Egito na Líbia, chefes de tribos líbias viajaram ao Cairo e “autorizaram” al-Sisi e o exército egípcio a entrar na Líbia. Nessa ocasião, o presidente egípcio afirmou que o seu país está interessado em apoiar a “livre vontade” do povo líbio, a fim de lograr “um futuro melhor para as gerações futuras”.

Na véspera, al-Sisi e o presidente francês, Emmanuel Macron, mantiveram uma conversa telefónica em que coincidiram na necessidade de parar “as intervenções estrangeiras que utilizam milícias armadas e organizações terroristas para conseguir os seus propósitos à custa da estabilidade na Líbia e da segurança regional”.

A reação de Ancara a estas movimentações surgiu do presidente turco Recep Erdogan, que voltou a acusar o Egito e os Emirados Árabes Unidos de já estarem a intervir em solo líbio ao lado das forças armadas do Leste. O dirigente turco reafirmou o seu apoio ao GAN e classificou de “ilegais” as medidas adotadas pelo Egito.

No seguimento da destruição da Líbia como Estado unitário, pela intervenção militar dos Estados Unidos e de outros países da Otan, o país norte-africano está dividido em dois – a região do Oeste, “governada” pelo GAN, de Fayez al-Sarraj, e a zona Leste, dirigida pelo Parlamento de Tobruk, ligado às forças de Khalifa Haftar, que controlam a maior parte dos campos petrolíferos líbios.

O Egito, com 100 milhões de habitantes, possui um dos mais poderosos exércitos do mundo árabe e da África, pelo que uma sua intervenção militar direta na Líbia poderia agravar a situação em toda a região norte-africana e no Sahel.

Fonte: Avante!