Orlando Silva: foco da esquerda na Câmara é derrotar o bolsonarismo

Esquerda “vai precisar fazer uma aliança com setores que se diferenciem dela” para impedir a vitória do candidato de Jair Bolsonaro, diz Orlando

(Foto: Agência Câmara)

A disputa pela mesa diretora da Câmara dos Deputados, marcada para 1º de fevereiro de 2021, mudou com a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de vetar uma nova reeleição do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Agora, na opinião do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), a esquerda “vai precisar fazer uma aliança com setores que se diferenciem dela” para impedir a vitória do candidato de Jair Bolsonaro.

“Há um entendimento na oposição de que não permitiremos a vitória do Bolsonaro”, diz Orlando em entrevista à revista CartaCapital. “O pior dos mundos seria a Câmara ser anexada ao Planalto.” Para o deputado do PCdoB, caso a oposição se una ao bloco de Maia, o presidente não terá força para eleger Arthur Lira (PP-AL) ou qualquer candidato que apoie. Confira.

CartaCapital: A decisão do STF foi uma derrota do Maia?
Orlando Silva: Considero que deu a lógica, pois a única vez que o Supremo não fez uma leitura da Constituição foi quando se discutiu a [prisão a partir da condenação em] segunda instância. O Bolsonaro tem uma vitória, já que tem como estratégia derrotar o Maia – e o Maia agora está fora do jogo. Tirar o Maia do jogo, portanto, é uma derrota dele e uma vitória do presidente da República.

CartaCapital: O Rodrigo Maia seria favorito se pudesse disputar a reeleição?
OS: Primeiro, ele dizia reservadamente que não seria candidato. Na quarta-feira, passei a manhã com ele em Brasília e ele me garantiu que não seria candidato. Agora, tem vantagens e desvantagens. A vantagem é que ele tem espaço para diálogo com muita gente e a desvantagem é que é a reeleição, já que na reeleição a pessoa carrega um passivo no mandato anterior. A decisão do Supremo, no fundo, zera o jogo que começa agora.

CartaCapital: O Maia disse que a candidatura que ele constrói ultrapassa os votos do centro e da centro-direita. Quem dos possíveis candidatos a esquerda pode apoiar?
OS: Vamos construir entre nós, não temos ainda uma definição sobre isso. O que tem de definido no campo da oposição e da esquerda é de que a disputa deve ser tratada como muito cuidado. Se o Bolsonaro anexar a Câmara ao Palácio do Planato, sabe-se lá Deus o que pode acontecer no próximo período. Há um entendimento na oposição de que não permitiremos a vitória do Bolsonaro. Isso é possível porque no campo conservador há uma diferença. Eles têm a mesma agenda econômica – à qual nos contrapomos –, mas eles têm diferenças políticas. E nós temos de trabalhar essa diferença política, inclusive para tentar frear um pouco a agenda econômica. É possível derrotar o Bolsonaro – e a oposição vai precisar fazer uma aliança com setores que se diferenciem dela, pois o pior dos mundos seria a Câmara ser anexada ao Planalto.

CartaCapital: Quem, na avaliação do senhor, é o melhor candidato?
OS: Vamos ter que fixar um acordo político com base de ideias públicas, e não em torno de nomes. Temos diferença na agenda econômica, mas pode ter convergência no campo político. A tarefa da oposição é fixar um programa mínimo que dê base para um entendimento e, a partir daí, sentar na mesa para negociar com outros setores.

CartaCapital: O senhor avalia como boas as chances do Bolsonaro fazer o Lira presidente da Câmara?
OS: Não acredito que o Bolsonaro eleja o presidente da Câmara, mas sei que ele vai lutar muito.

CartaCapital: Usando a reforma ministerial para oferecer cargos?
OS: O Bolsonaro é o símbolo maior da velha política. Não tenho a menor dúvida de que ele usará todos os recursos para tentar anexar a Câmara.

CartaCapital: Hoje, o senhor acha que ele não tem força?
OS: Não acredito que, hoje, ele tenha força, desde que nós consigamos construir uma aliança. A esquerda sozinha não tem força para eleger o presidente. Você tem três pedaços da Câmara: o campo da oposição, o campo do Rodrigo Maia e o campo bolsonarista. O nosso objetivo é impedir que o campo bolsonarista seja majoritário.

CartaCapital: O PSOL deve lançar algum candidato para marcar posição, mas os demais partidos de oposição discutem o apoio e não um nome a ser lançado?
OS: Queremos discutir uma agenda para que a Câmara seja independente do Planalto. Não discuto quem marca posição, mas não adianta jogar para a galera, que pode ser uma coisa bonita para ganhar likes na internet. Mas o jogo jogado de verdade tem que ser antibolsonarista.

Fonte: CartaCapital

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