Flávio Dino: Amazônia Legal deve dialogar com EUA e Europa

Segundo o governador, pauta ambiental será decisiva nas eleições presidenciais de 2022

À frente do Consórcio da Amazônia Legal, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), vai percorrer embaixadas para tentar desfazer o estrago causado pela política externa do governo Jair Bolsonaro na agenda ambiental. Em entrevista à revista Época, Dino diz apostar que o tema será decisivo nas eleições de 2022.

O governador afirma que não vai preterir nem Estados Unidos nem a Europa no diálogo, mesmo com as ameaças de sanções ao Brasil pela degradação da Floresta Amazônica. “Temos um ambiente muito perigoso para o Brasil e para o interesse de nossa economia e de nossos produtores. Pode-se criar um cenário em que se conjuguem interesses diversos – todos convergindo na direção de impor sanções de algum modo a nosso país e nossos produtos”, opina Dino. “Isso é ainda mais preocupante tendo em vista que, em larga medida, a agricultura americana é concorrente da brasileira.”

No caso da Europa, ele diz que fará visitas às embaixadas dos principais governos, “para sublinhar o interesse dos estados (do Consórcio), sobretudo com a Alemanha e a Noruega, por conta do Fundo Amazônia”. Segundo Dino, “o foco número um é destravar” os aportes.

“O impasse (entre Brasil e os países europeus) deriva de uma premissa absolutamente equivocada da atual política externa brasileira segundo a qual é bom ficar isolado. O próprio chanceler usou a imagem de um pária internacional”, critica o governador. “Obviamente, em um mundo profundamente interconectado como o nosso, não existe espaço para modelos autárquicos, isolacionistas. No lugar de se isolar, tem de procurar dialogar e convergir. Quando se isola, você fica frágil e exposto, como está o Brasil na temática sanitária e ambiental.”

Dino diz que, no comando do Consórcio, dará continuidade a empreendimentos “compatíveis com uma economia verde, que levem em conta a sustentabilidade. Isso seria feito por meio de edital. É objetivo do consórcio ter projetos bem-sucedidos que mostrem que, mais do que possível, é imprescindível viabilizar condições de sustentação econômica para as populações da região”.

Ele comenta que não se trata de “discurso santuarista” – pois “existem pessoas que precisam comer e viver”. A sustentabilidade, a seu ver, é o caminho do equilíbrio. “É preciso buscar essa nova matriz econômica, aquilo que é mundialmente chamado de green new deal. O objetivo é fazer a ponte entre gestões estaduais, fundos de empresas privadas com esses projetos de economia real do povo da Amazônia, do extrativismo, turismo ambiental, da agroecologia, que permitam a convivência da produção com a própria floresta. Uma das propostas visa captar R$ 50 milhões, inicialmente”.

Segundo Dino, mesmo dentro do governo Bolsonaro, há entendimentos que não opõem necessariamente produção e proteção. “Somos adversários ideológicos – mas sempre trato essas coisas na institucionalidade”, resume. Um exemplo, diz ele, é a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. “Temos na agenda da Tereza a proteção à nossa produção, o que envolve o combate ao desmatamento ilegal. Ela tem essa visão, acredito eu, e a imensa maioria dos produtores tem também, sobretudo em face dos riscos de sanções internacionais.”

A preocupação é ainda maior devido ao desgaste sofrido por Bolsonaro e pelo Brasil, especialmente em 2019, diante do avanço predatório sobre áreas ambientais. “O governo Bolsonaro é um recordista – conseguiu ter três tragédias ambientais em dois anos: o derramamento de óleo no Nordeste, incêndios no Pantanal e o desmatamento na Amazônia”, lembra Dino. “É um dos passivos pelos quais o Bolsonaro responderá nas urnas em 2022 e perante a história, além do coronavírus. E terá peso eleitoral não apenas nos estados da Amazônia, mas nacionalmente.”

Para Dino, é necessário juntar aliados em torno de um programa que valorize essa agenda – mas que também faça oposição clara a Bolsonaro. Nas eleições municipais de 2020, a “frente ampla” foi o que garantiu as principais vitórias da esquerda.

“Por que o Edmilson Rodrigues (PSOL) ganha em Belém? Porque teve o apoio inclusive do Helder Barbalho, governador do MDB. Por que meu colega (José) Sarto (PDT) venceu em Fortaleza? Porque tem o apoio do Tasso Jereissati (PSDB), PSOL, PT, todo mundo. Senão perdia para o Capitão Wagner (PROS)”, exemplifica Dino. “Deve-se, primeiro, aglutinar o máximo possível o campo da esquerda no primeiro turno. O ideal seria uma candidatura única – e, se não for possível, que se chegue próximo a isso. No segundo turno, ampliar em direção aos liberais, do centro.”

O governador brinca que as eleições presidenciais de 2022 podem ser “como na música de João Bosco e Aldir Blanc: dois para lá, dois para cá”. Dino prevê “dois candidatos mais do campo da esquerda e dois mais à direita” na disputa. “Não é o cenário que desejo. Defendo candidatura única. Mas é mais realista imaginar que serão dois-dois.”

Sua visão é a de que Ciro Gomes, pelo PDT, e Luiz Inácio Lula da Silva ou Fernando Haddad, pelo PT, são hoje os “nomes mais consolidados” da esquerda. Ainda assim, Dino enfatiza: “O ideal seria juntar todo mundo.”

Com informações da Época

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