Luiz Carlos Prestes merece respeito

Ao tentar comparar Luiz Carlos Prestes a Jair Messias Bolsonaro, William Waack confunde mais uma vez alhos com bugalhos, cometendo uma falsidade histórica

O jornalista William Waack, em artigo no jornal O Estado de S. Paulo intitulado “Capitão Brancaleone”, comete o disparate de tentar comparar Luiz Carlos Prestes a Jair Messias Bolsonaro. O ponto é a comparação do Levante de 1935 com as manobras golpistas do atual presidente da República, além de forçar a barra na lembrança de que ambos foram capitães do Exército. Waack confunde mais uma vez alhos com bugalhos, cometendo uma falsidade histórica.

Bolsonaro já deixou a sua marca como governante irresponsável e despreparado que levou o País à ruína, responsável direto pela escalada de mortes com a pandemia e com a grave crise econômica. É uma figura execrada, conhecido também pelo péssimo exemplo da sua passagem pelas fileiras militares. Já Prestes, desde a juventude, marcou sua vida pela liderança da Coluna que tem o seu nome como símbolo, um acontecimento fundamental da história do Brasil.

A trajetória de Prestes demonstra fartamente a falácia da comparação. Além da Coluna, teve extensa militância comunista, combateu tiranias, defendeu a pátria e a democracia. Já na década de 1930, liderou o enfrentamento ao nazifascismo, que ameaçava o mundo e chegava com força ao Brasil. Pagou um elevado tributo, amargando o cárcere da ditadura do Estado Novo por nove anos, além de ver a esposa, Olga Benário, ser entregue, grávida, ao governo da Alemanha nazista, onde foi cruelmente executada.

Na prisão, inspirou a resistência democrática e foi anistiado em 1945, depois de uma campanha internacional que mobilizou grandes personalidades de diferentes segmentos políticos, sociais, culturais e intelectuais. Lançou imediatamente, com toda a sua força moral e política, a campanha pela redemocratização do País. Considerava seu dever – e dos verdadeiros patriotas brasileiros – cessar as disputas de caráter interno e unir esforços para acelerar a derrocada das potências do Eixo nazifascista, liderando uma memorável campanha de massas pela Assembleia Nacional Constituinte.

Na Constituinte de 1946, eleito senador, comandou a bancada comunista. Era o legendário herói da Coluna Invicta, recebido com respeito pelos demais constituintes. Mesmo quando atacado, mostrava a estatura de um dirigente político lúcido, que soube acompanhar o sentido da história. Mais uma vez perseguido, agora pelo governo do general Eurico Gaspar Dutra – que liderou o processo de cassação do registro do Partido Comunista e dos mandados de seus parlamentares –, passou a comandar a resistência democrática novamente na clandestinidade.

Quando a tirania voltou ao poder, com o golpe de 1964, outra vez encontrou Prestes na resistência. Obrigado a se exilar com a família, voltou ao país com a Anistia de 1979 para dar continuidade à luta democrática e patriótica, honrando sua história e seu legado até seu último dia de vida. É um dos construtores do país, um dos personagens mais marcantes do Brasil no século 20.

Luiz Carlos Prestes merece reverências de todas as forças progressistas e democráticas, como aconteceu com a restituição simbólica do seu mandato pelo Senado em 2013, quando foi homenageado em sessão solene. Não por acaso, o documento que celebra os 99 anos do PCdoB ressalta Prestes como o líder da segunda geração dos comunistas, que agregou à legenda grande prestígio entre o povo brasileiro e no exterior.

Da Redação