Deputados repudiam nova ameaça golpista de Bolsonaro

Em entrevista a TV do Amazonas, Bolsonaro voltou a criticar medidas sanitárias adotadas para salvar vidas e disse que poderia usar Exército

O deputado Orlando Silva - Foto: Agência Câmara

Deputados de diferentes partidos de oposição repudiaram mais uma fala golpista de Jair Bolsonaro. Nesta sexta-feira (23), em uma entrevista à TV “A Crítica”, do Amazonas, o presidente afirmou que pode convocar o Exército para “restabelecer todo artigo 5° da Constituição”, que faz referência a direitos individuais como o de ir e vir e a liberdade religiosa.

Na entrevista, Bolsonaro voltou a criticar as restrições sanitárias adotadas por estados e municípios para conter a circulação do novo coronavírus, em conformidade com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).

“O nosso Exército, se precisar, iremos para as ruas não para manter o povo dentro de casa mas para restabelecer todo o artigo 5 da Constituição. E se eu decretar isso vai ser cumprido esse decreto. As Forças Armadas podem ir para a rua sim. Para fazer valer o artigo 5, direito de ir e vir, direito ao trabalho, liberdade religiosa, de culto, para cumprir tudo aquilo que está sendo descumprido por parte de alguns governadores, prefeitos”, afirmou.

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB), Bolsonaro faz esse tipo de ameaça sempre que se sente acuado. O parlamentar se manifestou sobre o assunto em sua conta no Twitter.

Segundo o parlamentar, Bolsonaro é “um leão velho e banguela” e “cai no ridículo” ao se expressar dessa forma. Para Orlando Silva, a recente crise militar evidenciou que as Forças Armadas não aceitarão ser usadas nesse tipo de chantagem. No entanto, ele defendeu ação contra a fala golpista.

“A entrevista de Bolsonaro em Manaus é ameaça golpista explícita, contra a qual espera-se forte reação de outros poderes e lideranças. Há mais de 110 pedidos de impeachment, Bolsonaro está isolado, investigado e com rejeição recorde. Se radicalizar, periga cair antes de piscar”, afirmou.

Já o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) disse que Bolsonaro trata as Forças Armadas como se fossem uma milícia pessoal. “Bolsonaro voltou a falar em intervenção militar nos estados para ameaçar governadores. Mais uma vez o presidente humilha e rebaixa as Forças Armadas ao tratá-las como se fossem uma milícia pessoal a seu serviço na guerra declarada contra adversários políticos do governo”, criticou também em sua conta no Twitter.

A deputada Jandira Feghali disse que a ameaça de usar o exército contra o combate à Covid é “grave”. “É autoritarismo criminoso contra a vida, contra o STF [Supremo Tribunal Federal] e contra a Constituição”, postou em seu perfil.

Alessandro Molon (PSB-RJ) disse que o Exército defende os interesses do país, não os de Bolsonaro. “Em novo capítulo de sua disputa com governadores, Bolsonaro voltou a falar do Exército como se fosse seu. Não, Bolsonaro, o Exército não defende seus interesses pessoais ou suas brigas políticas, mas os interesses do Brasil”, observou.

Até o momento, os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (Progressistas-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-RJ) não se manifestaram sobre as declarações do presidente da República. Também não houve manifestação do STF.

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