Após mentiras de Pazuello, Renan quer agência de checagem na CPI

Contradições em depoimento do ex-ministro de Saúde Eduardo Pazuello frustram integrantes da comissão e relator da CPI sugere contratação de agência para conferir fatos

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Em entrevista coletiva durante o intervalo do depoimento do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na CPI da Covid, o relator da Comissão de Inquérito Parlamentar da Pandemia, Renan Calheiros (MDB-AL), acusou Pazuello de mentir e se omitir em perguntas feitas pelos senadores. O relator sugeriu ao presidente e ao vice-presidente da CPI a contratação de uma agência de checagem de fatos para conferir simultaneamente as falas dos depoentes.

“Vou sugerir ao presidente e ao vice-presidente da comissão a contratação de uma agência checadora da verdade para que a comissão parlamentar de inquérito possa pela primeira vez acompanhar online e checar essas mentiras que reiteradamente estão sendo ditas na comissão parlamentar de inquérito”, afirmou Renan Calheiros.  

“Ele é a principal testemunha, mas resolveu mentir. As pessoas que estão acompanhando pelas redes sociais estão enlouquecidas com o desdém que ele tem tratado a Comissão Parlamentar de Inquérito e tem dissimulado sobre nossas perguntas”, acrescentou o relator.

O vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também respondeu perguntas da imprensa e afirmou que “muita coisa ainda precisa ser esclarecida”. Randolfe quer saber mais sobre as negociações de imunizantes com o Instituto Butantan e com o laboratório Pfizer e sobre a declaração de Pazuello de despedida da pasta, quando disse que havia, no final do ano, “uma carreata de gente pedindo dinheiro politicamente. Foi outra porrada, porque todos queriam o pixulé”.

O termo “pixulé” remete à ideia de propina desde Operação Lava Jato em 2015. Pazuello disse que se referia a recursos não aplicados em programas de governo.

Randolfe ainda acusou Pazuello de “omissões e distorções de fatos” em respostas durante a CPI. Na visão do senador, o ex-ministro nega fatos de conhecimento público e cita como exemplo a interferência de Jair Bolsonaro na compra da Coronavac em outubro de 2020, quando o presidente da República desautorizou publicamente o ministro na intenção de compra da vacina. “Há um contorcionismo enorme para distorcer esse fato”, afirmou o senador.

Renan Calheiros lembrou que Pazuello não é o 1° a mentir na CPI. O ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal do Brasil, Fabio Wajngarten, também faltou com a verdade em seu depoimento na semana anterior. Na ocasião, Renan Calheiros sugeriu ao presidente da comissão a prisão de Wajngarten em flagrante delito por mentir à CPI.

O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), não acatou a sugestão e Renan depois o elogiou pela decisão. A solução encontrada pelo presidente Aziz foi comunicar ao Ministério Público sobre as mentiras do ex-secretário de comunicação especial da presidência.

O relator classificou como “absurda” a postura do general da ativa Eduardo Pazuello. “Ele adotou uma estratégia de negar os fatos, inclusive suas próprias declarações em momentos diferentes. Então é uma coisa absurda. É o contrário de tudo aquilo que imaginamos”, afirmou Renan Calheiros.

Randolfe Rodrigues concordou com o relator, mas ressaltou o “Habeas Corpus concedido corretamente pelo Supremo Tribunal Federal” e que é preciso “respeitar essa decisão”. O vice-presidente da CPI ainda afirmou que outros depoimentos ainda se somarão aos coletados até agora e que uma acareação e quebra de sigilo podem ser úteis à comissão de inquérito parlamentar.

A sessão foi suspendida após Eduardo Pazuello passar mal e ser atendido pelo senador e médico Otto Alencar (PSD-BA). O depoimento do ex-ministro da Saúde será retomado na quinta-feira (20).