Pazuello ignorou pedido de recursos para vacina do Butantan, em agosto

Butantan pediu a Pazuello, mas não recebeu R$ 145 milhões para CoronaVac. Ministro mentiu que vacina foi feita com dinheiro do SUS, mas somente recursos da venda das vacinas e iniciativa privada financiaram os custos.

Ex-ministro Eduardo Pazuello presta depoimento na CPI da Covid para explicar colapso sanitário durante sua gestão da pandemia. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Documentos entregues pelo Instituto Butantan à CPI da Covid provam que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ignorou pedido de recursos para a fabricação da vacina Coronavac, em meados do ano passado. O presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) demonstrou abertamente oposição à fabricação da vacina de origem chinesa, e a CPI tem comprovado o quanto o governo atrasou o pedido de vacinas oferecidas durante todo o ano passado ao Brasil.

A instituição acrescentou ao UOL que só recebeu recursos da venda das vacinas e de doações da iniciativa privada. “Até o momento, o Instituto Butantan recebeu, por meio de sua fundação de apoio (Fundação Butantan) apenas recursos provenientes do fornecimento da vacina contra o novo coronavírus. A fábrica que produzirá a vacina em sua integralidade, incluindo o Ingrediente Farmacêutico Ativo, recebeu recursos exclusivos de doações da iniciativa privada, superiores a R$ 180 milhões. As obras devem ser concluídas em setembro”.

Em janeiro de 2021, quando começaram a ser aplicadas as primeiras doses da Coronavac no Brasil, Pazuello disse, numa entrevista coletiva em Brasília: “Você sabia que tudo que foi comprado pelo Butantan foi com recursos do SUS? Todas as vacinas, não foi com um centavo de São Paulo. Autorizado por mim. É difícil ficar ouvindo isso o tempo todo. Eu ouço calado o tempo todo a politização da vacina”.

Minutos depois, em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) disse à imprensa que estava atônito com a declaração do ministro. “É inacreditável como um ministro de Estado da Saúde […] ainda mente ao dizer isso. A vacina do Butantan só está em São Paulo e no Brasil porque foi investimento do governo do Estado de São Paulo. Não há um centavo, até agora, do governo federal, para a vacina — nem para o estudo, nem para a compra, nem para a pesquisa. Nada. Chega de mentiras, ministro.”

Segundo o colunista do UOL, Rubens Valente, um pedido de R$ 145 milhões feito em agosto passado pelo Butantan ao então ministro Pazuello para cobrir gastos com estudos clínicos e instalação de uma nova fábrica da vacina Coronavac não foi atendido pelo ministério. Os ofícios foram divulgados no ano passado pela imprensa, mas na época o governo federal disse que já colaborava ou iria colaborar com o Butantan.

Os pedidos estão documentados em dois ofícios de 18 de agosto entregues à Comissão do Senado em resposta a um requerimento aprovado pela comissão.

Os estudos clínicos, segundo Covas, que eram essenciais para se chegar à vacina, estavam “orçados em R$ 130 milhões, parte deles, R$ 45 milhões, devidamente contemplados por doações”. Assim, escreveu o diretor do Butantan, restava uma expressiva parcela sem financiamento, e por isso ele recorreu ao ministro da Saúde. “Possível notar que ainda se encontra em aberto a quantia de R$ 85 milhões para completar o gasto com os referidos Estudos Clínicos, o que motiva-me solicitar o empenho do Ministério da Saúde, a fim de que seja concedida a verba retro mencionada, verba essa que poderá ser repassada à Fundação Butantan, fundação de apoio ao Instituto Butantan, a quem compete a realização dos referidos estudos clínicos”, escreveu Dimas Covas.

No segundo ofício, do mesmo dia 18 de agosto e de nº 79, igualmente dirigido a Pazuello, Dimas Covas explicou que, “para viabilizar a produção da vacina em nosso país”, o Butantan havia criado “um projeto conceitual e encontra-se em desenvolvimento um projeto executivo para a instalação de uma fábrica com capacidade produtiva de 100 milhões de vacinas anualmente”.

“Para agilizarmos o processo de instalação da nova fábrica”, descreveu o diretor do Butantan, “iremos utilizar um prédio já edificado, o qual necessita de readequações e pequenas reformas, mais os equipamentos necessários à produção da vacina”.

O projeto todo, entre “readequação, reforma e aquisições”, custaria R$ 156 milhões. Desse total, disse Covas, “já foram prometidos R$ 96 milhões em doações”, ficando em aberto “R$ 60 milhões para completar o gasto para finalizar a fábrica”.

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