Copa América no Brasil causa indignação e assunto pode ir à CPI

Conmebol alterou sede da competição após Argentina e Colômbia alegarem inviabilidade de receber evento em meio à pandemia e manifestações

Foto: JUAN BARRETO / AFP

O anúncio nesta segunda-feira (31) da realização da Copa América 2021 no Brasil foi criticado por parlamentares e lideranças políticas. A preocupação é com o agravamento da pandemia de Covid-19, que mantém no Brasil número elevado de casos e mortes, além do surgimento de novas cepas.

“Irresponsável! Bolsonaro acaba de autorizar a realização da Copa América no Brasil, após Argentina cancelar competição por conta da pandemia. Mesmo sem público, evento trará milhares de atletas e profissionais ao país em junho, num momento de absoluto descontrole da Covid”, ressaltou a vice-líder da Minoria, deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

O vice-presidente Hamilton Mourão, por outro lado, afirmou que o evento será seguro e não acredita em novas manifestações contra o governo por causa da realização do evento.

“Não tem público, né? Não tendo público não é problema. É só dividir bem essas sedes e acabou”, afirmou o vice-presidente. “Não é que seja mais seguro, é menos, é menos risco. Não é mais. É menos. O risco continua”, completou Mourão ao responder sobre a comparação com a realização do evento na Argentina.

O comunicado foi feito horas depois de a Conmebol, entidade responsável pelo futebol no continente sul-americano, suspender a Argentina como sede do evento, que começa no dia 13 de junho, justamente por conta do aumento de casos de Covid-19. A Copa América, inicialmente, seria dividida entre Colômbia e Argentina; no último dia 20 de maio, a Colômbia pediu adiamento da competição por conta das manifestações que têm tomado o país.

Ofertas de vacina da Pfizer x Copa América

A velocidade na resposta do governo federal para sediar o governo chamou a atenção dos parlamentares, que destacaram a demora durante a negociação de vacinas com a farmacêutica Pfizer.

A deputada Jandira Feghali ressaltou que foram menos de 15h entre o anúncio de suspensão do evento na Argentina e anúncio da Copa América no Brasil;

O deputado federal e líder do PCdoB na Câmara, Renildo Calheiros, indignou-se com a decisão. “É inacreditável a velocidade com que Bolsonaro decidiu sediar a Copa América. No domingo o Brasil sequer era cogitado. Menos de 12 horas depois ocorreu o anúncio.”

Manuela D’Ávila, candidata à vice-presidência do país em 2018 pelo PCdoB, também abordou a questão com uma imagem comparando a demora para assuntos urgentes como a vacinação e a transferência da sede da Copa América para o Brasil.

Ciro Gomes (PDT-CE) destacou a demora do governo para responder às ofertas da Pfizer, o que considerou táticas de um “governo genocida”.

E o assunto chegou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. O vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que “se o Presidente tivesse tido essa agilidade p/ responder à Pfizer como foi com a Conmebol, certamente poderíamos estar recebendo esse evento”. O senador protocolou o requerimento de convocação do presidente da CBF, Rogério Caboclo, para esclarecer o raciocínio que justifique a escolha do Brasil como sede.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), também reprovou a decisão da Conmebol, CBF e governo e chamou a Copa América de “campeonato da morte”;

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), vice-líder da bancada na Câmara, também condenou a decisão. “É surreal que a Conmebol transfira os jogos da Copa América para o Brasil nesse momento. Estamos às portas de uma terceira onda do vírus e somos o segundo país do mundo em número de mortes. Querem dizimar a população? Absurdo!”

Para a deputada federal Professora Marcivânia (PCdoB-AP), Bolsonaro não entendeu o recado das ruas neste final de semana, quando centenas de milhares de brasileiros enfrentaram o medo do vírus para protestar contra as ações do governo.

“Qual a medida que o governo toma após ser alvo de protestos massivos pedindo sua saída em razão do desastre humanitário que vem causando? Resolve autorizar a Copa América, após ter sido cancelada na Argentina. Ou seja, seremos o “País do Futebol” e da mortandade pela Covid-19”, protestou.

Marcelo Freixo (PSOL-RJ) alertou para o uso político do futebol por parte de regimes autoritários.

O candidato à prefeitura de São Paulo em 2020 e líder popular, Guilherme Boulos (PSOL), classificou a disputa da Copa América no país como “deboche”.

A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-RS), presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, classificou a decisão como um “ato de insanidade” de Bolsonaro.

Mesmo sendo o segundo país no mundo com mais óbitos em razão da doença, ritmo lento de vacinação, desemprego recorde e auxílio emergencial reduzido que não garante comida a quem precisa, o governo de Jair Bolsonaro não se opôs à realização da Copa América no país. A entidade agradeceu nominalmente ao presidente da República no comunicado via redes sociais.

No mesmo dia em que a Copa América é anunciada no Brasil, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reforçou que a situação sanitária no país é grave, com vacinação lenta, aumento da pobreza, e auxílio emergencial insuficiente. No ritmo que a doença tem avançado no país, a realização da Copa América deverá coincidir com o registro das 500 mil mortes por Covid no Brasil

O Ministério da Saúde informou que a decisão de sediar a Copa América no Brasil não passa pela pasta.

Com informações de PCdoB na Câmara