Negacionismo do governo Bolsonaro mata, diz Natalia Pasternack na CPI

“O negacionismo está na Presidência da República e no Ministério da Saúde. Não se trata de ignorância inocente. É mentir em nome de uma agenda política e ideológica. E o negacionismo mata”, disse a microbiologista

A microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Natalia Pasternak depõe na CPI (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

A microbiologista Natalia Pasternak disse que o negacionismo do governo Bolsonaro mata. Ela defendeu a adoção de evidências científicas no enfrentamento da pandemia do coronavírus no país. A pesquisadora depõe na CPI da Covid nesta sexta-feira (10), um dia após o presidente ter pedido ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um parecer para liberar o uso de máscara aos que já foram vacinados ou para quem contraiu a doença. A comissão também ouve o médico sanitarista Cláudio Maierovitch, pesquisador da Fiocruz e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“O negacionismo está na Presidência da República e no Ministério da Saúde. Não se trata de ignorância inocente. É mentir em nome de uma agenda política e ideológica. E o negacionismo mata”, disse Natalia Pasternak.

A cientista, que é formada em ciências biológicas e pós-doutorado em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP), disse que ciência não é uma questão de opinião. “Não é uma questão do que eu enxergo versus o que você enxerga, não é uma visão do mundo. Alguém desenhou um número no chão ali, ou é um seis ou é um nove; não é como eu vejo, é o que desenharam no chão”, explicou.

Com mais didática, a cientista afirmou que se usa método científico para descobrir o que foi desenhado. “É um processo investigativo que vai descobrir que número afinal está no chão. É um seis ou é um nove. Não é uma questão de desrespeitar a opinião alheia, é questão que a ciência funciona buscando os fatos. E o fato é que ou seis ou é o nove, não dá para ser os dois”, assegurou.

Pasternak usou o caso da cloroquina como exemplo. “Infelizmente, ela nunca teve plausibilidade biológica para funcionar. O caminho pelo qual ela bloqueia a entrada do vírus na célula só funciona in vitro, em tubo de ensaio, porque, nas células do trato respiratório, o caminho é outro”, explicou.

Sendo assim, a microbiologista diz que o medicamento nunca poderia ter funcionado. “Aí a gente examina também a probabilidade de ela funcionar. Ela já funcionou pra outras doenças, pra outras viroses? Não, ela nunca funcionou. A cloroquina já foi testada e falhou pra várias doenças provocadas por vírus, como zika, dengue, chikungunya, o próprio SARS, aids, ebola, nunca funcionou”, diz.

“Não funciona em camundongos, não funciona em macacos, não funciona em humanos. Só não testamos em emas porque elas fugiram!”, disse a cientista, referindo-se ao episódio no qual Bolsonaro forneceu o medicamento as aves do Palácio do Alvorada.

Evidências anedóticas

Também não funciona, aponta a cientista, em evidências anedóticas: “Ah, mas o meu vizinho, o meu cunhado, o meu tio tomou e se curou. Evidências anedóticas não são evidências científicas, elas não servem pra ciência, elas são apenas causos, histórias. E o plural de evidências anedóticas não é evidências científicas, é só um monte de evidências anedóticas.”

Ela também criticou o debate em torno do medicamento. “Nós estamos pelo menos seis meses atrasados em relação ao resto do mundo que já descartou a cloroquina. E aqui no Brasil a gente continua discutindo isso. Isso é negacionismo, não é falta de informação”, afirmou.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE), integrante da CPI, disse que a microbiologista deixa claro que não existem dois caminhos para combater uma pandemia. “O único caminho é a ciência! Porém, é o caminho que Bolsonaro se nega a seguir”, criticou.

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