Fortalecer frente ampla para impeachment de Bolsonaro, por Érico Leal

“As crescentes mobilizações de rua pelo impeachment e vacina têm sido muito importante para o ânimo e o desenvolvimento da luta”

(Foto: Reprodução)

Conforme a luta política se acirra e o “mito” vai virando pó de mico, agitam-se com frenesi seus acólitos, realizam-se mudanças palacianas, renovam-se promessas; o instinto de sobrevivência do (des)governo se transmuta em ameaças de farda, pantomimas de bufão e vitimização do “messias”. Os pescadores de águas turvas se postam diante do lodaçal fétido que se acumula e empesta o ambiente, prontos para encontrar justificativas que possibilitem o golpe final no frágil estado democrático de direito, diante da tarefa inconclusa.

Mesmo sendo de grande importância e louváveis méritos as reações positivas em defesa da vida e da democracia, que barram e fazem recuar a sanha da extrema-direita, os motes do golpe de 2016 continuam postos, o grau de conservadorismo é altíssimo, as ações do imperialismo retornam com força à região para impedir o avanço da China e sua relação com o continente, e as forças democráticas e progressistas continuam a agir reativamente como em uma normalidade inexistente, sem avançar para a proposição de um pacto nacional em defesa da democracia e do desenvolvimento do país.

Sem dúvida que a correlação de forças ainda não permite o impeachment ou força a renúncia do genocida, apesar de todos os motivos plausíveis, que de fato justificam esse dispositivo constitucional. No entanto, os fatos aceleram o tempo da política. Pelas circunstâncias de pandemia e outros que tais foram mais de dois anos resistindo sem contra-ofensiva, mas a maré virou com a instalação da CPI do Covid e as mobilizações de rua, que contribuíram para o isolamento de Bolsonaro e seu despencar em todas as pesquisas sejam eleitorais, com o crescimento de Lula, sejam gestão e ética. Onde ele cresceu foi no item para sair desde já do Palácio do Planalto pelas portas do fundo.

Avança a consciência da inviabilidade de Bolsonaro em setores sociais e em diversos matizes políticos, que buscam alternativas para a garantia e gestão de seus interesses com o mínimo de confiança e estabilidade; assim como, as forças progressistas buscam, legitimamente, voltar ao governo para retomar um projeto mais democrático e nacional de desenvolvimento. Porém, o imperador das rachadinhas se mantém no páreo polarizando em todos os cenários eleitorais do momento, dificultando uma terceira via, o que dá a sensação de disputa plebiscitária nas eleições de 2022 a provoca expectativas, entusiasmos e ilusões.

Esse quadro está inserido em uma realidade hegemonizada por forças conservadoras neoliberais cujos movimentos, no geral, são ditados de fora seja pelo mercado ou interesses do império, que estão aplicando seus projetos religiosamente. Há um nível elevado de despolitização, criminalização da política e demonização da esquerda (ainda forte). Existe uma grande fragilidade social e vulnerabilidade da população provocadas pelas crises e pelo (des)governo. Diante desse caldo de cultura indigesto, todos os caminhos se apresentam com seus respectivos formatos, tempo e soluções, e os pólos de atração se movimentam arregimentando forças de viabilização. Apostar todas as fichas em um rumo pode ter preço amargo para o povo.

O curso da luta vem revelando a complexidade da situação, que exige muito mais que gestos de boa vontade, projeto arrumadinho e disputa de narrativas; vem demonstrando o acerto político da Frente Ampla perante o perigo de arbítrio e em defesa da vida, posição justa e coerente do PCdoB com seu centenário de existência de luta pelo socialismo. Sem a ação de múltiplas forças teríamos sucumbido ao fascismo como restou provado ser Bolsonaro um projeto do “Partido Militar”. Ele representa as forças reacionárias, entreguistas e antipovo; portanto, continua sendo o inimigo principal imediato, sem tergiversação.

Ficou provado que nenhuma força isolada ou composição de forças afins é capaz de derrotar o capitão de milícias, sob o contexto atual. A frente ampla está dando certo por que amplas forças passaram a considerá-lo o principal responsável pelas mortes e causador de caos, inconfiável. No entanto, é preciso dar consequência à frente ampla, não abdicar ou frear movimentos que levem ao impeachment sob a alegação de transformar a terceira via em segunda na disputa eleitoral. Toda saída amparada em ampla composição de forças, que garanta a democracia e defenda a vida, com reconstrução da economia, geração de emprego e renda deve ser considerada, sem perder a chance de avançar mais.

Derrotar o Vendilhão de Almas e sua necropolítica é o objetivo central nesse momento. A bandeira de Impeachment Já! continua na ordem do dia, pois o país não suporta mais tanto desmantelo. É uma solução patriótica. Sua saída precisa ser o desejo e a conjugação de uma maioria em defesa do Brasil e não a ação de forças golpistas. Apostar no enfraquecimento de
Bolsonaro até às eleições é temerário; um menosprezo que pode favorecer sua permanência e perigo de auto-golpe.

As crescentes mobilizações de rua pelo impeachment e vacina têm sido muito importante para o ânimo e o desenvolvimento da luta. A unidade e o foco do movimento são determinantes para a demonstração cada vez maior da vontade popular já expressa em pesquisa. Para isso, devemos continuar “firmes na luta” impulsionando e dando consistência à justa política de frente ampla para derrotar Bolsonaro.

Que 24J seja maior!

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