Coronel Blanco confessa na CPI que negociava vacina de forma irregular

Na mesma linha do reverendo Amilton de Paula, que no depoimento desta terça-feira (3) protegeu autoridades do governo Bolsonaro, o coronel evitou envolver seus superiores no ministério sobre negociação de vacina

O presidente da CPI, Omar Aziz, adverte o coronel Blanco sobre a necessidade de falar a verdade (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Em depoimento nesta quarta-feira (4), na CPI da Covid, o coronel Marcelo Blanco confessou que negociava vacina por debaixo do pano para o setor privado, mesmo sem existir uma lei específica para o setor. De acordo ele, depois que saiu do Ministério da Saúde, onde ocupava um cargo de assessor do departamento de Logística da pasta, começou a operar com essa perspectiva para uma possível regulamentação do mercado.

Na mesma linha do reverendo Amilton de Paula, que no depoimento desta terça-feira (3) protegeu autoridades do governo Bolsonaro, o coronel evitou envolver seus superiores no ministério sobre negociação de vacina. Ele disse que queria a “construção de modelo de negócio no meio privado.”

A CPI tem fortes indícios de que o militar, mesmo depois de deixar o ministério, continuou atuando em parceria com seu ex-chefe Roberto Ferreira Dias, que comandava a área de Logística da pasta. Dias foi demitido após denúncia de pedido propina pela compra de vacina por intermediários.

Depois de negar, o coronel admitiu que levou o vendedor de vacina Luiz Paulo Dominghetti, cabo da PM de Minas Gerais, para um encontro no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, com Roberto Dias.

Na ocasião, Dominghetti relatou que recebeu de Dias o pedido de propina de US$ 1 por dose diante da proposta de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca no valor de US$ 3,50. No local, também estava presente Ricardo Santana, amigo de Dias e ex-funcionário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O militar disse apenas que sabia que Roberto Dias estaria no restaurante e aproveitou para avisar a Dominguetti que seria um momento para pedir uma agenda. Também considerou uma oportunidade para tratar dos seus assuntos sobre o mercado privado. Há três dias antes do encontro, Blanco abriu a empresa Valorem Consultoria em Gestão Empresarial para atuar como representante comercial de medicamentos.

O coronel disse que não ganharia nada com a intermediação e negou que tenha conversado sobre uma comissão de US$ 0,20 pelo negócio. Na CPI, Cristiano Carvalho, o representante comercial da Davati, que autorizou Dominghetti a negociar a vacina, disse que falou com o militar sobre a comissão.

“Estamos aqui estarrecidos com a facilidade com que pessoas desqualificadas entraram no Ministério da Saúde. Não deram a mínima para a Pfizer, mas deram facilidade para o Dominghetti”, afirmou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), dirigindo-se ao coronel.

Sessão suspensa

O presidente da CPI também suspendeu o depoimento após um tumulto gerado pela apresentação de documentos da defesa de Blanco entregues à CPI. Neles, estavam cópias das conversas entre Blanco, Cristiano Carvalho e Dominghetti, mas com diálogos suprimidos. Sob o protesto dos governistas, os senadores alegaram tentativa de obstrução de Justiça e pedirão perícia no conteúdo.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), identificou o deputado federal Reinhold Stephanes Junior (PSD-PR) como o parlamentar que tentou tumultuar a sessão. O senador pediu para que o Conselho de Ética da Câmara seja acionado contra o parlamentar.

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