Orlando: Temer foi intermediário do mercado no recuo de Bolsonaro

O deputado federal do PCdoB alertou para a mobilização permanente contra o golpismo representado por Bolsonaro e setores financeiros e politicos.

O ex-presidente, Michel Temer e o presidente da República Jair Bolsonaro, durante a cerimônia de partida da comitiva brasileira em Missão Especial a Beirute na Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos Foto: Alan Santos/PR

Apesar da evidente vitória dos democratas sobre o golpismo de Bolsonaro no 7 de Setembro, é preciso estar alerta. Esta é a opinião do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) em suas redes sociais, sobre o isolamento do presidente que se revelou após o dia turbulento em que deveria se celebrar a Independência do Brasil.

Orlando analisou a carta divulgada hoje pelo presidente, em que faz um claro recuo para acalmar setores políticos e financeiros. O texto elaborado por Michel Temer a convite de Bolsonaro, revela a dimensão crítica que o golpismo assumiu entre os políticos e a institucionalidade, que cogita a hipótese de dar andamento a um impeachment presidencial.

“Bolsonaro divulgou carta à Nação recuando dos ataques à democracia e às instituições. O golpe se revelou um tiro no pé”, diz o deputado, considerando o efeito reverso que a estratégia bolsonarista acabou tendo, especialmente para a base frustrada que foi às ruas, esperando um anúncio de tomada de poder à força.

De acordo com Orlando, a carta poderia ter um significado triunfal para os setores democráticos, caso Bolsonaro não tivesse demonstrado tantas vezes como age para confundir, tumultuar e desinformar com opiniões contraditórios, o tempo todo. “Seria motivo para comemoração, não fosse o presidente um irresponsável, cuja palavra vale menos que uma nota de 3 reais”, lamentou.

Apesar disso, a frustração causada nos manifestantes pela “revolução” prometida como mera bravata, no entanto, tem um efeito importante sobre o esforço feito pela base bolsonarista em todo o país. A comédia de erros que tem sido a condução do bloqueio de caminhoneiros às estradas, na expectativa de uma nova e patética tomada do poder que não avança, foi o novo capítulo da pantomina de Bolsonaro.

“A marcha à ré é uma ducha de água fria nas hordas fascistas, ouriçadas pela escalada golpista e criminosa dos últimos meses”, afirmou. “Nesse sentido, não deixa de ser uma vitória da luta democrática e uma mostra cabal do isolamento do presidente, que ficou mais evidente no pós dia 7”.

Nesta quinta-feira (9), o governo emitiu uma nota totalmente recuada, ou como se espalhou nas redes a gíria, arregada, e fora do tom do governo de lives atabalhoadas e total ausência de porta-vozes qualificados. Incapaz de uma estratégia moderada, que só imagina a hipótese do golpe duro, foi preciso pedir socorro a um golpista brando para refinar as palavras e “pedir desculpas” pelos discursos carregados de arroubos inconstitucionais e antidemocráticos.

“O texto foi redigido em conversa com o ex-presidente Michel Temer, que obviamente não foi resolver crise com caminhoneiros. Aliás, o próprio locaute se mostrava outro tiro no pé”, pontuou ele. Pela primeira vez, um locaute de caminhoneiros foi utilizado em defesa de um presidente, quando, normalmente, visa instabilizar governos.

“Temer certamente foi portador de recados de setores políticos e econômicos muito influentes”, declarou o deputado, apontando para segmentos econômicos que têm se expressado por meio de manifestos em alerta para o afastamento do governo. Após os protestos, inclusive, lideranças partidárias e políticas começaram a discutir com mais consequência a possibilidade de um impeachment. Temer também representa a tentativa de diálogo com esses setores.

Diante desse xadrez diário e tenso permanente baseado no morde e assopra do bolsonarismo empoleirado no Palácio do Planalto, Orlando alerta para a necessidade da mobilização permanente e construção crescente da frente ampla democrática.

“De nossa parte, não nos deixaremos enganar! Redobraremos a luta pela construção de uma frente ampla em defesa da democracia, buscando desde já o impeachment de Bolsonaro, cujos crimes comuns e de responsabilidade ofendem a Nação e o povo brasileiro”, concluiu ele.