Pepe Mujica: “É assustador o que acontece no Brasil”

O ex-presidente do Uruguai concedeu entrevista em que falou sobre vários assuntos de seu país e opinou sobre a grave situação do Brasil

O ex-presidente José Pepe Mujica foi entrevistado nesta quinta-feira (9) pelo programa El Poder de la Palabra, da Rádio La República 1410 AM, do Uruguai, e tratou questões da atualidade.

Após o anúncio feito pelo presidente uruguaio Laccalle Pou na noite de terça-feira (7), e após reunião do Poder Executivo com as lideranças dos partidos políticos que têm representação parlamentar, foi anunciado que o país iniciará o processo de pré-viabilização, tendo em vista a possibilidade de um eventual Acordo de Livre Comércio (TLC) com a China. A respeito, Mujica comentou que lembra que o tema tem uma história e que Tabaré Vázquez o experimentou quando foi presidente.

“Em termos gerais, é lógico que os governos tentem melhorar os termos de troca, por parte do que vendemos, as tarifas que temos que pagar para entrar na China são muito importantes, para o grupo agroindustrial acho que seria benéfico, mas um acordo de livre comércio pode ter etapas. Uma coisa é se for proposto e que a troca de mercadorias, isso é uma coisa, então pode ter uma série de etapas, que não estão definidas, se o governo considerar enfim, estudo em etapas é uma história, se for mais global, é outra história, mais complexa, não sabemos, que vai estar no estudo de viabilidade ”, explicou Mujica.

Entre suas respostas, o ex-presidente reconheceu que o presidente Luis Lacalle Pou estava bem na hora de convocar todos os líderes dos partidos políticos para explicarem tudo o que se relaciona com as negociações com a China, considerando que se trata de uma questão de ordem nacional e que também está projetando no longo prazo.

O ex-presidente acrescentou ainda que “temos de ver o que acontece com o Mercosul, se os sócios acompanham, se permitem, como foi ou não no caso do México, e o que a China nos oferece em termos de investimentos”. E sobre a posição da Argentina, Brasil e Paraguai, ele disse que você tem que observar a atitude ao longo do tempo, porque você começa a discutir uma realidade, mas quando você tem que assinar não sabemos qual é a realidade, acho que são inevitáveis incertezas.

Questionado sobre o possível referendo para buscar a revogação de 135 artigos da LUC, e a próxima campanha, Mujica disse: «Espero que haja uma boa discussão com altura que politize a consciência do povo uruguaio, e que haja o mínimo possível ressaca, pois além das diferenças devemos compor e lutar para compor um todo e não gostaria do Uruguai, como está acontecendo em outros lugares com o país dividido, que é um abismo, ter diferença é uma coisa, ser adversário é uma coisa, ser inimigo é outra.

Por sua vez, em relação à questão de saber se existe uma cisão no Uruguai, respondeu que “não quero favorecê-la, mas também depende muito do comportamento que os humanos assumem nestas questões que naturalmente expressamos diferente pontos de vista. Uma coisa são as ideias e outra é o capítulo do fanatismo e do confronto, uma coisa é a diversidade e o confronto de ideias e outra é um caminho cheio de feridas”.

Enquanto isso, em relação à prorrogação do prazo de exploração do porto de Montevidéu, respondeu que “Eu, pensando nos números, digo que idiotas nós orientais somos porque há dinheiro uruguaio para várias UPM do exterior, mas o problema é que não temos. Temos capacidade de gerir um monstro desse tipo, não corremos riscos, não nos juntamos, existe sim um problema de gestão e temos que dar uma certa vantagem porque o eucalipto é plantado e isso de tirar e vender matéria-prima sem nada de valor é muito asneira para o país, é melhor a gente industrializar e o problema é que a gente não começa uma indústria de papel, é o que falta, acho que o que é falta neste modelo é montar uma boa fábrica exportadora de papel”.

Por fim, após ser consultado sobre o Brasil e seu presidente Jair Bolsonaro, respondeu: «Não falei com Lula da Silva, mas sei que há uma declaração assinada por Lula, por Fernando Henrique Cardozo, por Fernando Collor de Mello por um número de personalidades que pedem o respeito à democracia, e assim por diante. O que acontece no Brasil é um pouco assustador e o Brasil é grande demais para não nos afetar. Isso realmente me preocupa porque vejo um tom de fanatismo fechado que pode levar a algo trágico”.

Fonte: Nodal