Imprensa internacional alerta para ameaça de Bolsonaro à democracia

Inglês The Guardian destaca crescentes temores de que o presidente de extrema-direita não aceite uma derrota nas próximas eleições.

Fotomontagem feita com as fotos de: Sktterphoto/Pexels

Alarmada com as ameaças que Jair Bolsonaro vem fazendo às instituições democráticas, a imprensa internacional segue registrando os acontecimentos que vieram na esteira do 7 de Setembro. Em editorial, o inglês The Guardian alerta que, sob Bolsonaro, a democracia no Brasil está sob ataque. “O presidente de extrema direita nunca escondeu sua admiração pela ditadura. Há temores crescentes de que ele não aceite a derrota na eleição do próximo ano”, diz o jornal. “Ao contrário de Trump, Bolsonaro começou seu planejamento um ano antes de uma possível derrota e tem um corpo considerável de admiradores nas fileiras do exército; e ao contrário dos Estados Unidos, o Brasil já suportou duas décadas de ditadura militar. Alguns alertam sobre o risco muito real de um evento semelhante à invasão do Capitólio, mas mais sério. Outros acreditam que já está acontecendo: a cada dia que Bolsonaro está no poder, ele corrói ainda mais a democracia do Brasil”.

Ainda no jornal, reportagem de duas páginas de Tom Phillips, correspondente do Guardian, relatando a partir de Brasília, informa que os fanáticos do Bolsonaro vão às ruas do Brasil para incitar pelotões de fuzilamento e golpes. “Milhares se reuniram na capital atrás do populista de extrema direita, mas as pesquisas sugerem que sua presidência está saindo dos trilhos antes das eleições do próximo ano”, resume.

Washington Post reproduz despacho da Associated Press informando que o presidente da Suprema Corte Juiz do Brasil rebateu o comportamento ‘antidemocrático’ de Bolsonaro, um dia depois que o líder de direita intensificou sua rivalidade com o STF ao prometer não mais acatar uma das decisões de seu juiz. “Incentivar o descumprimento das decisões judiciais é antidemocrático, ilícito e intolerável”, disse Luiz Fux.

O argentino Clarín também repercute declaração de Fux: O presidente do Supremo responde a Jair Bolsonaro: “A Corte não tolerará ameaças à autoridade de suas decisões”. Luiz Fux discursou após as ameaças que o presidente lançou contra o judiciário nos protestos de terça-feira. Já o Página 12 destaca a movimentação de caminhoneiros que apoiam o presidente e ameaçam paralisar as atividades. Brasil: acampamento ameaçador de caminhoneiros bolsonaristas. “Tensão em Brasília um dia após a manifestação do golpe”, reporta o jornal.

New York Times destaca na edição online que Bolsonaro proíbiu redes sociais de remover postagens, incluindo suas alegações de que a única maneira de perder as eleições do próximo ano é se a votação for fraudada — uma das etapas mais importantes de controle por um líder democraticamente eleito o que pode ser dito na internet. “As novas regras no Brasil parecem ser a primeira política nacional que restringe a forma como as empresas de tecnologia podem controlar seus sites”, aponta o jornal.

Wall Street Journal minimizou os atos antidemocráticos liderados pelo presidente no Feriado da Independência e publicou que Bolsonaro reúne apoiadores antes da campanha de reeleição. “Apoiadores compareceram em mais de 100 cidades para denegrir os inimigos do líder de direita no governo e nos tribunais, conclamando os comunistas à prisão e fechamento do Congresso”, diz o subtítulo.

O britânico Financial Times vai na contramão do Journal e alerta que manifestações pró-Bolsonaro colocam Brasil em risco. “Dezenas de milhares de pessoas rumam para as maiores cidades para mostrar apoio ao presidente populista”, resume. “Advirto os canalhas: não irei para a cadeia”, disse Bolsonaro a uma multidão em São Paulo, estimada pela PM em até 125.000 pessoas. “Qualquer decisão do juiz Alexandre de Moraes, esse presidente não vai mais obedecer”. Leia a íntegra ao final deste briefing.

O francês Le Monde noticia que Bolsonaro consegue mobilização ampla e ameaça um pouco mais a democracia. “Em meio a ameaças de golpe, dezenas de milhares de manifestantes marcharam em defesa do presidente brasileiro, fragilizado por inquéritos judiciais e repetidas crises”, escreve o correspondente Bruno Meyerfeld. “Ele disse estar encurralado, cambaleando. À beira do abismo, enfraquecido por uma impopularidade recorde, vários inquéritos judiciais e crises repetidas”, relata. “Mas podemos tê-lo enterrado um pouco mais cedo”.

O português Diário de Noticías destacou na edição de quarta que Bolsonaro usa manifestações para pedir a cabeça de juiz do Supremo. “Adesão aos protestos a favor do presidente e contra os outros poderes da República em Brasília desilude núcleo duro do governo. Alexandre de Moraes foi o alvo da maioria dos ataques”, informa o correspondente João Aldeida Moreira.

Já o Público diz que Centrão protege Bolsonaro da pressão pelo seu impeachment. “Ataques do Presidente ao Supremo Tribunal aumentaram os apelos para o seu afastamento e inviabilizam entendimentos políticos entre Governo e Congresso”, informa o correspondente João Ruela Ribeiro.

O alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung parece se ater a uma cobertura mais amena da crise brasileira ao noticiar que dezenas de milhares protestaram no Dia da Independência. “Manifestantes leais ao governo saíram às ruas para marcar o Dia da Independência do país. Além das reuniões de apoiadores de Bolsonaro, muitos de seus oponentes também protestaram”, reporta.