Lula: “A cabeça da elite brasileira não mudou, esse é o significado da fome”

“Comida é só o primeiro passo. A luta contra a fome passa por muitas outras, sobretudo a fome de dignidade. O povo quer viver bem”, disse Lula no Encontro dos movimentos do Campo, das Florestas e das Águas

(foto: Ricardo Stuckert)

O Brasil chega a mais um Dia Mundial da Alimentação, celebrado pelas Nações Unidas neste sábado (16), sob o véu da mais humilhante das chagas da humanidade: a fome, flagelo que atinge diretamente mais de 20 milhões de brasileiros e voltou a colocar mais da metade da população em estado de insegurança alimentar. Diante desse cenário, é hora de lutar para retirar novamente o país do Mapa da Fome das Nações Unidas, por meio de um projeto de reconstrução nacional, clamou o ex-presidente Lula, nesta sexta-feira (15). Ele participou do Encontro dos movimentos do Campo, das Florestas e das Águas, em São Paulo, evento que reuniu dezenas de representantes de movimentos sociais, parlamentares e lideranças do PT, para debater ações de combate à fome.

“Estamos aqui para mostrar, na comemoração do Dia Mundial da Alimentação, a indignação da sociedade brasileira com relação à irresponsabilidade pela fome no terceiro maior produtor de alimentos e maior produtor de proteína animal do planeta”, afirmou Lula, em um discurso recheado de críticas à elite brasileira. O líder petista ouviu análises e relatos de movimentos sociais sobre a situação das populações mais vulneráveis no campo e nas periferias.

Lula lembrou as agruras de sua infância, quando passou fome e reafirmou a importância das lições do passado para construir o futuro. “É muito duro você sentar numa mesa e ouvir da mãe que não tem comida para colocar nessa mesa”, disse Lula. “Só quem passou por isso, sabe. Mas o que era graficamente da minha mãe é que ela sempre dizia, amanhã vai ter”, apontou.

O petista condenou a excessiva concentração de renda durante períodos de crise, gerando mais pobreza e miséria no mundo e no Brasil. “Essas pessoas que estão com fome, não é por falta da produção de alimento no campo, é por falta de dinheiro”, considerou. “A cabeça da elite econômica brasileira não mudou. Acabaram com a escravidão, teoricamente, em 1888, para quê? O negro que vivia na senzala passou a ser chamado de vagabundo, um pária”, denunciou. “Esse é o significado da existência da fome”.

“Se formos analisar quantos trilhões de dólares os países ricos colocaram para salvar o sistema financeiro na crise de 2008, daria para resolver a fome em todo o planeta”, apontou o ex-presidente. “Assim é a elite brasileira, sabe da fome por leitura. Mas quem lê não sente a fome”. Para a classe dominante, Lula insistiu, o pobre não passa de uma estatística. “Esse país nunca foi governado 100% para o povo mas para uma minoria privilegiada”, lamentou.

Ele falou ainda sobre outros “processos” de fome que pelo quais passam o país. “Temos fome de emprego, educação, cultura, direitos humanos, salário justo, desenvolvimento, empresas públicas, justiça, saúde de qualidade, água potável, saneamento, habitação, qualidade de vida, fraternidade, solidariedade, reforma agrária, crédito ao pequeno produtor, democracia, igualdade, paz e amor”, elencou.

“É possível mudar isso? Sim. Quem pode fazer isso? Nós”, respondeu, apontando o papel do PT, dos sindicatos e dos movimentos sociais na transformação do país em uma sociedade brasileira mais justa e fraterna. “A luta contra a fome passa por muitas outras, sobretudo a fome de dignidade. Precisamos recuperar a dignidade, restabelecer a democracia, porque nosso povo quer emprego, salário, cultura, viver bem”, concluiu.

Fonte: PT Nacional