Conama revela que governo mente sobre consulta de pauta para COP-26

Conselheiro do Conama nega que tenha debatido pauta climática com Meio Ambiente, assim como outras organizações e empresas. Governo montou lista com 219 instituições para referendar suas posições em Glasgow.

Reportagem publicada nesta sexta-feira (22), pelo Estadão revelou que diversas instituições e empresas que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) diz ter consultado para elaborar sua proposta climática que levará à COP-26, evento que será realizado em Glasgow, na Escócia, entre 31 de outubro e 12 de novembro, negaram qualquer tipo de consulta sobre o assunto.

A mentira ficou ainda mais evidente conforme o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão consultivo que tem papel fundamental na definição de normas e critérios para o setor em todo o País, também confirmou que não houve qualquer discussão com o governo sobre proposta que pretende levar à conferência, apesar do MMA dizer que consultou a instituição.

O conselheiro do Conama e também secretário de Meio Ambiente do governo de Pernambuco, José Bertotti, disse que não houve nenhuma pauta relacionada ao tema nas duas últimas reuniões do conselho, realizadas nos dias 10 de agosto e 7 de outubro. “Participei das últimas duas reuniões do Conama e não foi pautado nada relativo à COP-26. É uma situação completamente estranha”, disse Bertotti.

Segundo o conselheiro do Conama, José Bertotti, o governo de Pernambuco também pediu o agendamento de duas reuniões em um pavilhão que o governo brasileiro deverá ter na estrutura da COP. Até o momento, porém, nenhum dos encontros teve seu agendamento confirmado pelo MMA.

“É uma situação inacreditável. Não sabemos sequer se poderemos usar a estrutura para realizar encontros bilaterais. A realidade é que ninguém diz nada, o diálogo é incipiente e difuso”, disse Bertotti.

A lista do MMA aponta 219 instituições e empresas como colaboradoras da proposta brasileira sobre as mudanças climáticas. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), por exemplo, foi taxativa em declarar que não participou de nenhuma consulta, depois de fazer um levantamento em todas as suas áreas que poderiam ter lidado com o assunto. A organização ambiental WWF-Brasil também negou qualquer tipo de contato com o governo para tratar do assunto, bem como o Instituto Centro de Vida (ICV).

O amadorismo da mentira é tal que a lista traz empresas e suas associações, como se fossem entidades distintas para consultas, que também negam envolvimento.

Do Estadão

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