Deve-se desmantelar o império do Facebook?

Mark Zuckerberg admite uma ”profunda admiração” pelo imperador romano Augusto, o que não é reconfortante em relação às suas intenções no controle do manete de um monstro cujas recentes revelações mostraram uma toxicidade absoluta. (*)

“Qual figura histórica poderia servir de modelo para você?” O fundador do Facebook foi questionado no alvorecer de uma espécie de annus horribilis interminável de escândalos cada vez mais manchando sua, até então, agradável imagem.

Mark Zuckerberg poderia ter focado no papel inovador, com Gustave Eiffel, Marie Curie ou Thomas Edison; ele poderia ter jogado com as relações públicas e ter deitado elogios a Nelson Mandela ou Mahatma Gandhi, mas, fiel a si mesmo, ele simplesmente respondeu ao New Yorker: “Sempre tive uma profunda admiração pelo imperador romano Augusto.”

Essa declaração tem o mérito de ser verdade, pois o jovem Zuckerberg estudou latim e história clássica muito antes de copiar a ideia de uma rede social entre alunos também chamada de Facebook. Ele e sua esposa deram o nome de August à sua segunda filha em homenagem ao imperador, que reinou ignorando todas as regulamentações do senado e espionando rivais por meio de um sofisticado sistema de escuta ilegal.

Augusto é, sem dúvida, uma melhor escolha como modelo do que, digamos, Calígula, mas não tranquiliza sobre as intenções de Zuckerberg se deixado livre para o que bem entender. A denunciante Frances Haugen sabe algumas coisas sobre isso: os documentos que ela entregou aos reguladores do mercado financeiro em Washington e a vários meios de comunicação demonstram a toxicidade do império do Facebook, cujos algoritmos alimentam a violência, o desânimo, o autoritarismo e a depressão.

Sua vinda à Europa para ser ouvido no Parlamento Europeu e na Assembleia Nacional em Paris simboliza o novo desejo de ambos os lados do Atlântico de encontrar uma parada para este monstro. O desmantelamento do império do Facebook parece ser a resolução mais fácil e rápida. Zuckerberg não aprovaria isso, mas, afinal, o imperador Augusto sem dúvida teria defendido uma solução muito menos pacífica.

* Editorial Liberatión

Fonte: Carta Maior l Tradução por César Locatelli

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