Vacina em crianças: diretores da Anvisa pedem proteção policial

A Anvisa pediu à PF e a outros órgãos a apuração de ameaças contra diretores e servidores, após Bolsonaro exigir os nomes dos técnicos para divulgar a seus apoiadores antivacina.

Vacinação contra covid em Brasília. Foto: Breno Esaki/Agência Brasília

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pediu à Polícia Federal (PF) e a outros órgãos a apuração de ameaças contra diretores e servidores, além de reforçar pedido de proteção policial. As ameaças vêm acompanhadas de declarações do presidente Jair Bolsonaro criticando a vacinação de crianças e ameaçando os técnicos do governo que a aprovaram.

“A Anvisa informa que, em face das ameaças de violência recebidas e intensificadas de forma crescente nas últimas 24 horas, foram expedidos neste domingo (19) ofícios reiterando os pedidos de proteção policial aos membros da Agência. Tais solicitações já haviam sido feitas no último mês de novembro quando a agência recebeu as primeiras ameaças”, diz o órgão, em nota.

As ameaças surgiram após decisão da Anvisa de autorizar a aplicação da vacina da Pfizer contra covid-19 em crianças de 5 a 11 anos, na última quinta-feira (16). “O crescimento das ameaças faz com que novas investigações sejam necessárias para identificar os autores e apurar responsabilidades”, diz a Anvisa.

Ameaças presidenciais

Contrário a todo tipo de vacinação, Bolsonaro disse ter pedido ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que os pais e responsáveis ​​de menores de 12 anos têm que assinar um termo de responsabilidade para vacinar as crianças, além da exigência de receita médica. A declaração foi dada neste domingo (19) a apoiadores e jornalistas que acompanhavam o presidente em Praia Grande, no litoral sul de São Paulo. 

O pedido voltou a reforçar a fala de três dias antes, quando afirmou ter sido à Anvisa a divulgação do nome dos técnicos responsáveis ​​pela aprovação do imunizante da Pfizer para vacinar crianças de 5 a 11 anos —o que causou reação da agência, repudiando uma ameaça. “A partir do momento que alguém faz um ato delitoso tem que se apresentar para ganhar medalha”, disse, ao lado de apoiadores.

Bolsonaro falou abertamente, em live, nesta quinta, que queria os nomes dos técnicos da Anvisa, para divulgar a seus apoiadores antivacina para que tomem atitudes a respeito. “Queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento de quem foram essas pessoas e forme seu juízo.”

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já anunciou que vai postergar a vacinação infantil, alinhado com a mentalidade antivacina do presidente, apesar de muitos países avançados já estarem vacinando crianças. As doses sequer foram compradas para este público. Bolsonaro compara a “pressa” em vacinar crianças às críticas ao uso da cloroquina e ivermectina no tratamento da covid. Se houve cautela em relação a esses medicamentos, é preciso ter cautela com a vacina, defende ele.

O ofício de hoje da Anvisa foi encaminhado para o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno; o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres; o procurador-geral da República, Augusto Aras; o diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, e o superintendente regional da Polícia Federal no Distrito Federal, Victor Cesar Carvalho dos Santos.

“Mesmo diante de eventual e futuro acolhimento dos pleitos, a agência manifesta grande preocupação em relação à segurança do seu corpo funcional, tendo em vista o grande número de servidores da Anvisa espalhados por todo o Brasil. Não é possível afastar neste momento que tais servidores sejam alvo de ações covardes e criminosas”, acrescenta a nota.

A Anvisa informou ainda que não publicará os anexos que materializam as ameaças recebidas para não expor os dados pessoais dos envolvidos, no entanto, disse que todas as informações foram encaminhadas às autoridades responsáveis.

Na última sexta-feira, a diretoria da Anvisa divulgou nota rebatendo questionamentos do presidente Jair Bolsonaro acerca da decisão de autorizar a vacinação em crianças com o imunizante da Pfizer-BioNTech.

Da Agência Brasil

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