Chuvas põem a nu a tragédia da mineração em Minas Gerais

O Instituto dos Arquitetos do Brasil solta nota para denunciar a destruição provocada pelas mineradoras com anuência dos governos

Lama da mina Pau Branco, da mineradora Vallourec, invadiu a BR-040, em Nova Lima, MG - Foto Brasil 84 Comunicação

As chuvas intensas em Minas Gerais põem a nu a tragédia anunciada pela mineração no quadrilátero chamado de ferrífero. O perímetro do quadrilátero – para lhe fazer jus, o quadrilátero aquífero – cerca as serras do Curral, da Piedade, do Caraça, do Gandarela, de Ouro Branco, da Moeda, do Rola Moça, encosta em Belo Horizonte na face da Serra do Curral, e guarda preciosidades: cidades, igrejas, sítios arqueológicos, grutas, parques naturais, vida silvestre, casas, gentes. E água.

Guarda ainda seu maior pecado: minério. Desde a descoberta do ouro no final do século XVII, nossa riqueza é para inglês ver, é para rechear os cofres do quinto, é o minério de ferro sendo arrancado e expatriado, deixando seu rastro de crateras, águas exauridas, solo contaminado, rios mortos, famílias destroçadas.

A tragédia em Capitólio é de outro espectro, mas da mesma ordem predatória do território. Nos falta cuidado, discernimento, escolhas justas, diretrizes claras. Nos falta bom senso, e nos falta, principalmente, governo. O simulacro que hoje temos não cuida, não protege, não planeja, não confia nos especialistas, não toma providências.

2022 chega com horror e tristeza. O Instituto de Arquitetos do Brasil une-se à dor das famílias atingidas por tantas tragédias.

Maria Elisa Baptista
Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil
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