Vida e lutas de Vital Nolasco (1946-2022), por Osvaldo Bertolino

Segundo Vital, a síntese da sua vida era a de um operário consciente, que sabia da importância da luta pela transformação social, que abraçou a causa do socialismo

O jornalista Osvaldo Bertolino (à dir.) coordenou o projeto da biografia de Vital Nolasco

Vital Nolasco nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 16 de dezembro de 1946, uma época em que no Brasil emergia a esperança de um ciclo de desenvolvimento com democracia. Cresceu com a responsabilidade do trabalho duro para ajudar o sustento da família e realizando tarefas domésticas. Vendia na rua salgados produzidos pela mãe e frequentava a escola, de forma precária.

Na adolescência, se integrou à Juventude Operária Católica (JOC) e enfrentou a ditadura militar, já como operário, e foi para a Ação Popular (AP), que reuniu os seguimentos da Igreja Católica com atuação política nas áreas trabalhista e estudantil. Em 1968, foi uma das lideranças das históricas greves de Belo Horizonte e Contagem, que desafiou a ditadura. Perseguido, fugiu para São Paulo e se incorporou à AP local, com o codinome Vicente.

Em sua biografia Vale a pena Lutar (Editora Anita Garibaldi, 2015), Vital conta que, atuando em São Paulo, conheceu Frei Chico, irmão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e participou com ele de lutas contra o aumento da passagem de ônibus e de discussões sobre a eleição da diretora do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em 1969. Lula ainda não era liderança de destaque na categoria.

A intermediação em São Paulo se dava por meio de Antônio Almeida Soares, conhecido Tom, ex-padre que fora assistente da JOC com trânsito entre lideranças católicas e populares. Foi assim que Vital passou a morar na residência do padre Fernando Penteado na capela do bairro Cidade Leonor, zona Sul de São Paulo. Foi quando conheceu Aurélio Peres — que seria uma importante liderança operária dos metalúrgicos paulistanos e se elegeria deputado federal por dois mandatos —, coordenador do Movimento do Custo de Vida. Conheceu também uma das principais lideranças históricas da AP, Duarte Pacheco.

Vital começou a trabalhar como operário, casou-se com a também militante da AP Ester e foram morar numa pequena casa em Taboão da Serra, cidade da Região Metropolitana de São Paulo. Pouco tempo depois, vários de seus companheiros foram presos. Como medida de segurança, os demais integrantes da AP abandonaram empregos e residências. O casal foi morar no quarto de empregada de um sobrado da irmã da Ester. Deixaram tudo para trás. Quando a poeira baixou, voltaram para pegar suas coisas.

Era a época da expansão da indústria nacional, existia muito emprego. E Vital foi se qualificar para arranjar um trabalho melhor. Fez um teste no Senai do bairro do Tatuapé e passou no curso de eletricista. Pagava-se meio salário-mínimo até a formação. Depois do curso, foi trabalhar na construção civil e mais tarde entrou na Philco, uma fábrica de produtos eletrônicos no bairro do Tatuapé.

Quando começou a Guerrilha do Araguaia, em 12 de abril de 1972, no Sul do Pará, Vital, junto com seus companheiros da AP, incorporou a tarefa de arrecadar ajuda — roupas, alimentos e remédios, principalmente — para os guerrilheiros. Seus contatos com a JOC em Belo Horizonte foram acionados para ajudar na tarefa.

O início dos combates apressou o processo de incorporação da AP ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), ao qual Vital imediatamente se integrou. “A gente sabia da Guerrilha pelas rádios Tirana (da Albânia) e Pequim (da China). Muitas vezes conhecíamos determinados assuntos bem antes da mídia brasileira”, revelou. “O rádio servia como um guia. Quando eu entrei na Philco, consegui um rádio Transglobe, um aparelho multibanda com muitas faixas de ondas, possibilitando-me a escuta de longínquas emissoras de rádio em qualquer horário do dia ou da noite.”

Nessa época, já era dirigente da APML – com o marxismo-leninismo acrescentando ao nome original da Ação Popular – em São Paulo. “Estávamos no processo de transição, na fase final de incorporação ao PCdoB. Não participei da grande discussão, mas, como militante de base e dirigente intermediário, dei a minha opinião favorável. Mergulhei nas obras de Lênin e fui compreendendo melhor o processo revolucionário na prática. O problema do partido de novo tipo como instrumento para as transformações sociais profundas, portanto, era um assunto bem esclarecido para mim”, afirmou.

Com a consolidação da incorporação da APML ao PCdoB, Vital passou a atuar na chamada “estrutura dois” – a “estrutura um” era a dos militantes comunistas mais antigos. Foi uma fórmula encontrada para preservar a militância dos golpes da repressão. O “trabalho sindical”, ao qual estava ligado, era mais forte na AP. “Tínhamos uma boa organização da oposição sindical metalúrgica em São Paulo”, disse.

Em 1974, quando a ditadura fez uma caçada aos ex-militantes da APML, Vital foi preso. Havia sido alertado por ex-militantes da organização sobre outras prisões e pediu para ser demitido da Philco. No dia da homologação dos seus direitos, em plena Delegacia Regional do Trabalho, no centro de São Paulo, recebeu voz de prisão. “Quando chamaram meu nome só vi um bando se levantar e me agarrar. Eram agentes da repressão que estavam por ali, disfarçados, esperando eu ser chamado para me identificar.”

Vital conta que fez “um comício”. “Gritei, esperneei, falei que iam me matar e que eram um bando de assassinos. Joguei a minha Carteira de Trabalho no meio do povo, atitude que se revelou providencial porque estava lá uma companheira da Pastoral Operária da Igreja Católica que pegou o documento e entregou aos padres.” A informação de que a prisão se devia à ligação com a APML, não com o PCdoB, foi recebida com certo alívio, por não estar ligada à Guerrilha do Araguaia, alvo da fúria da repressão.

A desinformação sobre a ligação com o PCdoB se deveu à decisão da direção nacional de manter as estruturas das duas organizações atuando separadamente. Mesmo assim, Vital foi cruelmente torturado no Destacamento de Operações de Informações (DOI) e um Centro de Operações de Informações (Codi) – o sinistro DOI-Codi. Passou quarenta dias preso, dos quais vinte sob torturas. Depois foi transferido para o Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

Vital viu a morte de perto, mas não lhe arrancaram uma palavra sobre o que queriam saber – a ligação com a Guerrilha do Araguaia. “Só não me mataram porque tive a sorte de contar com as denúncias sobre a minha prisão”, disse. Padre Fernando descobriu seu paradeiro e, com a atuação do clero progressista paulista liderado pelo cardeal dom Paulo Evaristo Arns, deixou a prisão. Outros membros da APML – entre eles Aurélio Peres – passaram pelo mesmo processo.  

Vital voltou a trabalhar e a atuar no movimento sindical. “Consegui trabalho de eletricista em uma empresa que fabricava produtos farmacêuticos, a Squib. No exame de saúde admissional, quando o médico viu as marcas das torturas nas costas perguntou o que era. Respondi que havia caído. Ele engoliu ou fez vistas grossas, não sei. O fato é que me aprovou.”

Em 21 de março de 1975, nasceu seu filho Daniel, que recebeu o nome em homenagem a Danielli – Carlos Nicolau Danielli –, secretário de Organização do PCdoB e um dos principais artífices da incorporação da APML ao PCdoB, brutalmente assassinado no DOI-Codi paulista no âmbito da repressão à Guerrilha do Araguaia. O casal já tinha a filha Patrícia. “Os presos me disseram que ele fora assassinado em 31 de dezembro de 1972, depois de quatro dias de torturas, por não ter revelado absolutamente nada sobre a Guerrilha do Araguaia”, afirmou.

Por precaução, ficou um tempo – quase dois anos – sem contato com o PCdoB, receoso de estar sendo acompanhado pela repressão. Em meados de 1976, quando havia sinais de que a ditadura militar começava a se enfraquecer, apesar de continuar aplicando o terrorismo de Estado como método de governo, procurou o Partido. Em dezembro daquele ano soube da Chacina da Lapa, quando parte da direção comunista foi assassinada ou presa.

No final de 1977, Vital participou da formação de células do PCdoB na zona Sul e de um diretório distrital, sob a orientação do dirigente nacional José Duarte, recém­saído da prisão. Os comunistas deveriam entrar para o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) – o partido de oposição à ditadura –, a forma de “legalizar” a atuação dos comunistas. Vital foi presidir o diretório emedebista da região que, em 1978, lançou a vitoriosa candidatura de Aurélio Peres a deputado federal.  

Vital conta que na militância sindical começou a organizar o PCdoB depois da divulgação do documento Maior atenção às reivindicações proletárias, em 1978, orientando a atuação dos comunistas nessa área. Logo seria fundado o jornal do PCdoB, a Tribuna da Luta Operária. Na primeira edição – Vital passaria a escrever regularmente no jornal –, em 18 de outubro de 1979, escreveu um texto falando da situação dos metalúrgicos. No ano anterior e naquele ano, o clima havia esquentado com as greves iniciadas no ABC paulista, quando despontou a liderança de Lula.

Escreveu como “Um metalúrgico de Osasco” relatando que nas reuniões e assembleias a conversa era uma só: a categoria não estava mobilizada, apesar da situação complicada que havia levado à retomada das greves, dez anos depois das paralisações em Contagem, Minas Gerais, e Osasco, São Paulo. Disse que, no Brasil todo, diversas categorias estavam radicalizando as lutas e questionou a passividade dos metalúrgicos de São Paulo, o maior centro operário da América Latina.

Vital avaliou que estava convencido de que uma greve em São Paulo, envolvendo quinhentos mil metalúrgicos – naquela época em que mais de um milhão e duzentos mil trabalhadores estavam em campanha salarial –, poderia arrastar a região para uma greve geral que, se não derrubasse a ditadura, poderia acelerar muito o processo democrático. “Naquele processo surgiriam as autênticas lideranças que conduziriam os trabalhadores ao lugar que lhes cabia dentro da sociedade. Mas, avaliei, uma coisa era certa: ninguém resolveria a grave crise que o país enfrentava sem antes passar por cima do cadáver da ditadura.”

Em maio de 1980, Vital foi um dos fundadores do Centro de Cultura Operária (CCO), presidido por ele, para promover debates, conferências, divulgar livros e outros materiais de interesse dos trabalhadores. “Conforme relatei em um artigo na Tribuna Operária, já na primeira reunião da diretoria debatemos formas de propagar as ideias do marxismo­leninismo. Avaliamos que a entidade surgira do avanço das lutas operárias, do grau de organização do povo e das dificuldades enfrentadas pela ditadura.”

Em maio de 1979, nasceu a filha Iara. Foi quando entrou na Metal Leve, na época um gigante do setor de auto­peças. “Havia uma orientação do PCdoB para os militantes do movimento sindical entrarem em grandes empresas, mas ninguém impôs nada. Fiz o que fiz por vontade própria. E assim voltei a frequentar o sindicato, a falar em assembleias e ter ativismo sindical intenso”, lembrou.

No horizonte estava a possibilidade de ampliação da atuação dos comunistas no movimento sindical. Em 1981, lançaram a chapa 3 para as eleições do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, encabeçada por Aurélio Peres, que ficou em terceiro lugar, disputando com a situação – liderada pelo presidente do sindicato, Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, nomeado interventor pela ditadura, mas do tipo conciliador –, a vencedora, e com a chapa 2, formada por correntes do Partido dos Trabalhadores (PT).

Nas eleições de 1984, Vital integrou chapa de Joaquinzão. “Naquela época, a Metal Leve tinha mais de mil e cem sindicalizados, um dos índices mais elevados da categoria. Fui indicado para integrar a diretoria executiva do sindicato, com o cargo de segundo secretário-geral”, recordou. No processo do 6º Congresso do PCdoB, em 1983, ainda na clandestinidade, fora eleito para direção estadual do PCdoB.

Vital conta que, com o fim da ditadura militar, representado pela eleição de Tancredo Neves — que, acometido de grave doença que o levaria à morte, não assumiu, ficando em seu lugar o vice, José Sarney —, era hora de se preparar para um novo ciclo político no Brasil. “Com o objetivo de capacitar teoricamente os militantes sindicais, criamos o Centro de Estudos Sindicais (CES), para o qual fui eleito presidente.”

Em junho de 1988, o PCdoB anunciou seu nome como candidato a vereador. Ficou na segunda suplência e assumiria a vaga do petista Juarez Soares, que fora indicado para a Secretaria de Esportes. “Fizemos uma campanha modesta, na base da militância, com pouquíssimo recurso”, lembra. “A prioridade era o Aldo Rebelo. Meu nome foi lançado apenas para compor a chapa. Mas com um pouquinho de estrutura eu teria sido eleito; faltaram poucos votos, uns duzentos.”

Sua atuação como vereador foi profícua. Por sua iniciativa, foi concedido o título de Cidadão Paulistano ao líder negro sul-africano Nelson Mandela. “Ele fora libertado em 11 de fevereiro de 1990 e, ao saber que viria ao Brasil, no dia 20 do mesmo mês apresentei uma moção de apoio à luta contra o apartheid, destacando que sua libertação representava um grande passo na luta de todos os povos oprimidos. Personalidades como João do Vale, Beth Carvalho e Martinho da Vila participaram daquela campanha, que foi a nossa maneira de prestar solidariedade ao povo africano”, recorda.

Mandela chegou dia 2 de agosto de 1991. “Fui ao aeroporto de Congonhas recepcioná-lo, integrando a comitiva liderada pela prefeita Luiza Erundina e o senador Eduardo Matarazzo Suplicy”, lembrou. Num ato na Assembleia Legislativa, Vital encontrou-se com Mandela. “O vereador Arnaldo Madeira (PSDB), presidente da Câmara Municipal de São Paulo, discursou em nome da bancada parlamentar paulistana e me pediu que fizesse a entrega para ele do título de Cidadão Paulistano.”

A homenagem a Mandela ocorreu quando estava nascendo um importante movimento antirracista, a União de Negros pela Igualdade de São Paulo (Unegro), com a palavra de ordem “Rebele-se contra o racismo, o capitalismo e o neoliberalismo”. Vital participou ativamente do processo. Em junho de 1991, apresentou um Projeto de Lei determinando que a “Semana da Consciência Negra” fizesse parte do calendário oficial de comemorações da cidade e que o 20 de novembro passasse a ser lembrado como o “Dia de Zumbi dos Palmares”. Surpreendentemente, segundo Vital, o Projeto foi aprovado com relativa facilidade.

Outra iniciativa foi a apresentação do Projeto de Lei que criava o “Museu do Negro”, igualmente aprovado. Mais tarde, no “Dia da Abolição” — 13 de maio —, apresentou o Projeto que criava o “Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro”, vinculado à Secretaria da Cultura, para a preservação e divulgação da cultura afro-brasileira em suas mais diversas manifestações, que também seria aprovado. Apresentou ainda um Projeto de Lei proibindo expressamente a prática de discriminação racial em processos de licitações, concursos ou prestação de serviços.

Em meio a essa intensa atuação contra a discriminação racial, o samba invadiu a Câmara Municipal. Era o dia 6 de agosto de 1992, quando a famosa dona Ivone Lara, autora de Sonho Meu — dentre tantas outras músicas maravilhosas —, recebeu o título de Cidadã Paulistana, por iniciativa do mandato de Vital. Em seu discurso, afirmou que aquele gesto era a demonstração de carinho, respeito e gratidão à arte de dona Ivone Lara.

Outro momento reverente foi quando seu mandato concedeu, em 30 de maio de 1993, o título de Cidadã Paulistana a Maria do Carmo Gerônimo que, conforme o livro dos recordes Guiness, era a mulher mais idosa do mundo, com cento e vinte e três anos de idade. Nascida no município mineiro de Carmo de Minas, sua história refletia a face cruel do racismo brasileiro. Seu nome apareceu na mídia, dizendo que era uma brasileira negra que não havia nascido em liberdade e que chamou a atenção do mundo pela sua longevidade (viveu de 5 de março de 1871 a 14 de junho de 2000, um total de cento e vinte e nove anos).

Outro momento importante do mandato foi a CPI das Ossadas de Perus. A abertura de uma tumba com mais de mil e quinhentas ossadas no cemitério Dom Bosco — construído no bairro de Perus, em 1970, logo após o AI-5, quando o Brasil mergulhou na generalização das torturas e assassinatos —, desencadeou as investigações. Os corpos de Carlos Danielli, Pedro Pomar e Ângelo Arroyo foram descobertos ali.

Na sucessão de Luiz Erundina, em 1992, Vital se reelegeu vereador. Durante o segundo mandato, sua atuação no movimento sindical também foi intensa. Em setembro de 1993, entregou o título de Cidadã Paulistana para Jaci dos Santos, cujo nome artístico era Thereza Santos. Teatróloga, atriz, professora, filósofa, carnavalesca e militante das causas dos povos africanos, na década de 1960 já atuava no Movimento pela Libertação dos Povos Africanos de Expressão Portuguesa. Ligada ao PCB, foi presa nos anos 1970 e, ao ser libertada, deixou o Brasil.

O jornal Folha de S. Paulo, no entanto, em uma reportagem sobre o preconceito racial na edição de 25 de junho de 1995, tentou desqualificar a atuação de Vital nessa frente. Seria mais “mulato do que negro”. “Mulato afirma ser negro por uma questão política”, dizia o título da matéria. “Na época eu presidia uma comissão de acompanhamento das comemorações dos trezentos anos de Zumbi dos Palmares e fui insistentemente induzido a fazer declarações mitigando a minha condição de negro”, reagiu.

Na eleição de 1996, ficou na suplência (só assumiria em 1999, quando vereadores da coligação se afastaram para exercer outras funções). “Fui à Metal Leve e procurei o departamento industrial para tratar da minha volta ao trabalho”, recordou. Mas foi recusado por ter sido vereador por dois mandatos, o que, segundo a alegação da empresa, implicava problemas políticos e inviabilizava o seu retorno à produção.

Ao mesmo tempo, assumiu a presidência do Comitê Municipal de São Paulo do PCdoB. “Fiquei neste posto pouco tempo, cerca de três meses, porque o Comitê Central me designou para o posto de secretário de Movimentos Populares e Sociais, experiência que me trouxe mais conhecimentos sobre a realidade do povo brasileiro. Escrevi, n’A Classe Operária, órgão central do PCdoB, uma série de artigos abordando temas como moradia, desemprego e Previdência Social”, lembrou. Em 1998, foi lançado pelo PCdoB candidato a deputado federal, mas não se elegeu.

Em 2003, assumiu a Secretaria de Finanças e liderou a campanha para a construção de uma sede própria, lançada na festa do 85° aniversário do PCdoB, em março de 2007. “Fizemos cartazes, adesivos e folhetos dizendo que deveríamos ocupar um novo patamar na política, ter mais visibilidade”, destacou. “Em janeiro de 2008, compramos um edifício no centro de São Paulo.”

O ano de 2014 foi o das homenagens. A primeira ocorreu em 1º de fevereiro, durante um ato das centrais sindicais sobre os trabalhadores perseguidos pela ditadura militar, realizado no Teatro Cacilda Becker, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. O ato unitário “Unidos, jamais vencidos” lembrou a trajetória de mais de quatrocentos sindicalistas que enfrentaram a tirania daquele regime para defender os interesses dos trabalhadores.

Vital recebeu um diploma de reconhecimento por sua luta, assinado pelas centrais. O evento integrava as ações promovidas pelo coletivo sindical do grupo de trabalho “Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical”, da Comissão Nacional da Verdade — uma iniciativa do governo Lula —, que estava reunindo testemunhos de violências e perseguições contra os trabalhadores.

Em 3 de maio, recebeu a homenagem considerada por ele a mais emocionante de sua vida, prestada pelo PCdoB por seus 50 anos de militância política ininterruptos. Participaram do evento, no auditório da sede nacional do Comitê Central, familiares, amigos e camaradas. A abertura da cerimônia teve início com a exibição de um vídeo sobre sua história de vida, editado com depoimentos de amigos e camaradas.

Em seguida, o então presidente do PCdoB, Renato Rabelo, fez um emocionado pronunciamento, como demostram esses trechos:

“(…) Assim era o Vital. O caminho dos militantes mais destacados das juventudes católicas era o ingresso na Ação Popular. Por sua militância de compromisso crescente, no contexto de uma ditadura cada vez mais feroz, Vital passou a sofrer como muitos outros uma vida de perseguição e clandestinidade. A solidariedade e a generosidade eram o grande preceito nessa época. Como morar, viver e atuar sem essa solidariedade expressiva? Era o risco da prisão, da tortura e da morte.

(…) Por isso essa é uma justa iniciativa que nós, da direção nacional, participamos e apoiamos. Vital foi militante com ação nesses momentos que exigiam grande abnegação. Ele e sua esposa, Ester, sempre foram marcas de elevada generosidade. (…) Vital elevou seu papel de dirigente político na condução desse decisivo trabalho para o Partido: a conquista dos meios e dos recursos financeiros para a edificação e o fortalecimento do PCdoB.

Na conquista da sede própria teve grande desempenho. Temos afirmado que, definida a política, a questão central passa a ser a dos meios e dos recursos para cumpri-la. Daí a importância central da política de finanças, que Vital soube como ninguém conduzir. Vital, sei que você continuará sua militância. Estará em outra frente, entusiasmado e cheio de paixão. Você está entre os quadros imprescindíveis. Saudações comunistas!

Logo em seguida, Vital foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). “O problema era na fala, eu pensava, mas não conseguia me expressar. Injetaram anticoagulante e fiz vários exames. Fiquei na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por dois dias, mas em menos de 24 horas o quadro foi revertido. Fiquei internado uns quatro dias e voltei ao normal; não houve sequelas”, detalhou.

Na parte final de sua biografia, Vital diz que sempre teve uma convivência muito boa com filhos, irmãos, irmãs, cunhadas e cunhados. “Na homenagem que o PCdoB prestou-me pelos meus 50 anos de militância, quase todos estavam presentes. Lógico que a militância intensa, sempre sacrificada, não permitiu uma convivência constante, mesmo com os filhos. Mas todos compreendem bem o motivo do sacrifício. Acho até que não cuidamos dessa questão como deveríamos, mas eram as condições da época que, agora com uma visão melhor das coisas, sabemos que poderia ter sido diferente.”

Segundo ele, a síntese da sua vida era a de um operário consciente, que sabia da importância da luta pela transformação social, que abraçou a causa do socialismo. “Tanto é que faço questão de ser sindicalizado até hoje, mesmo aposentado. Apesar de minha aposentadoria ser uma merreca, todo mês eu vou lá contribuir”, disse. “Tudo que sou devo, além da minha formação familiar e da experiência de vida, ao PCdoB, que me ensinou o valor do humanismo e da solidariedade. Não tenho nenhum arrependimento. Se pudesse voltar atrás, faria tudo de novo; claro que corrigindo alguns detalhes. Diria que valeu e vale a pena lutar.”

* Osvaldo Bertolino, jornalista, foi o coordenador editorial da biografia Vital Nolasco – Vale a Pena Lutar (2016)