Troca de comando na PF para blindar Bolsonaro causa reação no Congresso

Deputados e senadores protestam contra a mudança pretendida pelo novo-diretor geral do órgão que visa alterar a composição da Diretoria de Combate ao Crime Organizado (Dicor), responsável por investigar o presidente

O novo diretor-geral da Polícia Federal, Márcio Nunes de Oliveira. Foto: Divulgação - Polícia Federal

O novo diretor-geral da Polícia Federal, Márcio Nunes de Oliveira, o quarto no cargo em menos de 40 meses, já sinalizou que vai mudar a direção da Diretoria de Combate ao Crime Organizado (Dicor). A diretoria é responsável por investigar quem possui foro privilegiado, no caso o próprio Bolsonaro. O novo diretor-geral é homem de confiança do atual ministro da Justiça, Anderson Torres.

São diversas investigações que pesam contra o presidente, sendo as principais de interferência na PF, vazamento de informações sigilosas de inquérito e desinformação sobre vacina (associação do imunizante com a Aids).

No parlamento, a reação sobre as trocas de comando na PF foi imediata. A vice-líder da Oposição na Câmara dos Deputados, Perpétua Almeida (PCdoB-AC), disse que esse tipo de interferência não pode ser natural. “Bolsonaro mais uma vez troca diretor da Polícia Federal. Qual a primeira providência do novo diretor? Trocou o comando do setor que investigava Bolsonaro. E tudo isso vai passando como se fosse normal. Não é! O presidente impede qualquer investigação contra ele e a família”, protestou a deputada.

O vice-líder do PCdoB na Casa, Orlando Silva (SP), ironizou a troca: “Mais um inquérito da Polícia Federal contra Bolsonaro, agora pela grotesca e criminosa fala relacionando vacinas e vírus da Aids. Mais uma troca no comando da PF e subordinados, inclusive o responsável pelos casos de Bolsonaro. Falta colocar o Bananinha para investigar o papai.”

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) também alfinetou: “Sabe aquela história de que ‘no meu governo não tem corrupção’? Que tal atualizar para, quem investiga a gente demite? Não por menos este governo foi eleito o mais corrupto! E vc bolsonarista, segue passando pano?”, escreveu no Twitter.

O líder da Oposição no Senado, senador Ranfolfe Rodrigues (Rede-AP), recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar mudanças no Dicor e na Diretoria de Inteligência Policial (DIP), bem como em seus órgãos subordinados. Isso até a conclusão dos inquéritos em curso contra investigados com foro privilegiado.

“A PF não é uma extensão do cercadinho do presidente da República: trata-se de um órgão de Estado, estratégico para o devido funcionamento das instituições republicanas, cujas atribuições não podem ser violadas ao bel-prazer ou para atender caprichos e interesses particulares do governante de plantão”, justificou o senador.

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