90 anos do Voto feminino

Com esse direito assegurado, saem do espaço privado para o espaço público, dando voz às suas aspirações e visão de mundo, garantindo seu espaço de fala tanto tempo negado

Há 90 anos, mais precisamente no dia 24 de fevereiro de 1932, as mulheres brasileiras davam um grande passo na luta pelo exercício da cidadania plena: o voto. Essa conquista não foi apenas fruto de um decreto assinado pelo presidente Getúlio Vargas. Na verdade, ela resultou de muita pressão e mobilização de sufragistas que buscavam a igualdade de direitos políticos no país.

Aliás, se não tivesse havido pressão do movimento feminista, o Código Eleitoral teria sido aprovado como estava redigido em 1931, com o direito de ir às urnas assegurado somente a mulheres viúvas e solteiras com renda própria e casadas com autorização dos maridos. Era como se o direito de votar tivesse atrelado não à cidadania, mas à condição econômica.

Mas a pressão das mulheres – incluindo aí a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que enviou cartas ao presidente Vargas, pedindo que o direito ao voto fosse ampliado – surtiu efeito e a redação final do Código Eleitoral assegurava o direito ao voto a qualquer cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo. A diferença é que votar não era obrigatório para elas.

Quando as mulheres rompem a barreira da exclusão política elas conquistam não somente o direito de votar, mas também de serem votadas. Com esse direito assegurado, saem do espaço privado para o espaço público, dando voz às suas aspirações e visão de mundo, garantindo seu espaço de fala tanto tempo negado. Votar e ser votada significa participar da luta de ideias, poder decidir os destinos do país.

Mas a igualdade política, que não depende só do voto, está longe de ser uma realidade. Embora as mulheres representem a maioria dos eleitores no Brasil – eram 52,5% nas eleições de 2020, segundo o Tribunal Superior Eleitoral –, ainda estão sub-representadas nos espaços de poder político. Elas se constituem em apenas 15% do Congresso Nacional. No restante da América Latina, essa taxa é mais que o dobro: 31%.

Para agravar, as mulheres que se aventuram a disputar cargos eletivos ainda são vítimas de violência política. Como a violência doméstica, essa modalidade de agressão, nascida do machismo, também se manifesta de várias formas, seja dificultando o acesso a financiamento de campanha, agredindo, ridicularizando ou até assediando sexualmente a mulher, como ocorreu com deputada Isa Pena (Psol-SP), importunada pelo deputado Fernando Cury (Cidadania-SP), que chegou a passar a mão nos seios dela em Plenário.

A máquina de opressão é tão violenta que seus operadores conseguiram depor a primeira mulher eleita presidenta do Brasil sem conseguir provar, contra ela, um crime de responsabilidade. Mais do que o cargo, a vida das mulheres na política também corre risco. Nas últimas semanas, a vereadora de Porto Alegre Daiana Santos (PC do B) tem recebido recorrentes ameaças de morte, impedindo que possa exercer com segurança e tranquilidade seu mandato.

Diante de tudo isso, constatamos que, noventa anos após aquela grande conquista, o direito das mulheres ao voto está consolidado, mas o de ser votada ainda enfrenta muitas barreiras. Nós estamos aqui para derrubá-las.

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