Irmãos confessam assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips na Amazônia
Eles levaram agentes das policias federal e civil ao local onde esconderam os corpos. Ainda nesta quarta-feira a PF dará uma entrevista coletiva para fornecer mais informações sobre o assunto
Publicado 15/06/2022 16:37 | Editado 16/06/2022 07:40
Os irmãos Oseney da Costa de Oliveira e Amarildo da Costa Oliveira confessaram nesta quarta-feira (15) o assassinato do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, desaparecidos no Vale do Javari, a oeste do Amazonas, desde domingo (5). De acordo com fonte da Polícia Federal [não há informação oficial], os suspeitos declararam que os dois foram mortos a tiros, esquartejados e queimados em uma área de mata da região.
Eles levaram agentes das policias federal e civil ao local onde esconderam os corpos. Ainda nesta quarta-feira a PF dará uma entrevista coletiva para fornecer mais informações sobre o assunto.
De acordo com relatos, Bruno já havia sofrido ameaças por ter flagrado Amarildo, conhecido como Pelado, pescando na área de reserva indígena. Dom Phillips teria fotografado a abordagem. Na ocasião, ambos foram ameaçados.
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O jornalista e o indigenista foram vistos pela última vez por volta das 7 horas da manhã de domingo (5) após deixarem a comunidade ribeirinha São Rafael em direção a Atalaia do Norte.
Apesar do caso estar chegando a um desfecho, parlamentares se mobilizam para não só acompanhar a apuração dos assassinatos, mas também verificar a situação de violência na região.
No Senado, a comissão externa vai aprovar o seu plano de trabalho na segunda-feira (20). O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que propôs a ida dos senadores ao local, antecipou que, independentemente do desfecho do caso, a viagem está mantida.
“Na reunião formal do dia 20 teremos uma definição logística e estrutural da viagem ao interior do Amazonas e também um encaminhamento mais completo sobre como a comissão atuará durante os próximos dois meses”, explicou.
Oito dos nove membros da comissão foram definidos. Além de Randolfe, integram o grupo o presidente da Comissão dos Direitos Humanos (CDH), Humberto Costa (PT-PE), as senadoras Leila Barros (PDT-DF) e Eliziane Gama (Cidadania-MA) e os senadores Fabiano Contarato (PT-ES), Telmário Mota (Pros-RR), Nelsinho Trad (PSD-MS) e Eduardo Velloso (União-AC).
Comissão na Câmara
O plenário da Câmara aprovou nesta quarta-feira (15) a criação de comissão externa para investigar as circunstâncias do desaparecimento e morte de Bruno e DOM. Além de acompanhar as investigações, o grupo vai atuar na fiscalização das ações desenvolvidas pelos órgãos competente e propor providências para o combate do aumento da criminalidade na região.
O requerimento pedindo a criação do colegiado foi apresentado pela deputada indígena Joenia Wapichana (Rede-RR) e subscrito por 12 parlamentares de diversos partidos, entre eles os comunistas Orlando Silva e Alice Portugal.
Segundo o documento, o “caso não pode ser tratado com indiferença” e que é “necessário o envio de todos os recursos possíveis para que se tenha uma rápida solução”.
“Diante de toda essa escalada de violência contra os povos indígenas, seus apoiadores, os protetores ambientais, a Câmara dos Deputados tem o dever de acompanhar e fiscalizar como estão sendo desenvolvidas as ações governamentais para desvendar as circunstâncias do desaparecimento”, diz o texto.
Ao encaminhar o voto favorável à proposta, O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) destacou a importância da instalação imediata da comissão “para que possamos acompanhar essa tragédia”. “É um fato de grande repercussão, de repercussão internacional”, completou.
“O Vale do Javari concentra a maior quantidade de povos originais isolados do mundo. E Bruno Pereira estava ali porque era um dos mais respeitados indigenistas do país. Dom Phillips estava ali para oferecer informação ao Brasil e ao mundo sobre aqueles povos. Essa é uma outra forma de proteger essas tradições”, observou.
Segundo Joenia Wapichana, os deputados devem acompanhar as circunstâncias do caso. “A invasão das terras indígenas envolve a presença de garimpos ilegais, madeireiros, narcotráfico. Devemos apontar soluções para fatos preocupantes e graves”, disse.
A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) quer que a comissão externa ouça os indígenas do Vale do Javari, que têm sido desrespeitados pelo governo federal. Ela também sugeriu que o grupo ouça fiscais do Ibama que estão sob ameaça de garimpeiros e narcotraficantes.
“Estarrecedora a notícia de que os corpos de Dom Phillips e Bruno Araújo foram “esquartejados e incinerados”. Revoltante dispor de vidas com requinte de crueldade. Quem cometeu os crimes? A mando de quem? Qual motivo? Solidariedade à família. Um dia triste para nossa democracia”, escreveu a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) em seu perfil no Twitter.
Para a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), “os bandidos se sentem no poder desde que Bolsonaro assumiu o governo”. “Cada frase do presidente encoraja esse tipo de gente que tortura, joga gás, incendeia, mata…”, diz em uma postagem na rede.