Datena esconde voto, mas prevê vitória de Lula e já dá conselhos

“Não apoio e não posso apoiar nenhum dos dois. Minha empresa é neutra em política, como deve ser”.

José Luiz Datena acredita na vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais de 2022. Mas, segundo o jornalista, o resultado será apertado.

No primeiro turno, em 2 de outubro, a vantagem de Lula sobre o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), foi de 6,1 milhões de votos. Para o segundo turno, no próximo dia 30, o apresentador do telejornal Brasil Urgente, da Band, prevê uma diferença ainda menor: apenas 1,4 milhão de votos a mais para o petista, num universo de 156,4 milhões de eleitores.

Foi o que Datena declarou ao próprio Lula em jantar na noite de domingo (9). O encontro foi costurado pelo ex-governador Márcio França (PSB-SP), que concorreu ao Senado coligado com o PT. “Jantei esta noite com @datenareal e @marciofrancasp. Boa conversa sobre São Paulo e o futuro do Brasil”, tuitou Lula.

Dois dias antes, na sexta (7), o jornalista almoçou com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em Brasília, e ficou ao lado dele durante um pronunciamento à imprensa. Sua inesperada aparição levantou rumores sobre um suposto apoio de Datena ao presidente – o que ele negou.

“A Band, minha empresa, é neutra. Não posso me posicionar em apoio direto ao presidente, Nem o presidente Bolsonaro, nem o presidente Lula, porque na realidade sou jornalista”, resumiu.

No jantar, dirigindo-se a Lula, o jornalista também afirmou que seus vínculos profissionais com a Band o forçam a esconder o voto. Publicamente, haverá neutralidade. Mas, no privado, ele deu a entender que pode “trocar figurinhas” com o ex-presidente.

A certa altura da refeição, Datena chegou a dar conselhos. Falou especialmente sobre os debates entre os presidenciáveis que serão promovidos na Band, no domingo, 16, e na Globo, no dia 28.

Preocupado, sugeriu a Lula “segurar a onda” e ignorar os ataques. Afinal, disse Datena, Bolsonaro vai para o “tudo ou nada”, recorrendo a provocações para tentar irritar Lula e aumentar a rejeição ao ex-presidente.

Autodeclarado “de esquerda”, Datena já foi filiado ao PT e votou em Lula nas cinco eleições ao Planalto disputadas pelo petista. Em 1989, no primeiro desses pleitos, era jornalista da TV Globo e, mesmo assim, subiu ao palanque de Lula num comício.

A retaliação foi inevitável: “O diretor da época me chamou e falou: ‘Olhe, Datena, você sabe por que eu estou te mandando embora, né?’. Eu falei: ‘Evidente que sei’. Três meses depois da eleição, após a derrota do Lula, o cara me chamou e me deu a carta de demissão”.

Em 2010, Datena pensou em trocar o PT pelo PSDB, mas preferiu a petista Dilma Rousseff ao tucano José Serra. “Vou votar na Dilma por causa do Lula”, reconheceu na ocasião.

“Acho que ele é um divisor de águas. Ele deu ao país a noção absolutamente exata de que um pobre pode ser presidente da República. O Lula virou um Padre Cícero”, agregou.

Agora, depois de 12 anos – e de algumas tentativas malsucedidas de se lançar candidato –, Datena deve ir novamente de Lula, mas invocando o sigilo do voto. “Não apoio e não posso apoiar nenhum dos dois. Minha empresa é neutra em política, como deve ser”, tem repetido o jornalista.

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