Dilma Rousseff é empossada presidente do Banco dos Brics

Cerimônia aconteceu nesta quinta-feira (13), em Xangai, na China, e contou com a presença do presidente Lula

Dilma Rousseff toma posse como presidente do banco dos BRICS | Foto: Ricardo Stuckert

A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) assumiu oficialmente o comando do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como “banco dos Brics” nesta quinta-feira. O presidente Lula também participou da cerimônia de posse, feita em Xangai, na China.

Em discurso de posse, Dilma destacou o desafio de fornecer financiamento adequado para atender às necessidades econômicas, sociais e ambientais dos países que fazem parte dos Brics. Ela garantiu que o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, da sigla em inglês) está comprometido com as prioridades aprovadas pelo governo para o banco.

“Assumir a presidência do NBD é, sem dúvida, uma grande oportunidade de fazer mais para os países do Brics, mas não somente para os seus membros, mas também para os países emergentes e em desenvolvimento”, declarou.

Ela também destacou que o grupo, formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, agora tem mais três integrantes: Bangladesh, Emirados Árabes Unidos e Egito. O banco avalia ainda a entrada do Uruguai.

O presidente Lula também discursou na cerimônia. Na ocasião, ele afirmou que a criação do NDB mostra o grande potencial da união dos países emergentes em criar mudanças sociais e econômicas relevantes para o mundo. “Pela primeira vez um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de países desenvolvidos em sua fase inicial. Livre, portanto, das amarras e condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes. E mais, com a possibilidade de financiamento de projetos em moeda local”.

Lula participa da posse de Dilma no banco dos Brics | Foto: Ricardo Stuckert

O NDB foi criado em 2014 durante a sexta edição da cúpula do Brics, que aconteceu em Fortaleza, no Ceará. A instituição financeira tem como objetivo ampliar as fontes de créditos e fazer um contraponto ao sistema financeiro e às instituições multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Desde o início de suas operações, em 2015, o banco se concentra em dar apoio financeiro a projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável, públicos ou privados, nos cinco países-membros e em outras economias emergentes e países em desenvolvimento e atualmente possui uma carteira de investimentos na ordem de US$ 33 bilhões.

A posse de Dilma Rousseff como presidente do NDB é vista como uma oportunidade de fazer mais pelos países dos Brics. Ao anunciar a designação em 25 de março, por indicação de Lula, o NDB destacou que Dilma “priorizou a luta contra a pobreza” durante seu mandato (2011-2016) e deu continuidade aos programas sociais, iniciados nos dois primeiros governos petistas (2003-2010), graças aos quais o Brasil conseguiu sair do mapa da fome da Organização das Nações Unidas (ONU).

Formada em Economia, Dilma foi a primeira mulher a assumir a Presidência do Brasil, em 2011, sendo reeleita para um segundo mandato, em 2014, que foi interrompido em 2016 por sua destituição, acusada de “maquiar as contas públicas” em um processo pra lá de controverso e que ficou marcado na história no Congresso Nacional. Este é o primeiro cargo com exposição pública ocupado por ela desde o processo de impeachment.

Com mandato até julho de 2025, Dilma substitui o diplomata e economista Marcos Troyjo, ex-integrante da equipe do ex-ministro da Economia Paulo Guedes.

Reunião com a Presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) em Xangai, China | Foto: Ricardo Stuckert/PR

“Senhoras e senhores,

“Para mim, é uma grande satisfação e alegria dirigir-me a vocês como Presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco dos BRICS. Sinto-me extremamente grata e honrada pela presença do Presidente Luiz Inacio Lula da Silva nesta cerimonia. Agradeço profundamente ao Presidente Lula por confiar em mim mais uma vez, apresentando a minha candidatura à Presidência do NDB. Sinto-me também muito honrada e grata pela confiança que os países membros depositaram em mim, endossando minha escolha.

“Como todos sabem, Lula, o Presidente do Brasil, é um líder mundialmente respeitado pelo seu legado e realizações, e que vem inspirando a muitos pela sua história de luta e trabalho pelos mais pobres, pelo seu compromisso com os países em desenvolvimento e economias emergentes e pelo seu compromisso com desenvolvimento sustentável.

“A presença do Presidente na sede do NDB e na China é uma demonstração dos seus esforços para a promoção do desenvolvimento internacional. Com o Presidente Lula, o Brasil reassume papel decisivo como um líder regional e global.

“Reafirmo aqui o compromisso do NDB na mobilização de recursos para investimento em energia limpa e eficiente, infraestrutura de transporte, de água e saneamento, proteção ambiental infraestrutura social e infraestrutura digital. O Banco dos BRICS é uma instituição parceira do Brasil e de todos os países membros no objetivo de combater a pobreza, superar as desigualdades e promover um desenvolvimento compartilhado que enseje um mundo que seja mais próspero e sustentável para todos.

“Como muitos de vocês sabem, tenho uma forte conexão pessoal com o Novo Banco de Desenvolvimento. Quando era Presidenta do Brasil, fiquei orgulhosa de sediar a Cúpula dos BRICS em Fortaleza, em 2014, ocasião em que os líderes dos BRICS estabeleceram o NDB, como o Banco dos Brics e o Acordo Constitutivo de Reservas. Desde então, tenho acompanhado de perto o progresso do Banco e seus esforços para o financiamento da infraestrutura e do desenvolvimento sustentável, da inclusão social e digital.

“Como ex-Presidenta de um país em desenvolvimento, sei da importância dos bancos multilaterais, e, sobretudo, do imenso desafio de prover financiamento na escala adequada para atender as necessidades econômicas, sociais e ambientais dos países. Sei do valor que é poder contar com o apoio de uma instituição como o Banco dos Brics, uma instituição que é parceira e comprometida com o apoio às prioridades do desenvolvimento dos nossos países.

“Assumir a presidência do NDB é, sem dúvida, uma grande oportunidade para fazer mais pelos países Brics, pelos emergentes e pelo Brasil.

“Cerca de nove anos depois de Fortaleza, noto que os BRICS se tornaram ainda mais relevantes. Juntos, eles representam mais de 40% da população mundial e aproximadamente um quarto do PIB global. Em PPP, estima-se que a economia dos BRICS já seja maior do que a economia dos países do G7. De fato, o grupo é hoje uma força ainda mais significativa na economia global, sendo o maior motor de crescimento.

“Para além da economia, a crescente importância dos BRICS é um reflexo do papel de seus integrantes como líderes globais e da sua capacidade de se unir para encarar os maiores e mais urgentes desafios da atualidade. Juntos, os BRICS são mais fortes e capazes. Com uma população combinada de mais de 3 bilhões de pessoas e um PIB de mais de US$ 25 trilhões, o grupo possui uma posição única para liderar o caminho em direção a um modelo de desenvolvimento compartilhado para todos.

“É bem verdade que as economias emergentes encaram ainda desafios significativos, como a desigualdade persistente, a pobreza extrema, a infraestrutura inadequada e a falta de acesso à educação, à saúde e à moradia. Mas, juntos, os BRICS têm condições de contribuir para que seus membros e outros países em desenvolvimento superem esses problemas.

“A criação do NDB é um reflexo do crescente papel dos BRICS no mundo, e da necessidade dos países em desenvolvimento se apoiarem. O acordo constitutivo do NDB estabeleceu a visão de um desenvolvimento compartilhado, que respeite e afirme a soberania de cada país. O banco surge como uma verdadeira plataforma de cooperação de economias emergentes, em que as condicionalidades não fazem parte do menu de soluções. Não se imporá condições extra financeiras.

“O NDB constitui uma cooperativa de países que compartilham um compromisso inarredável com a agenda climática e ambiental. Apoiamos as estratégias dos países membros que reduzem as emissões de efeito estufa, financiando energias renováveis, infraestrutura verde e resiliente, na direção de um crescimento de baixo carbono. O Banco dos Brics está comprometido a ajudar os países membros a alcançarem os objetivos do desenvolvimento sustentáveis – ODS – bem como os compromissos assumidos sob o Acordo de Paris.

“O NDB tem um papel importante no apoio a projetos que promovam a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas, protegendo especialmente as comunidades vulneráveis mais expostas a riscos.

“O Novo Banco de Desenvolvimento é, também, um exemplo de como o multilateralismo pode trazer benefícios tangíveis para os países membros e para os países em desenvolvimento em geral. A fundação do NDB pelos BRICS, além de um acontecimento histórico, é uma demonstração da importância da relação desses países e de seu compromisso compartilhado com o multilateralismo e a cooperação sul-sul, em um mundo que atravessa profundas transformações.

“Está sendo fundamental expandir o alcance e o impacto do banco. De um lado, ampliamos o número de países membros, fortalecendo nossa plataforma de cooperação. De outro, estamos financiando projetos-chaves para o desenvolvimento. Do saneamento à infraestrutura social e digital. Nesse sentido, trabalharemos em estreita colaboração com os governos para identificar áreas de grande necessidade e oportunidade, financiando aqueles projetos que são mais críticos e estratégicos. De forma análoga, vamos desenvolver modelos de financiamento inovadores, capazes de alavancar recursos públicos e privados para obter o máximo impacto. Captaremos recursos nos mais diversos mercados mundiais, em diferentes moedas como o reminbi, o dólar e o euro. Buscaremos ainda financiar nossos projetos em moedas locais, privilegiando os mercados domésticos. Nosso objetivo é construir alternativas financeiras robustas para os países membros.

“Outra prioridade será promover a inclusão em toda e qualquer oportunidade que tivermos. O NDB precisa apoiar projetos que sejam críticos para reduzir a desigualdade e melhorar o padrão de vida das imensas comunidades pobres e excluídas do acesso à moradia, à educação e à saúde.

“O NDB não pode agir sozinho. Precisamos agir conjuntamente com os países membros, buscar constituir parcerias com os bancos nacionais de desenvolvimento, bancos multilaterais e regionais, bem como as demais instituições financeiras e agências das Nações Unidas e promover a visão de desenvolvimento compartilhado que representa a essência do NDB. Como Presidente do banco, vou envidar os maiores esforços para mobilizar os recursos necessários para que o NDB cumpra sua missão, na escala e forma esperada.

“Somente conseguiremos alcançar nossos objetivos com o apoio dos conselhos de Ministros de Finanças e de Diretores. Bem como com a dedicação e o trabalho dos nossos Vice-presidentes e todos os funcionários do Banco. Conto com cada um de vocês. Da minha parte, pretendo trabalhar ativamente para fazer do Banco dos Brics uma instituição que valorize, promova e desenvolva seus talentos. Juntos, podemos construir um futuro mais justo e próspero para as pessoas dos países a quem servimos.

“Mais uma vez quero dizer que sinto-me profundamente honrada por ser a Presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento e estimulada com a oportunidade de contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável, a redução das desigualdade – sociais, étnicas e de gênero – e o crescimento econômico e geração de emprego dos países membros. O NDB tem o potencial de ser um líder global no financiamento de projetos que abordem os desafios mais urgentes de nosso tempo. Estou confiante de que, juntos, podemos realizar essa visão.

“Obrigada.”

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com informações de agências

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