The Economist prevê o Brasil entre maiores produtores de petróleo da década

Segundo jornal britânico, a exploração da Petrobras guarda eficiência e vantagens tecnológicas em relação às vizinhas

Navio sob a bandeira da Guiana transporta petróleo extraído da margem litorânea do país amazônico.

A revista britânica The Economist destacou em reportagem o papel de destaque que a Guiana, um dos países mais pobres da América do Sul, tem ganhado no cenário da exploração do petróleo, nos últimos três anos. A exploração de 0,6% do petróleo mundial na Guiana, ocorre na mesma região que tem sido alvo de questionamentos ambientais na prospecção da Petrobras: a Margem Equatorial. 

Também observa que, desde 2006, a Petrobras vive um boom com a descoberta do pré-sal. A produção dos campos aumentou de 41 mil barris por dia, em 2010, para 2,2 milhões de barris por dia no ano passado.

De acordo com um relatório recente da Agência Internacional de Energia, a produção global aumentará 5,8 milhões de barris por dia até 2028. Cerca de um quarto da oferta adicional virá da América Latina. Em meio a isso, a produção na Argentina, no Brasil e na Guiana crescerá e cairá no resto do mundo.

Segundo a reportagem, é provável que o Brasil e a Guiana se beneficiem mais do que a maioria dos exportadores, como Equador e Venezuela que produzem barris de petróleo bruto. O tom do argumento tem um viés privatista ao criticar as estatais. Critica especialmente o modo como os governos utilizam os lucros das petroleiras, em vez de mantê-los aplicados.

Gráfico mostra evolução do suprimento de petróleo no mundo

Segundo a revista, ao contrário da maioria dos países do Golfo, os governos da América Latina em geral não conseguiram criar fundos soberanos para canalizar as receitas do petróleo para investimentos de longo prazo. Em vez disso, eles se tornaram dependentes do petróleo como uma fonte de divisas e receitas fiscais. Na visão da Economist, os lucros do petróleo não devem beneficiar os investimentos no país, mas serem aplicados para um futuro incerto.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) considera que, se o mundo limitar o aquecimento global a 1,5 °C (o que continua sendo muito improvável), as receitas fiscais na América Latina poderiam ser reduzidas cumulativamente entre US$ 1,3 trilhão e US$ 2,6 trilhões até 2035. Por outro lado, se as reservas forem bastante exploradas, o BID estima que essas receitas ficariam entre US$ 2,7 trilhões e US$ 6,8 trilhões.

Petrobras

Os campos do pré-sal transformaram o Brasil de um produtor menor de petróleo para o oitavo maior do mundo. A tecnologia e eficiência da Petrobras seriam os principais motivos deste avanço, junto com investimentos governamentais. Além disso, com US$ 35 por barril, o Brasil consegue ter lucro na produção de petróleo, o que é menos da metade do preço mundial. A emissão de gás carbônico por barril também é menos da metade da média global, o que representa uma vantagem comercial na transição energética. 

Nos próximos cinco anos, a Margem Equatorial que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte, poderia produzir 10 bilhões de barris de petróleo recuperável, quase o equivalente aos campos do pré-sal. No entanto, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) negou à Petrobras uma licença para perfurar poço na área. A Petrobras recorre da decisão.

A reportagem inglesa critica a gestão de Dilma Rousseff ao acusá-la de subsidiar o consumo doméstico de combustíveis. Também defende a privatização e a gestão polêmica de Pedro Parente, que dolarizou os preços. 

A América Latina tem a segunda maior reserva provada de petróleo do mundo, ficando atrás apenas do Oriente Médio, mas a reportagem ignora como investimentos públicos foram fundamentais para isso.

América Latina

Ignorando as sanções dos EUA que vigoram contra a Venezuela, a reportagem tenta justificar pelos governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, a queda da produção da PDVSA de 3,4 milhões de barris por dia, em 1998, para 700 mil barris por dia hoje. 

“De acordo com Francisco Monaldi, da Universidade Rice em Houston, se todo o petróleo da região fosse explorado com a mesma expertise e num ambiente regulatório semelhante ao do Texas, a América Latina estaria produzindo mais petróleo que os EUA, em vez de apenas cerca da metade”, diz o texto, apesar das restrições americanas contra a produção da Venezuela, entre outras medidas que impõem a empresas do continente.

No México, a reportagem critica os investimentos do presidente de esquerda Andrés Manuel López Obrador na Pemex, petrolífera estatal do país, para alcançar a autossuficiência. “De um modo geral, a Pemex hoje gasta mais do dinheiro nos cofres do país do que gera receita para eles”, diz. 

A receita fiscal da exploração e produção de petróleo do Equador foi responsável por 24% das receitas totais do governo entre 2015 e 2019, de acordo com uma análise da Universidade Boston, revelando uma enorme dependência. Aqui, a corrupção do governo seria responsável pelos problemas econômicos da Petroecuador. 

A Argentina aumentou sua produção de petróleo e gás, devido às sanções ao petróleo russo. A Rystad Energy espera que a produção de petróleo de xisto na Argentina mais do que dobre até o final da década, chegando a mais de um milhão de barris por dia.

Bolívia e Trinidad e Tobago dependem das receitas provenientes da produção de gás natural para 17% das suas receitas fiscais. No entanto, as exportações bolivianas de gás estão previstas para chegar ao fim em 2030. Em Trinidad e Tobago a produção caiu 40% desde 2010.

Na Colômbia, a indústria extrativista de hidrocarbonetos representa 50% das exportações do país. Entre 2014 e 2020, o setor absorveu 28% de todo o investimento estrangeiro direto. Gustavo Petro foi eleito no ano passado com a promessa de reduzir a exploração de petróleo e tem investido em alternativas. A Ecopetrol, petrolífera estatal do país, se diversifica rapidamente investindo na produção de hidrogênio, energia renovável e transmissão de energia elétrica. 

Segundo a revista, ao lado da Petrobras, a Ecopetrol tem sido uma das petrolíferas estatais mais criteriosas quando o assunto é planejamento para a transição energética.

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