Governo de SP recua de abandonar livro didático, após pressão de educadores

Embora escolas não garantam acesso a internet ou equipamentos, governo queria abandonar uso de livro físico que estimula concentração e acesso domiciliar dos estudantes.

Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil

A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo anunciou que não iria aderir ao Programa Nacional do Livro Didático do Governo Federal. A partir de 2024, a educação do estado, sob o comando do governador Tarcísio Freitas e do secretário Renato Feder, deixaria de usar livro físico para utilizar apenas material digital próprio.

Devido às reações de educadores e especialistas, o governo paulista, depois, recuou e prometeu oferecer livros em formato digital e também em papel. 

Feder gerou controvérsias nacionais após privatizar a gestão das escolas do Paraná, implantar escolas militares, assim como um material didático digital que conter reflexões de auto-ajuda sobre o “Os Segredos da Mente Milionária”, de T. Harv Eker, acusado de estimular a discriminação de pessoas pobres, fazendo o governo repudiar o conteúdo e retirá-lo da plataforma. A Secretaria da Educação do Paraná também pagou R$ 285 mil por cinco títulos de livros de autoajuda e do “empreendedorismo” para bibliotecas das escolas.

Falta de estrutura

O grande problema para Feder e Tarcísio, é que muitas escolas sequer têm estrutura para garantir energia elétrica ou até saneamento adequado, muito menos internet de qualidade em sala de aula. Com isso, professoras e professores teriam que trabalhar com equipamento próprio, a exemplo do que ocorreu durante a pandemia. 

Do mesmo modo, alunos que sequer dispõem de internet ou celular em casa, têm no livro didático um importante material de apoio para o estudo domiciliar.

Por outro lado, as plataformas digitais de ensino exigem cumprimentos de metas, por meio de vigilância remota, que tornam o trabalho dos educadores extenuante. Foi o que apontaram os sindicatos do Paraná, com o número de profissionais adoentados com a carga excessiva de trabalho.

Além disso, os países mais bem pontuados na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em termos de educação, estão seguindo um modelo inverso, ao trazer de volta o texto impresso. Ou seja, mesmo em países ricos, onde o acesso à internet e equipamentos eletrônicos é pleno.

É o caso da Suécia, que implantou o ensino 100% digital, e precisou recuar devido à forte queda nos índices de avaliação de resultados. Os alunos começaram a perder capacidade de leitura. O receio é ainda maior no Brasil, onde a falta de acesso estrutural provocaria um cenário de exclusão de grandes parcelas de alunos.

A dispersão favorecida pelo meio digital é um dos principais problemas apontados em sala de aula, devido ao acesso a múltiplas informações simultâneas e diversos estímulos. A facilidade de saltar de uma informação para outra na tela digital também causa a perda de concentração dos estudantes.

Há ainda problemas de socialização entre os alunos que só utilizam equipamentos eletrônicos. Em outros países também se observou o surgimento de problemas de saúde mais frequentes entre crianças e adolescentes que ficavam muito tempo conectadas em sala de aula. Dor de cabeça, irritabilidade, problemas oftalmológicos e até dores musculares foram registradas.

Especialistas defendem que as duas ferramentas, a experiência de ensino analógica e a digital, atuem de maneira complementar. Ou seja, evitar o meio digital também atrasa o aprendizado. É preciso haver uma transição entre os meios.

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