Museu dinamarquês tem mais de 2 mil peças retiradas da Amazônia

Instituição que guarda o raro manto tupinambá — a ser devolvido ao Brasil em 2024 — guarda outros objetos que devem ter sido pilhados durante expedições dinamarquesas

Manto tupinambá. Foto: Museu Nacional da Dinamarca

A pilhagem de riquezas brasileiras, inclusive culturais, por nações colonizadoras tirou do território nacional inúmeros objetos de valor inestimável. Um deles é o manto tupinambá que está exposto na Dinamarca e voltará ao Brasil em 2024 para compor o acervo do Museu Nacional. Mas, há outras relíquias nessa mesma instituição europeia que foram tirados de nossas terras, principalmente durante expedições dinamarquesas. 

Conforme noticiado pelo Fantástico deste domingo (6), no acervo do Museu Nacional da Dinamarca estão guardados mais de dois mil objetos com essa origem, dentre os quais constam quatro mantos e outros artefatos do povo Tupinambá. A peça — com 1,80m de altura e milhares de penas vermelhas de pássaros guará —chegou a Copenhague em 1689, mas foi provavelmente produzido quase um século antes. 

Segundo o Fantástico, existem apenas 11 mantos tupinambás deste tipo em todo o mundo, produzidos entre os séculos 16 e 17. Todos estão na Europa, em museus da Dinamarca, Itália, Suíça, Bélgica e França. Ainda de acordo com a reportagem, o diretor de pesquisa do museu dinamarquês, Christian Pedersen, relatou não haver pedidos para a devolução de outros objetos históricos brasileiros.

A volta do manto aconteceu após negociações entre os museus dos dois países e foi anunciada no final de junho. “Essa é uma notícia bastante importante porque eles têm um significado cultural gigante para o Brasil”, disse a ministra da Cultura, Margareth Menezes sobre a devolução da peça, à Rádio França Internacional. 

Ela declarou, ainda, que a questão envolve “a discussão sobre o conjunto dos mantos tupinambás e as conversas sobre o patrimônio cultural deslocado dos países de origem para outros países, que precisam ter um tratamento multilateral, que permitam que eles possam ter sede nos seus locais de origem. Nós discutimos dessa maneira e queremos uma solução acordada através dos organismos internacionais”. 

João Pacheco, curador das exposições etnológicas do Museu Nacional, explicou à Agência Brasil que “nunca houve uma repatriação de um objeto etnográfico dos indígenas brasileiros dessa importância. O povo não faz essa peça há muitos séculos. Ela só aparece nas primeiras imagens dos cronistas do século 16. Depois desse período, teve todo um processo de guerra do governo português contra os tupinambás. Muitos morreram e povoados foram destruídos. Os que sobreviveram foram obrigados a abandonar língua e hábitos culturais”. 

Após ter tido boa parte de sua estrutura e acervo destruídos durante incêndio em 2018, a previsão é de que o Museu Nacional possa ser reaberto nos próximos anos — e o manto será uma de suas principais peças.  

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Com agências

(PL)

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