Brasil leva Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza

Brasil ganha por Melhor Participação Nacional. Trabalho remete aos territórios indígenas e quilombolas e tem a primeira curadora negra do pavilhão brasileiro

Gabriela Matos e Paulo Tavares recebem prêmio. Foto: reprodução/redes sociais

O Brasil voltou também quando o assunto é arquitetura. Pela primeira vez, o pavilhão do país ganhou o Leão de Ouro de Melhor Participação Nacional na 18ª Bienal de Arquitetura de Veneza, um dos mais conceituados e tradicionais eventos da área no mundo.

Na mostra, intitulada “Terra”, os curadores Gabriela Matos e Paulo Tavares propõem pensar o país como chão e território, proporcionando uma experiência direta com territórios indígenas e quilombolas.

Segundo o Ministério da Cultura — que investiu R$ 1,5 milhão na mostra brasileira — “a exposição demonstra o que várias pesquisas científicas têm comprovado: as terras indígenas e quilombolas são os territórios mais preservados no Brasil. E aponta para um futuro pós-mudanças climáticas, onde ‘decolonização’ e ‘descarbonização’ caminham juntas”.

Ainda de acordo com o MinC, “as práticas, tecnologias e costumes relacionados à gestão e produção da terra, como outras formas de fazer e compreender a arquitetura, estão situados na terra e carregam consigo o conhecimento ancestral para ressignificar o presente e vislumbrar outros futuros, não apenas para as comunidades humanas, mas também para as não humanas, em direção a um outro futuro planetário”. 

Mostra brasileira. Foto: Matteo de Mayda/Via Agência Brasil

Outro dado marcante dessa vitória é o fato de que Gabriela de Matos é a primeira curadora negra da história do pavilhão brasileiro. Pelas redes, ela destacou: “Há tempos venho pensando o quão importante seria que o cenário mundial de arquitetura soubesse sobre a arquitetura afrobrasileira, essa que surge a partir da diáspora africana e se desdobra em um modo de ser e de fazer singular”. Ela acrescentou que a exposição “é resultado dessa reverência a esses saberes e formas ancestrais”. 

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O curador Paulo Tavares salientou que o trabalho reconhece “outras formas de conhecimento, outras formas de arquitetura que, como dizemos no pavilhão, se tornaram centrais para enfrentar a crise climática global e podem nos ensinar outra forma de relação com a terra”.

O tema da 18ª edição da Bienal é “O Laboratório do Futuro”, apresentando o continente africano como força motriz na formação do mundo que está por vir e que desafia as noções convencionais do que o futuro pode trazer e do que um laboratório pode ser. 

A Bienal — que se estende até 26 de novembro — conta com 63 pavilhões nacionais, nove eventos paralelos na cidade e 89 participantes, mais da metade da África ou da diáspora africana. Pela primeira vez, a curadoria da Bienal também teve uma mulher negra à frente, a arquiteta e acadêmica Lesley Lokko. 

(PL)

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