Confissões de Cid colocam bomba das joias no colo de Bolsonaro

Situação de ex-presidente se complica após ex-ajudante dizer que entregou a Bolsonaro dinheiro resultante da venda de relógios de luxo usurpados do Estado

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

A cada dia, a situação de Jair Messias Bolsonaro torna-se mais complicada — por sua própria escolha, diga-se. Segundo informações da revista Veja, em depoimento à Polícia Federal, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente, Mauro Cid, afirmou ter entregue ao antigo chefe parte do dinheiro, em espécie, resultante da venda ilegal de relógios de luxo, que pertenciam ao Estado brasileiro. As afirmações destroem a narrativa que tem sido adotada por Bolsonaro e seu entorno.

O ex-presidente tem dito que desconhecia a transação e que não teria recebido valores referentes às vendas, colocando suas contas bancárias à disposição das autoridades. Sua defesa argumentou que ele “jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos”.

Mas, ao que parece, não foi bem assim. Cid confessou ter participado da venda ilegal de dois relógios de luxo nos Estados Unidos —  um Patek Philippe e um Rolex — que foram recebidos por Bolsonaro na condição de presidente da República e que, por não se tratarem de itens considerado personalíssimos, pertencem ao Estado brasileiro e deveriam estar no acervo da presidência. 

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Ainda segundo Cid, parte do dinheiro da venda teria sido primeiramente depositado na conta do pai dele, o general Mauro Lourena Cid. Depois, o valor de US$ 68 mil foi sacado em espécie, de forma parcelada, para ser entregue a Bolsonaro em mãos.

O dinheiro, conforme o relato da revista, usando como base as informações passadas por Cid à Polícia Federal, seria uma forma de bancar despesas de Bolsonaro. “O presidente estava preocupado com a vida financeira. Ele já havia sido condenado a pagar várias multas”, declarou. O ex-auxiliar teria dito ainda: “A venda pode ter sido imoral? Pode. Mas a gente achava que não era ilegal”. Na avaliação dos investigadores, no entanto, Bolsonaro teria criado uma estrutura para desviar bens públicos de alto valor para fins de enriquecimento ilícito. 

As informações vieram à tona após Mauro Cid assinar um acordo de colaboração premiada e ser solto — com condicionantes, como o uso de tornozeleira eletrônica — depois de ficar quatro meses preso preventivamente em virtude da fraude nos cartões de vacinação. Sobre este assunto, o tenente-coronel ainda confessou ter sido dele a responsabilidade por fraudar a carteira de vacinação contra a Covid-19 de Bolsonaro, auxiliares, a esposa e filhas de Cid. De acordo com a publicação, o objetivo seria garantir um “salvo-conduto” para ser usado no caso de fantasiosas perseguições após a mudança do governo. Para a PF, no entanto, a adulteração foi uma forma de driblar a fiscalização sanitária em viagens ao exterior. 

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Outro assunto tratado foi a tentativa de golpe. Nesse ponto, Cid teria tentado poupar tanto Bolsonaro quanto aos generais e ex-ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Braga Netto (Casa Civil). Sobre o roteiro do golpe encontrado em seu celular, por exemplo, disse que recebeu, assim como outros conteúdos e ideias desse tipo, mas que não repassava o material para Bolsonaro. Quanto aos generais, teria declarado não haver nada que os comprometesse. 

O conjunto de informações narradas pela revista foram dadas por Cid durante um dos três depoimentos feitos à PF. No sábado (9), o ex-ajudante de ordens foi autorizado a deixar a cadeia após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, homologar o acordo de delação fechado com a PF. Mas, ele deve usar tornozeleira eletrônica, não pode manter contato com outros investigados, a não ser familiares, e tem de se apresentar semanalmente à Justiça do Distrito Federal.

Com agências

(PL)

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