Violência na Amazônia se acentua com a chegada das facções criminosas
São 22 grupos diferentes atuando em 178 (23,05%) dos 772 municípios da região. As facções nacionais e estrangeiras estão envolvidas em diversos tipos de crimes
Publicado 01/12/2023 17:00 | Editado 01/12/2023 18:15
Antes com atuação restrita ao Sudeste do país, as facções criminosas como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) chegaram há uma década na Amazônia gerando crescimento da violência e ameaçando ainda mais o modo de vida dos povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas.
São 22 grupos diferentes atuando em 178 (23,05%) dos 772 municípios da região. As facções nacionais e estrangeiras estão envolvidas em diversos tipos de crimes.
O diagnóstico consta no relatório Cartografias da Violência na Amazônia, produzidos por pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto Mãe Crioula.
A taxa de mortes violentas intencionais no país foi de 23,3 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, enquanto nas cidades que compõem a Amazônia legal a taxa registrada foi de 33,8 por 100 mil, ou seja, a taxa média de violência letal na Amazônia foi 45% superior à média nacional.
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Os dados são alarmantes e preocupantes, pois não há como “debater estratégias e políticas para manter a floresta amazônica de pé sem considerar a grave ameaça que o crime e a violência representam na região hoje”.
De acordo com o Fórum, não há como avançar na agenda ambiental se o projeto de mudança pensado para o bioma não contemplar segurança pública como uma das dimensões que precisam ser consideradas urgentes.
Trata-se de um patrimônio que tem sofrido com a ameaça do crime e da violência que avança de forma descontrolada.
“Se o desmatamento desenfreado e a exploração ilegal de minérios são variáveis presentes há décadas na região, que também convive diariamente com a violência decorrente dos conflitos fundiários, a disseminação de facções criminosas que atuam especialmente no narcotráfico é um fenômeno que se consolidou”, diz o relatório.
O documento, que foi levado à conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes, apontou que o crime organizado passou a controlar redes criminosas mais amplas.
As organizações estão envolvidas com trabalho análogo à escravidão, exploração sexual e invasão de terras indígenas e crimes ambientais como exploração ilegal de madeira e minérios, tráfico ilegal de animais e pesca predatória.
Expansão
O relatório diz que a expansão de facções criminosas provenientes do Sudeste implicou em um processo de fortalecimento e profissionalização dos grupos locais.
“Novas rotas criminosas foram surgindo, bem como articulações com outros ilícitos, como o garimpo e os crimes ambientais, impondo enormes desafios às instituições responsáveis pela manutenção da lei e da ordem”, dizem os pesquisadores.
Trata-se de uma região muito afetada por conta das disputas entre facções criminosas e por sua proximidade com os países produtores de cocaína, o que a tornou palco de disputas entre grupos locais e de fora.
Violência
O estudo lembrou ainda que o Brasil é um país historicamente violento que presenciou o avanço desenfreado do crime desde a década de 1980.
“Se entre as décadas de 1980 e 1990 o crescimento dos homicídios se concentrou no Sudeste, a partir dos anos 2000 uma nova tendência é inaugurada com a interiorização da violência e o seu deslocamento para o eixo Norte-Nordeste do país”, diz o relatório.
“Os assassinatos, antes concentrados nas capitais e grandes cidades, passaram a fazer parte do cotidiano dos moradores de cidades afastadas dos centros urbanos, bem como a violência se espalhou para outras regiões”, completou.
O estudo apontou o Amapá, com taxa de 50,6 mortes por 100 mil habitantes, como estado mais violento da região.
Na sequência aparece o Amazonas, com 38,8, Pará 36,9, Rondônia 34,3, Roraima e Tocantins empatados com 30,5, Mato Grosso 29,3, Acre 28,6 e Maranhão 28,5. Ao todo, 9.011 pessoas foram assassinadas na região no ano passado.