Milei mantém ameaças sobre o movimento sindical em semana de greve geral

Governo argentino diz que vai manter o “protocolo anti-piquetes” que obriga manifestantes protestarem nas calçadas. São esperadas mais de 100 mil pessoas nos protestos

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Na semana em que o movimento sindical argentino deflagra uma greve geral de 12 horas, o governo do presidente Javier Milei anunciou, nesta segunda (22), que vai manter o protocolo “anti-piquetes” em que manifestantes são proibidos de ocupar as ruas, além de ameaçar cortar o ponto de funcionários públicos que aderirem.

A Confederação Geral do Trabalho (CGT) da Argentina convocou a paralisação para esta quarta (24), a partir do meio dia, contra o Decreto de Necessidade de Urgência (DNU) 70/2023 e a Lei Ônibus, que desregularizam a economia, enfraquecem o Estado e fortalecem o mercado.

Os sindicalistas se opõem também às alterações na legislação trabalhista trazidas pelos textos, que enfraquecem as negociações laborais em favor do patronato, enfraquece o movimento sindical ao desregular financiamento e restringe o direito a greve para categorias como saúde e educação.

A ministra de Segurança, Patricia Bullrich, uma das expoentes da truculência do novo governo de extrema-direita, afirmou que nesta quarta o “protocolo anti-piquetes” voltará a funcionar e que o governo fará “todo o possível” para que “todo argentino que queira trabalhar” durante a greve geral da CGT “não se sinta intimidado”.
Sindicalistas asseguraram que a manifestação será “multitudinária e pacífica”, e responsabilizou a ministra da Segurança por qualquer inconveniente que possa ocorrer.

O protocolo foi colocado em prática pela primeira vez em dezembro, quando ocorreram as primeiras mobilizações em meio aos anúncios das medidas neoliberais de Milei. Historicamente, no entanto, as mobilizações da CGT reúnem muito mais pessoas do que outros coletivos e movimentos.

A Casa Rosada trabalha com a possibilidade de mais 100 mil pessoas participarem dos atos. Um dos dirigentes da CGT e secretário do Sindicato dos Caminhoneiros, Pablo Moyano, assegurou que 40 mil sindicalizados da categoria estarão nas ruas de Buenos Aires.

Moyano contestou as ameaças de Bullrich. “A ditadura militar não conseguiu parar os trabalhadores, e ela vai vir e ameaçar os sindicatos dos quais muitos dirigentes deram a vida para obter acordos coletivos de trabalho?”, disse o dirigente sindical durante uma entrevista coletiva.

“Faz parte do show midiático que ela quer impor, mas ninguém vai nos impedir, nem com multas nem com a quantidade de milicos que vão colocar na rua”, prometeu Moyano.

“Somos trabalhadores, não somos ogros e nem pertencemos a grupos paramilitares. Queremos manifestar o nosso descontentamento com estas medidas que estão a ser aplicadas. Será uma mobilização pacífica”, disse.
Trabalhadores de diversas categorias ligadas aos transportes já anunciaram a adesão a greve. A Confederação Argentina dos Trabalhadores em Transportes (CATT, na sigla em espanhol), que reúne os sindicatos do Sindicato dos Ferroviários, Sindicato dos Bondes Automotivos (UTA, na sigla em espanhol), Táxis, Caminhoneiros, Dragagens e Balizas, Rodoviárias, Pedágios e Aeronáuticos, cruzarão os braços nesta quarta.

As companhias áreas que operam com serviços aéreos entre Brasil e Argentina já cancelaram voos entre os dois países durante a greve.

O sindicato dos metroviários, agremiação integrada pelos trabalhadores do subte da capital argentina, comunicaram a adesão a paralisação.

Além deles, outras categorias de funcionários públicos também anunciaram a participação nos atos desta quarta, como a Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE, na sigla em espanhol) e a União dos Trabalhadores Civis da Nação (UPCN, na sigla em espanhol).

Em resposta, o governo de extrema-direita prometeu descontar o dia dos funcionários do estado que se juntem à manifestação. Exceção aos trabalhadores do Estado da província de Buenos Aires, cujo governador, Axel Kicillof, anunciou que respeitará o direito greve, não descontando o dia.

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