Lula exonera diretor adjunto da Abin após operações da PF

No lugar de Moretti assumirá Marco Aurélio Chaves Cepik, que hoje comanda a Escola de Inteligência da agência. Número 1 foi mantido e outros seis diretores foram dispensados

Foto: Pedro França/Agência Senado

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva exonerou nesta terça (30) o número 2 da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o diretor adjunto Alessandro Moretti, e outros seis diretores, em meio ao escândalo sobre a “Abin paralela” que teria sido montada na gestão de Jair Bolsonaro (PL).

As exonerações foram publicadas em edição extra do Diário Oficial da União na noite desta terça. Lula manteve Luiz Fernando Corrêa na chefia da Abin.

Os nomes dos diretores demitidos não foram divulgados devido ao caráter sigiloso da função. Dos novos diretores, quatro são mulheres. Já para o posto de Moretti, Lula escolheu Marco Cepik que, atualmente, comanda a Escola de Inteligência da Abin.

Moretti, que é delegado da Polícia Federal (PF) ocupava o cargo desde março de 2023, mas passou a ser contestado após ser citado na operação Vigilância Aproximada.

Nas últimas semanas, a PF já realizou três operações autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, entre outros pontos, afirma ter havido um “conluio” entre a atual gestão do órgão de inteligência e os investigados.

Para a corporação, houve “conluio de parte dos investigados com a atual alta gestão da Abin”, que teria causado prejuízos à investigação e também à própria agência.

No pedido que fez ao ministro do STF Alexandre de Moraes para a realização da operação da última quinta, os agentes declararam que, em reunião com investigados, Moretti chegou a afirmar que a apuração sobre o caso tinha “fundo político e iria passar”.

No pedido, a entidade diz que a postura de Moretti não é a esperada de um delegado que, até dezembro de 2022, ocupava a função de diretor de Inteligência da Polícia Federal.

Afirma ainda: “A reverberação das declarações da Direção da Abin, portanto, possui o condão de influir na liberdade e na percepção da gravidade dos fatos pelos investigados ao afirmar a existência de ‘fundo político’ aos investigados.”

Moretti foi número dois de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, na Secretaria de Segurança do Distrito Federal, de 2018 a 2021, e diretor de Inteligência na PF no último ano do governo Bolsonaro.

Quando Lula indicou o delegado da PF Luiz Fernando Corrêa para o comando da Abin, o Senado atrasou sua sabatina por ele ter escolhido pessoas apontadas como bolsonaristas para a cúpula da agência, inclusive Moretti.

Alessandro Moretti nega qualquer ação com o intuito de tentar barrar as investigações.

Apesar de a PF colocar Corrêa e Moretti no mesmo patamar de suspeição, Lula tem, como declarou em entrevista nesta terça-feira, uma relação de confiança com Corrêa.

“A gente nunca está seguro. O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin foi meu diretor-geral da PF entre 2007 e 2010. É uma pessoa em quem eu tenho muita confiança e por isso chamei, já que eu não conhecia ninguém da Abin”, disse.

No entanto, o presidente Lula afirmou que não havia clima para a permanência de Alessandro Moretti na diretoria adjunta da Abin.

“E esse companheiro [Corrêa] montou a equipe dele. Dentro da equipe dele tinha um cidadão [Moretti], que é o que está sendo acusado, que mantinha relação com o Ramagem, que é o ex-diretor da Abin do governo passado. Inclusive, relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin. Se isso for verdade, e está sendo provado, não há clima para esse cidadão continuar na polícia. Mas antes de você fazer simplesmente a condenação, é importante investigar corretamente”, afirmou Lula.

Na montagem do governo, Corrêa escolheu como números 2 e 3 da agência Alessandro Moretti e Paulo Maurício Fortunato, respectivamente. Esses nomes viraram munição contra o chefe da Abin, que foi acusado de contaminar a gestão Lula com resquícios do bolsonarismo.

Fortunato foi alvo da PF na primeira operação da investigação, tendo sido encontrados US$ 171 mil em sua casa. Ele foi afastado por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que preside as investigações.

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