Família Bolsonaro foi acusada por Bebianno de criar “Abin paralela”

No “Roda Viva”, ex-ministro contou que Carlos Bolsonaro sugeriu criar um sistema de inteligência com um delegado e três agentes da Polícia Federal. Bolsonaro não se contrapôs.

Foto: Reprodução

O ex-ministro e advogado Gustavo Bebianno disse em 2 março de 2020 que o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sugeriu a criação de uma “Abin paralela”.

Em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, Bebianno disse que o ex-presidente lidou com o tema “de forma passiva” e não confrontou Carlos. Não explicou, porém, o papel da suposta agência.

“Um belo dia, o Carlos me aparece com o nome de um delegado federal e de 3 agentes, que seriam uma espécie de ‘Abin paralela’, porque ele não confiava na Abin”, disse Bebianno.

Ele atuou no governo Bolsonaro de janeiro a fevereiro de 2019 e foi o primeiro ministro demitido do governo. A demissão ocorreu após Carlos ir às redes sociais dizer que Bebianno mentiu ao dizer ao jornal “O Globo” que havia conversado três vezes com o presidente no dia anterior.

“O general Heleno [ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional] foi chamado, ficou preocupado com aquilo, mas ele não é de confronto. O assunto acabou com o general Santos Cruz e comigo e nós aconselhamos o presidente que não fizesse aquilo de maneira alguma porque era muito pior que o gabinete do ódio, aquilo, sim, seria motivo para impeachment. Não sei se isso foi instalado ou não”, disse no Roda Viva.

Para Bebianno, a implementação desta Abin paralela seria utilizada para monitorar adversários políticos.

“Imagino que para ataques de adversários, montagem de dossiês. Eles não confiam em ninguém, existe ali uma paranoia familiar de não se confiar em ninguém, no fundo, ele não confia no general Heleno, no fundo, ele não confia no general Ramos [ex-ministro de Bolsonaro], ele não confia em ninguém”, disse.

Segundo a entrevista, ele e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, aconselharam o então presidente Bolsonaro a não adotar a medida. Para eles, a instalação de uma agência de inteligência “paralela” poderia levar o ex-presidente a sofrer um impeachment.

“[Bolsonaro lidou] de forma passiva, desviando do assunto, e não enfrentou. A coisa foi sendo cozinhada, e o Carlos, depois, queria que contratassem um primo dele de qualquer maneira. O general Santos Cruz bloqueou a ideia”, disse na entrevista.

Bebianno morreu 12 dias depois da entrevista no Roda Viva, vítima de um ataque cardíaco aos 56 anos.

Após a repercussão da entrevista, Bebianno evitou voltar ao tema e a dar nomes dos policiais federais. Em conversa com a reportagem no dia 9 de março, o ex-ministro disse que não comentaria mais o assunto.

Questionado se havia riscos, Bebianno respondeu: “Muitos. Além disso, os policiais em questão não fizeram nada de errado. Nem sei de fatos se prestariam a atender às loucuras do Carlos. Não vou prejudicar ninguém, porque não sei o que fizeram não”, disse.

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