Resolução dos EUA sobre Gaza não avança no Conselho de Segurança da ONU

Rússia e China vetaram resolução ‘política’ dos Estados Unidos depois de 30 mil mortos palestinos. Outros países trabalham pelo cessar-fogo na Faixa de Gaza durante o Ramadã

Vassily Nebenzia, representante da Rússia na ONU, vota contra resolução dos EUA. Foto UN

O Conselho de Segurança da ONU rejeitou nesta sexta-feira (22) a resolução dos Estados Unidos sobre os ataques de Israel na Faixa de Gaza.

Depois de vetar três propostas anteriormente apresentadas por outros países para um cessar-fogo, inclusive uma do Brasil, foi a vez do EUA ter sua resolução barrada.

Os norte-americanos não pararam de apoiar militarmente Israel. Mas para o grande público, em pleno ano eleitoral no país e com menor popularidade frente ao candidato republicano Donald Trump, o presidente Joe Biden agora tenta vender a imagem de que o país não tem envolvimento com as mortes em Gaza, depois de mais de 30 mil mortos palestinos.

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A mudança de orientação tenta desvincular o presidente do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, porém essa possibilidade, assim como a responsabilidade pelos mortos, é pouco factível.

Rússia e China

Com poder de veto no Conselho, a Rússia e China votaram contra a resolução dos EUA. Espera-se que um novo texto seja apresentado ainda nesta sexta, ou nos próximos dias, para apreciação do Conselho.

A resolução apresentada por Washington pedia um cessar-fogo imediato condicionado à libertação de reféns pelo Hamas.

Ao justificar seu voto, o embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, acusou os EUA de falsas promessas e de só reconhecer a necessidade de um cessar-fogo “quando mais de 30 mil habitantes de Gaza já morreram”.

Além de Rússia, China e EUA, que são membros permanentes e possuem poder de veto, ainda consta nesse grupo França e Reino Unido.

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Somam-se aos 5 mais 10 países temporários. Na atual votação, a Argélia também foi contra a proposta norte-americana. A Guiana se absteve na votação e no total foram 11 apoios, contanto os votos de EUA, Reino Unido e França.

Ao votar, o embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, criticou a postura dos EUA ao só reconhecer uma tragédia humanitária após mais de 30 mil mortes de palestinos em Gaza. O russo foi mais fundo nas críticas e disse que a resolução não era suficiente, pois não havia um pedido por cessar-fogo explícito no texto. Para ele, os Estados Unidos estão enganando a comunidade internacional e somente querem “vender um produto”, “jogando com os eleitores dos EUA” [em referência às eleições].

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A crítica Nebenzia foi centrada na pouca clareza no pedido pelo fim das agressões, pois trazia os dizeres “imperativo de um cessar-fogo imediato”. A palavra “imperativo” causou estranheza pela falta de um pedido claro e direto sobre o tema. Por sua vez, o governo dos EUA não gostou dos vetos e rebateu com acusações de que Moscou não quer condenar o Hamas.

A nova proposta que será analisada é elaborada pelos 10 países temporários do Conselho, incluindo o Brasil, sendo capitaneada por Moçambique. Em análise deverá constar um pedido de cessar-fogo durante o Ramadã, período sagrado para os mulçumanos que começou em 10 de março e irá até 9 de abril. O entendimento é que um cessar-fogo inicial neste período pode levar ao permanente fim das agressões.