Com esforço e apoio, Cuba vai vencer dificuldades, diz embaixador

Em entrevista exclusiva ao Portal Vermelho, embaixador cubano apresenta o atual cenário da Ilha, especialmente após protesto devido a apagões na cidade de Santiago, ao leste

Embaixador de Cuba no Brasil, Adolfo Curbelo Castellanos, em ato no Festival Vermelho. Foto: Fernando Udo

Presente no Festival Vermelho realizado em Salvador nos dias 22 e 23 de março, o embaixador de Cuba no Brasil, Adolfo Curbelo Castellanos, apresenta o atual cenário da Ilha, especialmente após um recente protesto ocorrido por conta de apagões na cidade de Santiago, ao leste.

Em uma entrevista exclusiva ao Portal Vermelho, Castellanos explicou os reais motivos por trás da manifestação e garantiu que tudo ocorreu sem nenhum tipo de repressão. Ele ainda comparou a atual crise vivida pelo país ao ‘Período Especial em Tempos de Paz’, que corresponde aos anos entre 1990 e 2005 e que foi marcado pela maior dificuldade econômica já enfrentada, desde a Revolução, em 1959.

O embaixador cubano ainda avaliou o bloqueio econômico e apontou as perspectivas de futuro da Ilha, que, apesar dos desafios, encontra-se, segundo ele, firme, unida e otimista. Leia a íntegra da entrevista:

Qual é o cenário desses protestos que estão acontecendo em Cuba? Tem a ver com o bloqueio?

Adolfo Castellanos – Agora, um grupo estava realmente desconforme com os cortes fundamentalmente de eletricidade no dia 17 de março e eles se manifestaram na parte oriental de Cuba com absoluta normalidade e em paz. Receberam uma explicação do problema: o problema real é que os cortes de eletricidade são motivados pela situação que ocasiona o bloqueio contra Cuba. O governo dos Estados Unidos confirmou a sua douleur morale [dor moral] a reclamar, a partir da sua embaixada em Cuba, que o governo cubano teria que atender a essas demandas.

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Nós consideramos isso, francamente, uma absoluta ingerência nos assuntos internos de Cuba, o que motivou que o encarregado de negócios da embaixada desse país fosse chamado e se celebrou um forte protesto e um rechaço por parte do povo e do governo cubano a essa manifestação ingerencista. Por quê? Porque eles provocam a situação com a persecução do combustível que vem para Cuba para gerar uma situação tensa e provocar a derrubada da Revolução. Então, a situação é normal. Uma situação ocorrida no dia 17 de março, que transcorreu em paz e em normalidade.

Autoridades de governo e do partido foram a explicar a situação de uma forma pacífica, sem nenhuma intervenção policial, nem repressão, nem nada disso. Nós acreditamos que a explicação fundamental é o bloqueio dos Estados Unidos. Então, há uma situação de normalidade em Cuba, em um momento tenso na economia, provocado fundamentalmente por esse acirramento da política de bloqueio, que não mudou durante o governo [do presidente] Biden e que aspira a derrubada da Revolução. Temos notado, de maneira consistente, que o povo está unido. Anteontem [quarta-feira, 20], o presidente foi ao mesmo lugar onde ocorreram os protestos e houve uma manifestação grande, esmagadora, de apoio à posição de nossa revolução.

Há quem diga que Cuba está vivendo o segundo Período Especial. Você concorda?

Adolfo Castellanos – É uma situação de tensão verdadeiramente econômica grande. Nós lembramos primeiro de que o governo de Donald Trump (EUA), que antecedeu ao governo de Biden, aplicou 243 novas medidas do bloqueio a Cuba. Segundo, que o governo Trump utilizou a pandemia como aliada para aumentar o efeito criminoso do bloqueio, e a pandemia causou um efeito no mundo todo e um efeito também muito importante em Cuba.

Nós perdemos as fontes de ingresso, porque o turismo desapareceu durante todo esse período, e o bloqueio aumentou. Uma parte importante das medidas de bloqueio está voltada a impedir a entrada de recursos em Cuba e também para perseguir todo o esforço de Cuba por comprar desde alimentos, medicamentos a combustíveis. Portanto, a afetação direta ao povo cubano é muito importante e muito grande. É verdade que é uma situação de muita tensão. Não compararia, mas acredito que a situação é muito mais difícil do que aquela que se viveu. Não gosto de fazer comparações porque, provavelmente, não teria todos os elementos, mas, em minha opinião, é muito mais difícil a situação de nosso país neste momento.

Qual a expectativa do partido e do governo em relação a esse cenário?

Adolfo Castellanos – Primeiro, acreditamos que vamos sair dessa situação que enfrentamentos, porque temos e contamos com a unidade do povo de Cuba, com o respaldo da Revolução, o que é mais importante.

Os intentos dos Estados Unidos sempre estão dirigidos a quebrar a unidade do povo cubano. Se nós mantemos a unidade, nós temos a principal condição para reverter a situação.

Segundo, trabalho constante de que alguns temas passam pela situação internacional. Por exemplo: a recuperação do turismo é um esforço que está ocorrendo, mas é paulatino, toma tempo.

A realidade do bloqueio afeta todos os aspectos da vida em nosso país. Agora, o plano é manter a unidade, resistir e ser criativos. Criativos para encontrar soluções práticas para os problemas cotidianos que enfrentamos e que nós, naturalmente, encontramos muita simpatia no mundo, com apoio internacional importante.

A ideia fundamental é sobrepor-se com um esforço próprio, trabalhar para resolver os problemas, pela segurança alimentar, aumentar a produção de alimentos, resolver os problemas que temos de matriz energética, que é dependente da importação de hidrocarbonetos, e fazer uma transição num momento difícil, mas que é necessário. Então, temos avanços importantes no âmbito científico, técnico. Vincular mais a ciência ao governo, à indústria e à economia como uma maneira de resolver os problemas e buscar soluções próprias também.

Quanto ao fim do bloqueio, há otimismo?

Adolfo Castellanos – O povo cubano e o governo cubano estão otimistas em relação à condição de que nós vamos enfrentar e sair vitoriosos dessa situação, mas eu não acredito que a perspectiva do fim do bloqueio é uma coisa que acontecerá no curto ou médio prazo.

É importante manter a luta contra o bloqueio, uma política criminosa, dirigida contra o povo de Cuba e contra a independência e a liberdade do povo cubano. É inaceitável consentir e conviver com isso, mas nosso otimismo tem a ver, sobretudo, com a crença firme de que nós podemos superar essa situação de dificuldade econômica com esforço combinado com a solidariedade internacional.