Indianos dão largada à maior eleição do mundo

Modi disputa o terceiro mandato, sob acusações de autoritarismo pela oposição. Mas ele precisa garantir uma ampla participação eleitoral que neutralize a aliança de oposição.

Eleitores indianos enfrentam filas gigantescas para votar nesta sexta-feira

A Índia testemunhou um movimento massivo às urnas na primeira fase das eleições gerais, um evento de proporções monumentais que reflete o vigor democrático do país e sua complexidade política. Enquanto o primeiro-ministro Narendra Modi busca um terceiro mandato, a votação é marcada por uma competição feroz entre o seu Partido Bharatiya Janata (BJP) e uma aliança diversificada de partidos de oposição.

Antes do fechamento das urnas nesta sexta-feira (19), a Comissão Eleitoral divulgou uma variada taxa de participação eleitoral, variando de 40% no vasto estado de Bihar, no norte, a 68% no pequeno estado de Tripura, no nordeste. Esta fase inaugural, que abrangeu 102 círculos eleitorais em 21 estados e territórios, é apenas o início de uma série de votações que se estenderão ao longo de seis semanas.

O apelo à participação eleitoral foi forte tanto do lado do BJP quanto da oposição. Modi, em suas redes sociais, instou os eleitores a votarem em números recordes, enquanto o principal partido de oposição, o Congresso Nacional Indiano, pediu aos eleitores que rejeitassem o “ódio e a injustiça”, com promessas de maior ação afirmativa e assistencialismo, enquanto destacam a necessidade de preservar as instituições democráticas.

A Índia, com cerca de 969 milhões de eleitores registrados, viu uma mistura de preocupações e esperanças influenciando as escolhas dos eleitores. Questões como emprego, inflação e bem-estar rural estão no centro do debate eleitoral, refletindo as preocupações cotidianas do povo indiano.

Utilizando urnas eletrônicas, os eleitores indianos expressaram suas escolhas, apertando o botão correspondente ao candidato de sua preferência ou optando pela opção “nenhuma das opções acima”. No entanto, o processo de votação não foi isento de incidentes. A votação em Manipur foi interrompida devido a alegações de irregularidades, enquanto um oficial de segurança paramilitar ficou ferido em uma explosão no estado de Chhattisgarh.

Os ataques às minorias, principalmente os muçulmanos, têm sido uma questão sensível desde a ascensão de Modi ao poder, enquanto controvérsias em torno da liberdade de expressão e de imprensa também influenciam o ambiente político.

Em meio a isso, o porta-voz do BJP, Mohan Krishna, expressou confiança na vitória do partido, destacando os esquemas de segurança social e um “governo sem corrupção” liderado por Modi como pontos fortes que proporcionaram satisfação e confiança ao povo indiano. Ele refutou veementemente as alegações de retrocesso democrático sob o governo do BJP, classificando-as como “absolutamente lixo”.

No entanto, há preocupações dentro do próprio BJP sobre a complacência entre os eleitores e membros do partido, destacando a necessidade de atrair mais pessoas para votar e garantir uma vitória convincente.

Enquanto isso, a oposição, liderada pela Aliança Nacional Indiana para o Desenvolvimento Inclusivo (ÍNDIA), criticou o BJP justamente pelo aumento do desemprego e da corrupção, enfatizando a necessidade de crescimento inclusivo e justiça social. No entanto, a aliança enfrenta desafios para forjar a unidade, acusando o governo de dificultar seus esforços.

Com as eleições se desdobrando em várias fases, o futuro político da Índia permanece incerto. Para muitos eleitores, as escolhas nas urnas refletem as esperanças e preocupações de uma nação complexa e diversificada. A próxima fase das eleições está marcada para 26 de abril, com o país observando de perto os desdobramentos desta jornada democrática.

Eleição de deepfakes e IA

No mundo cada vez mais digital da política indiana, a batalha pela atenção dos eleitores agora se estende ao reino dos memes e da inteligência artificial (IA). Em 20 de fevereiro, o Congresso Nacional Indiano (INC), principal partido de oposição, e o Partido Bharatiya Janata (BJP) levaram essa competição para o Instagram, lançando vídeos gerados por IA que rapidamente ganharam destaque.

O vídeo do INC, intitulado “Chor” (ladrão), apresentou um clipe de um novo álbum de música hindi, onde a imagem digital do primeiro-ministro Narendra Modi foi inserida. Com humor, a letra da música foi adaptada para descrever Modi como um ladrão, entregando os recursos do país para magnatas dos negócios indianos. Embora não hiper-realista, o vídeo aproveitou a tecnologia para enfatizar críticas sobre os laços estreitos de Modi com esses magnatas.

Por outro lado, o BJP compartilhou um vídeo que mostrava Modi fazendo campanha nas ruas, combinado com imagens reais dos beneficiários de suas políticas. O destaque foi a trilha sonora de fundo: uma antiga canção patriótica em hindi, recriada com uma voz de IA, que destacava as supostas conquistas de Modi ao longo dos anos.

Essa nova onda de conteúdo político gerado por IA marca um ponto de virada na maneira como os partidos políticos indianos se envolvem com os eleitores nas redes sociais, assim como uma mudança fundamental na forma como se consome mídia durante as campanhas políticas.

Tanto o INC quanto o BJP compartilharam várias instâncias de conteúdo alterado por IA em suas contas oficiais do Instagram desde 20 de fevereiro. Isso levanta questões sobre a transparência e a divulgação desses conteúdos, especialmente em um contexto político.

As atuais políticas da Meta exigem que os anunciantes divulguem quando usam anúncios políticos editados por IA, mas essas disposições não se aplicam a páginas e contas políticas. Sam Gregory, diretor executivo da organização sem fins lucrativos Witness, destaca a necessidade de transparência, especialmente em contextos políticos onde a capacidade de detectar o uso de IA é limitada e há riscos de fraude.

Enquanto isso, a Comissão Eleitoral da Índia ainda não respondeu a perguntas sobre diretrizes para partidos políticos que compartilham conteúdo alterado por IA. A preocupação com a manipulação da mídia digital para influenciar o eleitorado é real, especialmente em um país onde as redes sociais desempenham um papel cada vez mais importante na política.

Enquanto os partidos políticos exploram o potencial da IA para criar conteúdo envolvente e impactante, os especialistas alertam para a necessidade de regulamentações mais claras e uma divulgação transparente sobre o uso dessa tecnologia. À medida que a IA se torna mais sofisticada, é essencial garantir que os eleitores possam distinguir entre conteúdo genuíno e manipulado, especialmente em um contexto político onde a desinformação pode ter consequências significativas.

Autor