Vice de candidato inelegível ganha eleição à Presidência no Panamá

Panamenhos elegem candidatura que “rouba, mas faz”, nostálgicos pela economia pujante do governo Martinelli.

Mulino em foto de campanha

José Raúl Mulino, advogado e ex-ministro de Segurança, foi eleito presidente do Panamá em uma votação ocorrida no último domingo (5). Como um opositor ao governo atual, o conservador Mulino conquistou a preferência dos eleitores, com 34,35% dos votos, enquanto seu principal adversário, Ricardo Lombana, de centro-direita, obteve 25%. Não há segundo turno no Panamá.

Mulino, que liderava as pesquisas antes da votação, é considerado o herdeiro político do ex-presidente Ricardo Martinelli, cujo governo (2009-2014) foi marcado por prosperidade econômica, apesar das controvérsias. “Martinelli é Mulino e Mulino é Martinelli”, dizia o lema de campanha do candidato direitista.

Martinelli, atualmente refugiado na embaixada da Nicarágua desde fevereiro, foi desqualificado como candidato após ser condenado por lavagem de dinheiro, deixando Mulino como o candidato principal do partido Realizando Metas (RM), sucedendo-o na corrida eleitoral. Embora o candidato do governo tenha sido prejudicado por escândalo de corrupção no seu governo, Mulino está se elegendo sob o clima eleitoral de que Martineli “rouba, mas faz”.

Entretanto, a candidatura de Mulino enfrentou obstáculos legais, sendo validada pela Justiça apenas dois dias antes da votação. Seu nome havia sido inicialmente impugnado por não ter passado por primárias e por não ter um vice-presidente na chapa.

Mulino, formado em Direito e Ciência Política pela Universidade Santa María la Antigua do Panamá, é conhecido por sua atuação durante o governo de Martinelli, ocupando os cargos de Ministro da Segurança e de Governo e Justiça. Apesar de ter sido preso preventivamente em 2015 sob acusações de crimes contra a administração pública, o caso foi posteriormente anulado por erros processuais.

O novo presidente tem como proposta central impulsionar a geração de empregos por meio de projetos de infraestrutura e reduzir a migração pela selva do Darién, no Panamá. Ele diz que vai promover “um governo a favor do setor privado” e não participou de nenhum debate para não enfrentar acusações de corrupção do principal opositor. Ao reconhecer a derrota, Lombana avisou o novo presidente para “não se afastar da vontade popular, não se atrever a privatizar a educação, não usar métodos autoritários para reprimir o povo e não renegociar o polêmico contrato de mineração”.

A eleição deste domingo também contou com outros candidatos importantes, como Martín Torrijos, filho do ex-general e ditador Omar Torrijos, que negociou com os EUA o controle sobre o Canal do Panamá durante seu mandato presidencial (2004-2009), e José Gabriel Carrizo, atual vice-presidente do Panamá, que buscava um segundo mandato para seu partido, o Revolução Democrática.

Maribel Gordon, de 62 anos, compete de maneira independente e apresenta a única candidatura de esquerda da disputa eleitoral, com um programa apoiado pelos movimentos populares do Panamá. Ela aparece com menos de 5% das intenções de voto

O atual presidente, Laurentino Cortizo, enfrentou críticas pelo pagamento de bolsas para políticos e seus familiares, enquanto a economia do país, embora tenha crescido 7,3% em 2023, deve desacelerar para 2,5% este ano, afetada por questões como a seca no Canal do Panamá e o fechamento de uma mina de cobre após protestos ambientais em massa.

Com a conclusão da votação, José Raúl Mulino assume a presidência do Panamá em um momento desafiador, com promessas de promover o desenvolvimento econômico e social do país, enquanto enfrenta questões como a seca que afeta o Canal do Panamá e o fechamento de uma mina de cobre após protestos em defesa do meio ambiente.

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