Exército afasta militares que difundiram falsa informação em Canoas

Integrantes do Exército espalharam boato sobre rompimento de dique que alagaria região já afetada pelas enchentes, levando pânico a moradores

Inundação no bairro Mathias Velho, em Canoas. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Militares que informaram incorretamente a população do bairro Mathias Velho, em Canoas (RS), neste domingo (27), sobre o suposto rompimento de um dique em suas proximidades foram afastados pelo Exército. A comunicação causou pânico em moradores, já traumatizados pela destruição da cidade devido às enchentes que tomaram o estado desde o final de abril.

Os militares — que compõem a 14ª Brigada de Infantaria Motorizada e cujos nomes não foram divulgados — repassaram à população, sem ter checado a veracidade, a informação de que haveria o rompimento e que seria necessário evacuar o local. “Tal situação decorreu de um grave erro de procedimento”, disse o Exército por meio de nota divulgada pelo Comando Militar do Sul. 

Além disso, comunicou que “medidas administrativas foram adotadas para apurar rigorosamente os fatos. Os militares envolvidos foram afastados de suas atividades durante o processo de investigação”. O Exército também manifestou solidariedade “a todos os moradores erroneamente informados” do falso rompimento, pedindo desculpas pelo ocorrido. 

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Ainda não se sabe as circunstâncias que levaram os militares a disseminarem a falsa informação — se de fato foi uma falha de procedimento ou se pode ter havido uma divulgação proposital.

Trata-se, no entanto, de mais um capítulo da lamentável onda de fake news de que Rio Grande do Sul vem sendo vítima desde que as inundações tiveram início. 

Onda de mentiras

Diversas notícias falsas vêm circulando via grupos de aplicativos de mensagens e redes sociais, a maioria procurando descredibilizar as ações do Governo Federal, atribuindo apenas à própria população e a alguns empresários o socorro aos atingidos, além de dizer falsamente que o Estado como um todo não só não estaria ajudando como ainda estaria atrapalhando. Outras, procuram criar pânico na população com mentiras sobre o número de mortes e saques, entre outros. Boa parte desse tipo de desinformação tem sido difundida pela extrema-direita, inclusive parlamentares e gestores. 

À Agência Brasil, o coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Fábio Malini, disse que a quebra da normalidade, a desordem momentânea e as incertezas geradas por desastres proporcionam ambiente favorável para a disseminação das chamadas fake news, acrescentando que as redes sociais são terreno fértil para a desinformação.

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Pesquisa Quaest, divulgada no dia 12 de maio, mostrou que 31% dos entrevistados disseram ter recebido alguma fake news relacionada à tragédia do RS. Destes, 35% as receberam em grupos de WhatsApp; 24% de amigos e 11% de políticos. 

Outro levantamento feito há poucos dias pela Atlas/CNN mostrou que para 65,2% dos gaúchos, a disseminação de fake news atrapalha o gerenciamento da crise atual; outros 24,7% discordam. 

Para enfrentar tal situação, a Advocacia-Geral da União (AGU) fechou acordo com as principais plataformas de redes sociais para que as empresas tomem medidas efetivas contra conteúdos desinformativos sobre a tragédia. Postagens desse tipo também foram retiradas do ar no X, TikTok e Kwai, a pedido da AGU. 

Pouco depois de as enchentes iniciarem e, com elas, a divulgação de fake news, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República pediu ao Ministério da Justiça e Segurança Pública a abertura de investigação, a cargo da Polícia Federal. 

Com informações da Agência Brasil