Com 20% das urnas apuradas na África do Sul, CNA não alcança os 50%

Resultado é previsto para domingo (2), mas sinaliza perda de apoio na maioria das províncias, o que deve forçar o CNA a compor com outros partidos para manter a liderança do governo.

Participação de 66% dos eleitores sul-africanos é considerada inédita, pelo esforço que estão fazendo para votar, enfrentando longas filas.

Os resultados parciais das eleições nacionais na África do Sul indicam uma possível mudança histórica, com o Congresso Nacional Africano (CNA), que governa o país desde o fim do apartheid em 1994, recebendo menos de 50% dos votos pela primeira vez. Com cerca de 20% das urnas apuradas após a votação de quarta-feira, o CNA estava com 43% dos votos, levantando a possibilidade de perder sua maioria absoluta no Parlamento.

O processo de contagem ainda está em andamento, com a Comissão Eleitoral Independente (CEI) prevendo a entrega dos resultados finais até domingo (2). No entanto, é possível que os resultados sejam divulgados antes disso. Apesar disso, as projeções indicam que o CNA perdeu apoio nas nove províncias. Com isso, teria que compor com outros partidos para eleger o presidente.

A participação eleitoral foi projetada em 70%, acima dos 66% registrados nas eleições nacionais de 2019. Nas últimas eleições, o CNA obteve 57,5% dos votos, um desempenho descendente. A eleição atual é vista como um referendo sobre as três décadas de governo do CNA, que libertou a África do Sul do regime opressivo e racista do apartheid, mas que vem enfrentando uma queda em sua popularidade nos últimos 20 anos.

O desgaste é natural, conforme a história do apartheid se distancia das novas gerações, que cobram mudanças mais profundas e aceleradas num país que enfrenta dificuldades resultantes da alta desigualdade de riquezas, ainda concentradas nas mãos da minoria branca. A imprensa, assim como opositores e as redes sociais exploram o desgaste de escândalos envolvendo lideranças históricas do CNA, que partem para carreiras políticas independentes. A disseminação das fake news também contribui para os ataques ao governo. O partido tenta sobreviver sublinhando suas conquistas e avanços sociais no governo, que parecem não impressionar mais as maiorias, conforme aumenta a inflação, o desemprego e a violência.

As longas filas de eleitores nas grandes cidades como Joanesburgo e Cidade do Cabo, que se estenderam até tarde da noite, refletiram a determinação dos sul-africanos em participar deste processo crucial. A elevada participação eleitoral e a espera nas filas até de madrugada sugerem que muitos cidadãos entendem a importância desta eleição para o futuro da nação.

O presidente Cyril Ramaphosa votando:

Os desafios do CNA

O presidente sul-africano e líder do CNA, Cyril Ramaphosa, expressou confiança após a votação de quarta-feira, afirmando que ainda espera uma “maioria firme”. Nomvula Mokonyane, secretária-geral adjunta do partido, manteve o otimismo em uma entrevista. No entanto, a oposição está fragmentada entre diversos partidos, o que ainda pode resultar no ANC sendo o maior partido, mas necessitando de uma coalizão para manter o governo.

De qualquer forma, analistas avaliam que os primeiros resultados indicam uma “grande mudança na política sul-africana”. A perda da maioria absoluta pelo CNA significaria a necessidade de formar coalizões, algo sem precedentes desde a chegada do partido ao poder com Nelson Mandela.

Os resultados parciais colocam o principal partido de oposição, a Aliança Democrática, com cerca de 25% dos votos, e os Combatentes pela Liberdade Econômica com cerca de 8%. O novo Partido MK, formado pelo ex-presidente Jacob Zuma, também mostrou um impacto significativo, emergindo como a quarta maior força nas contagens iniciais.

O partido uMkhonto weSizwe (MK) de Zuma provavelmente se tornará o maior partido em KwaZulu-Natal. Esta não seria a primeira vez que KwaZulu-Natal escaparia das mãos do CNA. Em 1994 e 1999, o IFP conseguiu obter o maior número de votos na província e ocupou o cargo de primeiro-ministro por duas administrações. O CNA conseguiu conquistar o eleitorado a partir de 2004, quando Zuma era um líder influente na província e vice-presidente do partido.

Com quase 15% dos votos provinciais e 12,16% dos votos regionais contados em Gauteng, o CNA está lutando para atingir a marca dos 40%. De acordo com as projeções, o CNA deverá perder o controle de Gauteng, seu maior reduto, com o partido atingindo 37,98%. O DA estava em 27,78%, com o Partido EFF e MK lutando pela posição de terceiro maior partido na província. 

Às 13h, o Partido uMkhonto weSizwe (MK) tinha 10,24% e o EFF estava com 10,9%. A filha do ex-presidente Jacob Zuma, Duduzile Zuma-Sambudla, descartou uma coligação com o CNA, uma vez que o Partido MK teve um impressionante desempenho em KwaZulu-Natal. Ela disse que o seu pai indicou que estava aberto a trabalhar com “partidos negros progressistas”. Ela disse que não incluía o ANC, liderado pelo Presidente Cyril Ramaphosa, mas que havia a possibilidade de trabalhar com a EFF.

A África do Sul, embora seja a economia mais avançada do continente africano, enfrenta enormes desafios, incluindo desigualdade profunda, altas taxas de desemprego e uma elevada incidência de crimes violentos. Essas questões, juntamente com escândalos de corrupção e problemas com serviços governamentais básicos, foram apontadas pelos eleitores como principais preocupações.

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