Coalizão na África do Sul governa com divergências sobre Israel e Palestina

Enquanto o CNA mantém seu apoio à Palestina, o consenso interno pode forçar compromissos, impactando a liderança do país nos esforços para responsabilizar Israel pelos ataques a Gaza

Pessoas participam da Caminhada Livre da Família Palestina em Durban, África do Sul

Em janeiro deste ano, a África do Sul, liderada pelo Congresso Nacional Africano (CNA), levou Israel ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) por alegações de genocídio em Gaza. A ação atraiu aplausos de várias nações do Sul Global, mas encontrou apoio mais discreto entre os partidos políticos do país. A Aliança Democrática (AD), principal rival do CNA e de tendência direitista, opôs-se inicialmente à medida, enquanto a populista Aliança Patriótica (AP) classificou a ação como uma “piada”.

Cinco meses depois, o cenário político da África do Sul mudou com a formação de um governo de coalizão. O CNA, que ficou aquém da maioria nas eleições de maio, formou uma aliança com a AD, a AP e o Partido da Liberdade Inkatha (PLI). Essa nova configuração levanta preocupações sobre possíveis mudanças na política externa do país em relação a Israel e Palestina.

Compromissos necessários

Embora o CNA insista que não mudará sua postura de apoio à Palestina, analistas acreditam que a coalizão pode levar a compromissos internos. Durante meses, a África do Sul esteve na linha de frente dos esforços globais para responsabilizar Israel pelos ataques a Gaza, que resultaram na morte de mais de 37 mil pessoas. Agora, a necessidade de consenso dentro da coligação pode alterar a abordagem do país.

A AD e a PLI procuraram manter uma postura neutra em relação ao conflito, enquanto a AP manifestou apoio a Israel. O acordo de coligação inclui uma cláusula sobre política externa, baseando-se em direitos humanos, constitucionalismo, interesse nacional, solidariedade e resolução pacífica de conflitos.

Reações e declarações

O secretário-geral do CNA, Fikile Mbalula, afirmou que a política externa do partido não mudará, classificando as sugestões de um possível recuo como “enganosas e populistas”. Ele enfatizou que o apoio à Palestina não foi uma posição eleitoral, mas uma solidariedade histórica profundamente enraizada na luta do país contra o apartheid.

A AD, que inicialmente apoiou Israel, adotou uma postura mais moderada, apelando à paz. Durante o período eleitoral, o CNA criticou a AD por sua posição sobre a guerra na Ucrânia, acusando-a de ter padrões duplos ao não apoiar a Palestina da mesma forma.

Impacto no TIJ e futuro da política externa

A presença de Israel na cúpula de paz global do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy na Suíça, onde a África do Sul rejeitou o comunicado final devido à participação israelense, destacou as tensões internas sobre a questão. Sydney Mufamadi, conselheiro de segurança nacional, criticou a presença de Israel, citando descobertas recentes da ONU sobre crimes de guerra.

Especialistas avaliam que o CNA terá de comprometer suas ações governamentais, possivelmente revertendo para uma posição mais neutra. O caso da África do Sul no TIJ, que acusa Israel de genocídio, pode ser afetado pela coligação, que requer consenso suficiente para tomar decisões.

A nova coligação governamental da África do Sul representa um desafio significativo para a continuidade da política externa do CNA em relação a Israel e Palestina. Enquanto o partido insiste em manter sua posição de apoio à Palestina, a necessidade de consenso interno pode forçar compromissos, impactando a liderança do país nos esforços globais para responsabilizar Israel pelos ataques a Gaza. O futuro da política externa sul-africana dependerá da capacidade do CNA de navegar as complexas dinâmicas da coligação governamental.

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