Pânico democrata eleva dúvidas sobre Biden após debate

Cúpula da campanha afasta rumores sobre desistência, mas desempenho em debate assusta eleitores e doadores. Trump vence debate com sucessão de mentiras e sem fact-check de CNN

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O primeiro e talvez único debate presidencial da eleição de 2024 nos EUA terminou, nesta quinta (27), como um sonho para os republicanos e um pesadelo para os democratas. Em Atlanta, o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o ex-presidente Donald Trump estiveram frente a frente por 90 minutos pela primeira vez em 4 anos.

Rouco e hesitante, Biden não conseguiu conter as mentiras de Trump que, de forma calma e assertiva, viu seu oponente reagir a elas de queixo caído e aparência congelada, expressando derrota e falta de entusiasmo.

Trump venceu o debate não por qualquer virtuosidade, mas porque talvez os piores receios dos apoiadores de Biden sejam reais: o presidente não tem condições de convencer indecisos, independentes e republicanos anti-Trump a sair de casa para votar pela reeleição.

Prova disso, foram as trocas de mensagens vazadas para a imprensa durante o debate. “Ele parecia um pouco desorientado. Ele ficou mais forte à medida que o debate prosseguia. Mas, a essa altura, acho que o pânico já havia se instalado”, disse David Axelrod, antigo agente democrata e comentarista político sênior da CNN.

Ao todo, foram 11 pautas que orbitaram o debate: imigração, economia, política externa, guerra na Ucrânia, 6 de Janeiro, aborto, gastos militares, planos de saúde, integridade das eleições, seguro social e as condições eleitorais dos candidatos.

O debate começou com uma pergunta para Biden sobre a inflação. O presidente, com a voz rouca por causa de uma gripe, respondeu destacando melhorias nos dados econômicos durante seu mandato. “Você precisa ver o que eu herdei quando me tornei presidente” — tossiu — “o que o Sr. Trump deixou para mim”, disse.

O republicano rebateu criticando Biden por ter “jogado dinheiro fora” e culpou-o pelo aumento da inflação nos EUA. Biden disse que não havia inflação durante a administração republicana porque a economia estava “estagnada”.

Em diversos momentos, Trump criticou diretamente Biden, descrevendo-o como “fraco” e pouco respeitado por líderes globais que “riam” dele. Voltou a afirmar que os conflitos na Ucrânia e entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza não aconteceriam sob sua gestão.

Outro tema que se destacou foi a gestão de Joe Biden na fronteira. Trump desfilou seu show de horror de extrema-direita e mencionou, com frequência, a questão da imigração ilegal, afirmando que o presidente estava permitindo a entrada de “terroristas” e “criminosos”, além de sugerir que a economia não está prosperando por causa do suposto roubo de empregos por imigrantes.

Em seguida, o debate se voltou para a invasão do Capitólio em Washington em 6 de janeiro de 2021. Questionado sobre o ataque, Trump deu uma resposta claramente ensaiada, falando que na data “tínhamos uma fronteira excelente, os menores impostos, éramos respeitados no mundo”.

Pressionado pelo apresentador Jake Tapper, Trump disse que não incentivou a invasão, que havia afirmado a seus apoiadores agirem pacificamente, e culpou a ex-presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, e a prefeitura democrata de Washington.

Outro ponto vulnerável para Trump, sua condenação na Justiça no caso em que foi acusado de fraude financeira para pagar uma atriz pornô, apareceu logo antes do primeiro intervalo, quando Biden relembrou o caso e disse que o republicano teve relações sexuais com Stormy Daniels enquanto era casado. Trump respondeu de forma categórica: “Eu nunca transei com uma estrela pornô”.

O republicano repetiu o discurso que tem feito há meses, de que as 34 acusações, pelas quais foi condenado, não procedem e que o processo é fruto de uma suposta perseguição política que sofreria de democratas.

Minutos após o início do confronto, democratas entraram em pânico total com a ideia de avançar para as eleições com uma figura tão diminuída como cabeça de chapa.

Sem meias palavras, Joe Biden precisava provar no debate que não está caduco ou doente e desenhar para os eleitores americanos que seu adversário é uma ameaça à democracia. Falhou miseravelmente nas duas tarefas.

Amigo do presidente há mais de duas décadas, o colunista Thomas Friedman, do “New York Times”, contou que sentiu tristeza e chorou ao atestar que Joe Biden, “um bom homem e um bom presidente”, não deve seguir adiante com a candidatura à reeleição.

“Se esse for o melhor desempenho que poderiam conseguir dele, é hora de Joe manter a dignidade que merece e deixar o palco no fim deste mandato. Se o fizer, os americanos comuns saudarão Joe Biden por fazer o que Donald Trump nunca faria – colocar o país antes de si mesmo.”

O debate deixou claro que os democratas têm um grave problema para administrar antes da convenção de agosto, se quiserem vencer a eleição em novembro, proteger o país da ameaça de ruptura democrática e proteger os valores democráticos tão defendidos pelo atual presidente.

Um levantamento feito pela CNN, logo após o debate, apontou que 67% dos telespectadores entenderam que Trump foi melhor, enquanto 33% avaliaram o desempenho de Biden como melhor. Antes do debate, os mesmos eleitores disseram — 55% a 45% — que esperavam que o republicano tivesse um desempenho melhor do que o democrata.

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