Lula defende investimento histórico da Petrobras na retomada da indústria naval
O evento marcou o lançamento de um pacote de investimentos de R$ 23 bilhões para renovar a frota da Petrobras e reativar estaleiros, com previsão de gerar 44 mil empregos até 2029.
Publicado 17/02/2025 16:00 | Editado 19/02/2025 08:36

A cerimônia realizada na manhã desta segunda (17) em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, foi histórica para o futuro da indústria naval do Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado por ministros e autoridades, discursou sobre a relevância dos investimentos da Petrobras e Transpetro, destacando o impacto transformador na economia, geração de empregos e soberania nacional. As palavras do presidente combinaram momentos de reflexão histórica, críticas ao passado e uma forte determinação em consolidar o fortalecimento do Brasil.
O presidente reafirmou o compromisso do governo com a soberania nacional e o fortalecimento da Petrobras durante cerimônia no terminal da Transpetro – a maior empresa de logística de petróleo, derivados e biocombustíveis da América Latina. O evento, que reuniu autoridades, trabalhadores e líderes da indústria naval, marcou o lançamento de um pacote de investimentos de R$ 23 bilhões para renovar a frota da Petrobras e reativar estaleiros, com previsão de gerar 44 mil empregos até 2029.
Ataque à Lava-Jato e ao preço dos combustíveis
Além do discurso protocolar, Lula foi contundente ao afirmar que “a extrema-direita ganhou a batalha contra o papel do Estado” e convocou aliados e apoiadores a “defender com mais coragem aquilo que a gente acredita”. Em meio a anúncios de investimentos na indústria naval e à ampliação da frota offshore, Lula também lançou críticas duras à Operação Lava-Jato e à possibilidade de nova privatização da Petrobras.
Lula criticou a Operação Lava-Jato, qualificando-a de “caça-níquel contra todos os que defendiam a Petrobras”. Segundo o presidente, a Lava-Jato foi utilizada para tentar destruir a imagem da estatal e desestimular investimentos nacionais. “Vão tentar privatizar a Petrobras quantas vezes o povo votar errado”, declarou, alertando que o futuro da empresa – e, por consequência, o desenvolvimento do país – depende da postura dos eleitores e da defesa intransigente do papel do Estado.
Lula também defendeu a venda direta de combustíveis para grandes consumidores, como forma de baratear os preços praticados nas bombas. “O povo está sendo assaltado pelo intermediário”, afirmou, explicando que o preço da gasolina, por exemplo, sai da Petrobras a R$ 3,04, mas é vendido ao consumidor final por valores que podem chegar a R$ 6,49 – impacto em grande parte decorrente de impostos e margens de lucro dos distribuidores.
Lula também destacou que “o povo não tem as informações necessárias para que possa fazer juízo de valor”. Ele explicou que, embora os combustíveis saiam da Petrobras a preços baixos, a liberdade dos estados para definir o ICMS e a margem dos intermediários elevam o preço final, “assaltando” o consumidor.
Além disso, o presidente ressaltou a necessidade de nacionalizar os fornecedores e priorizar equipamentos fabricados no Brasil, fortalecendo a cadeia produtiva e promovendo o aprendizado tecnológico que gera empregos e desenvolvimento.
Ao longo de seu pronunciamento, Lula convocou todos os brasileiros a defenderem a soberania nacional e a importância do Estado na promoção do desenvolvimento social e econômico. “O Brasil é dos brasileiros e nós não vamos aceitar que a extrema-direita desmonte o papel do Estado”, afirmou, enfatizando que o futuro do país depende do compromisso com as políticas públicas que valorizem o investimento nacional.
Sobre ousadia e resistência soberana

Lula iniciou seu pronunciamento relembrando as origens da Petrobras, criada em 1953 em meio a céticos que duvidavam da capacidade brasileira de explorar petróleo. O presidente destacou que a Petrobras nasceu “natimorta” – ou seja, em meio à intensa oposição daqueles que acreditavam que o Brasil não tinha condições de produzir petróleo e que bastava importar, principalmente dos Estados Unidos. “A Petrobras nasceu natimorta para alguns, mas sobreviveu pelo orgulho de ser brasileira”, afirmou, criticando as tentativas de desmonte e privatização do passado.
Lula apontou que havia um complexo de “vira-lata” entre os opositores e que, naquele momento, muitos acreditavam que não seria possível fazer o Brasil forte sem depender do exterior. Mas ele afirmou que, com persistência, a Petrobras se fundou com uma visão de que “o Brasil precisaria desenvolver-se com o controle de seu próprio petróleo”.
Ele também explicou que durante os altos e baixos da Petrobras, houve tentativas de fragmentação e privatização da empresa, mas a perseverança ressurge a cada administrações sucessivas. “A Petrobras não existe apenas para dar lucros, mas para fortalecer o Brasil. O que foi um problema antes, hoje é um imenso potencial de crescimento”, declarou o presidente Lula.
Defesa do investimento e da indústria nacional
O presidente enfatizou que, ao longo dos anos, sempre houve debates sobre a viabilidade dos investimentos em tecnologia, engenharia e fabricação de equipamentos nacionalmente. Lula criticou a lógica que defendia a compra de navios e plataformas mais baratos no exterior, questionando: “Quanto custa para o país investir em conhecimento, em emprego e em desenvolvimento? Quanto custa para o povo brasileiro ter sua indústria fortalecida?”
Para ele, a Petrobras não existe apenas para gerar lucros e pagar dividendos, mas para contribuir com o desenvolvimento econômico, a geração de empregos e a soberania nacional. Ele rememorou as dificuldades enfrentadas – inclusive as críticas injustas durante a Operação Lava Jato –, que foram usadas para tentar destruir a imagem da empresa e, por extensão, a própria indústria de engenharia nacional.
Relembrando sua trajetória e as dificuldades que enfrentou para recuperar a indústria naval, Lula compartilhou como, durante seu mandato, foi possível transformar a realidade dos trabalhadores – de ex-metalúrgicos desempregados nas áreas portuárias a profissionais que hoje compõem um setor robusto, com estaleiros em diversas regiões do país. “Quanto mais forte for a Petrobras, mais forte será o Brasil”, conclamou, ressaltando que os investimentos em navios, sondas e plataformas não são apenas despesas empresariais, mas investimentos essenciais para o futuro do país.
Investimentos que transformam a costa brasileira
O plano anunciado inclui a construção de 44 novas embarcações, entre navios gazeiros, plataformas e embarcações de apoio, com foco no transporte de gás (GLP) e amônia. Destaque para a licitação de oito navios gazeiros, que ampliarão a capacidade logística da Transpetro e devem empregar diretamente 10 mil trabalhadores.
Magda apresentou os avanços e os desafios da companhia. Ela ressaltou o papel da Petrobras na condução de uma transição energética justa e anunciou o lançamento da segunda licitação do programa de renovação e ampliação da frota. Com investimentos previstos de 111 bilhões de dólares para o quinquênio 2025-2029, a empresa projeta a operação de dez plataformas e a contratação de 26 plataformas e 44 embarcações – medidas que devem gerar mais de 87 mil novos empregos e dinamizar a cadeia de suprimentos nacional.
O presidente da Transpetro, Sérgio Bassi, destacou a importância do Programa de Renovação e Ampliação da Frota do Sistema Petrobras, que já conta com a contratação de quatro embarcações da classe Heng e a licitação de mais oito navios, com previsão de ampliar esse número para 13 embarcações até o próximo ano.
Com encomendas que ultrapassam R$ 23 bilhões, o programa não só moderniza a frota, mas também gera milhares de empregos diretos e indiretos, beneficiando estaleiros e fomentando o crescimento regional.
Sérgio Bassi ressaltou as políticas públicas que estão revitalizando a indústria naval, como a aceleração dos investimentos, a reativação da linha do Fundo da Marinha Mercante e a ampliação do conteúdo local. Tais medidas, comparáveis às adotadas por países como China, Estados Unidos, Noruega, Japão e Coreia do Sul, demonstram o compromisso do governo Lula com a retomada e o fortalecimento de um setor estratégico para o desenvolvimento nacional.
A reconstrução do presente
Representantes dos trabalhadores e sindicatos, Rosângela Busanelli, do Conselho de Administração da Petrobras, e o Coordenador-Geral da Frente Única dos Petroleiros, David Bacelar, destacaram que a retomada dos investimentos já recuperou milhares de empregos e que a continuidade das políticas públicas é fundamental para o crescimento econômico e a soberania do país. “Defender a Petrobras é defender o Brasil”, declararam, enfatizando que a luta pela reconstrução do setor é uma missão coletiva.
Eles não pouparam críticas aos anos de desmonte. Rosângela citou a Operação Lava Jato e a política de “entreguismo” como responsáveis por “dilacerar a indústria nacional”. Já o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, lembrou que o setor naval empregava 75 mil pessoas em 2014, número que despencou após crises políticas. “Estamos revertendo essa tragédia com 7 mil empregos já recuperados e uma meta ousada: fazer do Brasil potência naval novamente”, afirmou.
O vice-presidente Geraldo Alckmin destacou medidas como a depreciação acelerada (R$ 1,6 bilhão em incentivos em 2024) e linhas de crédito a juros reduzidos para inovação. Protocolos assinados durante o evento preveem o reaproveitamento de 10 plataformas em desmobilização, integrando sustentabilidade e redução de custos. “Transformar plataformas antigas em ativos é sinônimo de inteligência industrial”, explicou Chambriard.
Um futuro escrito a bordo
Para Lula, a cerimônia simboliza mais que números: “Cada navio construído aqui é um passo para deixarmos de ser colônia”. O presidente encerrou conclamando união: “Petroleiros de macacão laranja são a cara do Brasil que trabalha. Eles provam que, quando investimos no nosso povo, não há crise que nos derrube”.
A cerimônia realizada em Angra dos Reis marcou um novo capítulo na trajetória da Petrobras e na retomada da indústria naval e offshore brasileira. Com a assinatura de protocolos para o reaproveitamento de plataformas e a abertura do processo licitatório para a contratação de oito navios gazeiros – ações que deverão gerar 44 mil novos postos de trabalho e modernizar a logística do setor – o governo Lula reafirma seu compromisso com a geração de emprego, o desenvolvimento tecnológico e a soberania nacional.
Com a costa de 7.367 km como pano de fundo, o evento reforçou a aposta do governo em transformar o mar em motor de desenvolvimento — e a Petrobras, em símbolo de um projeto nacional que busca reescrever sua história a partir dos estaleiros.
